A caminharmos para uma crise de dimensões ainda desconhecidas, gostava de ter confiança numa estrutura política mais eficaz, transparente e ética. Explico.

Portugal foi um dos trinta e dois países participantes num estudo mundial que tem como objectivo avaliar de que forma as elites económicas e políticas de um país contribuem para o seu desenvolvimento (para melhor compreensão, ver Casas, T. & Cozzi, G. (2020). Elite Quality Report 2020: 32 Country Scores and Global Rank. Zurich: Seismo. doi: 10.33058/seismo.30750). A criação de um Índice de Qualidade das Elites permite uma comparação entre diferentes países mundiais, e a análise global ou separada dos dois tipos de agregados, o político e o económico, cruzando-os com indicadores de valor e poder. Globalmente, o nosso país ocupa o meio da tabela mundial, acima da França, Itália ou Espanha.

Quando a análise é feita em separado, o valor gerado pela elite económica faz com que Portugal suba na classificação mundial, 10.º lugar. Já quando a elite política é analisada, o valor gerado atira Portugal para posições mais baixas, para o 25.º lugar. Os mecanismos de controlo da gestão dos recursos financeiros, sociais, humanos e científicos, desenvolvidos pelas entidades de topo, podem criar mais riqueza ou, pelo contrário, extrair o máximo desses recursos, empobrecendo-nos. Se pensarmos que esta é a primeira medida do género, os resultados são concordantes com a nossa avaliação empírica: há algumas décadas que o poder político extrai mais do que contribui para a riqueza nacional.

A corrupção e a impunidade, alicerçadas no poder político e nas suas clientelas, corroem a confiança política nas instituições, base de uma sociedade democrática. O sentido comunitário perde-se. Os discursos extremistas, perversamente justificados pelas crises de valores, proliferam em torno de propostas radicais que promovem a perda de direitos fundamentais.

Pensar um país exige colocar-se ao seu serviço. E ao serviço do bem comum. Exige a coragem e a disponibilidade que encontrei na “Visão Estratégica para o Futuro de Portugal e da Europa: Uma Sociedade Ética”. Um documento em processo, uma reflexão aberta ao contributo dos leitores, da autoria de Susana Coroado, Joana Gonçalves de Sá, Susana Peralta e Júlia Seixas. Uma aula de cidadania.

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