No passado fim-de-semana assistimos a mais um Congresso do PCP, do qual confesso não assisti a nada. O interesse jornalístico sobre tudo o que envolve os comunistas é enorme, contudo a sua relevância é felizmente cada vez menor. As últimas batalhas do PCP têm tido derrota atrás de derrota, sendo previsível que a luta comunista em Portugal esteja a chegar ao fim.
Um PCP que tem vindo a perder as últimas batalhas Legislativas
No meu livro, Legislativas 2024 – Os Factos Só Visíveis à Lupa, mostrei com dados a lenta caminhada para a extinção com que o PCP se depara. A sua última batalha eleitoral, as legislativas deste ano deixaram o partido ligado às máquinas.
Votantes e Deputados Eleitos em Legislativas pela CDU, desde 2022
Desde a rutura da geringonça, o PCP parece caminhar para um lento desaparecimento. A zona envolvente de Lisboa, Setúbal e Alentejo são a base que vai esticando a sua sobrevivência. Como nesta região se encontram dois dos maiores círculos eleitorais, Lisboa com 48 deputados e Setúbal com 19 deputados, é provável que o PCP se vá mantendo no parlamento durante mais alguns anos.
No Porto, o seu deputado foi o 36.º eleito (em 40 deputados), ficando a apenas cerca de 2 200 votos do patamar de não eleição. Tendo em conta a perda de praticamente seis mil votos face a 2022, numa próxima eleição a CDU pode ficar reduzida a apenas dois círculos eleitorais, perdendo o deputado pelo Porto.
O Ponto de partida destas autárquicas?
A CDU detém 19 câmaras, geralmente localizadas a Sul do Tejo (sete no distrito de Setúbal; quatro no distrito de Beja; três no distrito de Évora; duas no distrito de Portalegre; um nos distritos de Faro, Lisboa e Santarém). O Distrito com maior relevância é Setúbal, onde a CDU governa 7 dos 13 concelhos. Dessas autarquias, só Santiago do Cacém parece completamente a salvo de ser perdida para o PS nas próximas eleições.
Câmaras como Sesimbra e Grândola estão praticamente perdidas, fruto da tendência de decréscimo de votos dos comunistas. O diferencial entre CDU e PS nestes dois concelhos passou de 14p.p. e 12p.p. em 2017, para apenas 3p.p. em 2021, o que coloca a vitória do PS em próximas eleições como o mais provável. De facto, o eleitorado do PCP vai morrendo e isso até já no número de militantes se notou neste congresso.
As restantes quatro câmaras comunistas em Setúbal também terão eleições equilibradas com o PS, mas a derrota da CDU não parece ser tão evidente. As diferenças situam-se entre os 5p.p. em Alcácer do Sal, os 7p.p. em Setúbal e Seixal e os 8p.p. em Palmela, o que indica que serão eleições equilibradas, mas a CDU deve ser capaz de manter algumas.
Nas outras 12 câmaras comunistas existem também algumas disputas acesas, como a muito difícil manutenção de Évora, a única capital de distrito ainda em mãos comunistas. Os distritos mais seguros serão Portalegre, em que Avis e Monforte são dois bastiões difíceis de derrubar, e Beja, onde a recentemente recuperada câmara de Barrancos será a mais difícil de manter.
Tanto em Benavente como em Silves, o facto de o Chega entrar nas contas pode ser benéfico para a manutenção destas autarquias pela CDU, visto que com eleições a passarem a ser disputadas de três para quatro partidos é normal que o incumbente saia favorecido da maior divisão de votos entre os candidatos.
A ajuda na batalha eleitoral de Moedas
O grande adversário político da CDU nestas autárquicas será o PS, visto que geralmente as câmaras perdidas pelos comunistas acabam em mãos socialistas. Por isso mesmo, apoiar uma grande coligação de esquerda em Lisboa não é opção para o PCP. Colar-se ao grande adversário, no local mais mediático do país, levaria a que fosse mais difícil conseguir marcar a diferença para o PS nas várias disputas em locais menos mediáticos.
Este será um grande trunfo de Carlos Moedas em 2025. Isto porque, o PCP valeu mais de 10% dos votos nas últimas autárquicas na capital, elegendo 2 vereadores. Não incorporar uma grande coligação de esquerda contribuirá decisivamente para a difícil reeleição de Moedas.
Em 1989, Jorge Sampaio, conseguiu unir vários partidos de esquerda, incluindo o PCP, formando a chamada frente de esquerda. Esta coligação foi bem-sucedida, e Sampaio liderou a autarquia da capital até 1995, quando se candidatou e foi eleito Presidente da República. Pelos vistos, e mesmo com imensa pressão dos seus parceiros à esquerda, o PCP optará pela acertada decisão estratégica de ir sozinho a jogo, sacrificando Lisboa pela esperança de segurar outras câmaras mais a Sul.
Será esta a última batalha?
O facto de ter 11 Presidentes que terão de sair por limitação de mandatos torna a vida ainda mais difícil ao PCP. As autárquicas 2025 serão certamente mais um prego no caixão dos comunistas nacionais, fazendo com que a capacidade de ação fique cada vez mais limitada aos sindicatos.
10 das 19 câmaras governadas pela CDU correm um risco elevado de serem perdidas nas próximas eleições. A força autárquica da CDU poderá ser reduzida para metade, o que será um duro revés, mas permitirá aguentar mais alguns anos como partido com presença relevante no poder local.
Será interessante perceber se o PCP conseguirá manter-se como o terceiro partido autárquico ou se o Chega será capaz de ocupar esse lugar. Mas a verdadeira questão é se em 2029 o PCP conseguirá ainda governar alguma autarquia.
Com envelhecimento e subsequente desaparecimento do seu eleitorado, tudo aponta para que seja por aí que seja perdida a última batalha dos comunistas nacionais.