Não será excessivo afirmar que, de um modo geral, as novas gerações encontram-se hoje mais despertas para o mundo que as rodeia e demostram um interesse natural por questões fundamentais da vida em sociedade. O tema das alterações climáticas, do impacto da descarbonização e a necessidade urgente da defesa dos ecossistemas e sua diversidade tomam a dianteira neste quadro de preocupações. O combate efetivo à poluição faz-se com o reconhecimento generalizado das vantagens em substituir as energias fósseis pelas renováveis, sendo este um pressuposto consolidado que, atualmente, não suscita contestação.

Com o exemplo de Greta Thunberg à cabeça, esta nova geração assume como sua a responsabilidade de alertar o mundo para o caminho da deterioração ambiental e da destruição dos ecossistemas que se foi estreitando ao longo das últimas décadas em direção ao abismo.

Boas notícias, portanto, quando jovens com 15, 16 e 17 anos se mobilizam e nos convocam à responsabilidade de alterar comportamentos, reajustar modelos e corrigir rotinas de consumo.

Circunstância bem diferente é, porém, aquela a que temos vindo a assistir nas últimas semanas um pouco por toda a Europa e mais recentemente também em Portugal, onde, sob o manto da mobilização ativista, surgem apelos de quase insurreição coletiva e de desrespeito por regras basilares de urbanidade e de cultura democrática. Por entre gritos estridentes e proclamações mais ou menos estéreis, dá-se a conhecer uma narrativa que visa o descrédito das instituições e o ataque à economia de mercado. O que resta para além da destruição de património e do fecho compulsivo de estabelecimentos de ensino, é o vazio programático e a total ausência de um caderno de encargos consistente.

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A linha que distingue este tipo de “ativismo” da radicalização e do extremismo é cada vez mais ténue.

Este “ativismo”, revestido de irresponsabilidade e polvilhado de intolerância, resvala para as margens da mais completa inconsequência. O ativismo, que se move por causas e princípios, quer-se mobilizador da sociedade civil, das instituições, das empresas e dos decisores públicos em torno de uma agenda verdadeiramente transformadora. Este, quando desvirtuado, transforma-se num somatório de vacuidades que visam unicamente menorizar, ofender ou atacar quem pensa de forma diferente. É um tipo de “ativismo” politicamente orquestrado, que não acrescenta rigorosamente nada às causas que, supostamente, se propõe defender, sublinhando a ausência de pensamento critico de quem lhe dá voz.

Incidentes como os que ocorreram na Royal Academy of Arts e no National Gallery, em Londres, onde “ativistas” do Just Stop Oil decidiram colar-se à “A Última Ceia” de Leonardo da Vinci e vandalizar o quadro “Girassóis” de Van Gogh, ou em Berlim, com a tentativa de destruição de um quadro de Monet, só vêm confirmar que a metodologia e a agressividade colocada nestas ações reivindicativas têm como consequência óbvia a repulsa dos cidadãos e o afastamento destes do debate que verdadeiramente conta.

A agenda do combate às alterações climáticas, a reflexão sobre a crise migratória e os direitos das minorias são temas demasiadamente relevantes para serem capturados e destratados por uma agenda obsessiva própria da esquerda woke.

Percebe-se e aceita-se a impaciência de jovens ativistas, porventura descrentes e cansados de promessas, que se veem diante da eventual irreversibilidade do estado de destruição do planeta. Ainda assim, não é com a devassa de património público, a invasão de museus e o encerramento de escolas a cadeado que conseguirão avanços efetivos para as causas que alegadamente defendem. Uma agenda progressista pressupõe o respeito pela diversidade de opiniões, consistência programática e alinhamento entre princípios e ações. O ativismo que assenta unicamente na gritaria tem inapelavelmente como fim a absoluta inconsequência.