16 de dezembro de 2024, meia noite e meia, bitcoin atingiu o valor recorde de 100 mil euros por unidade. Fiquei a acompanhar a olhar para o gráfico, mesmerizado, testemunhando este momento histórico em tempo real.
A 9 de Abril de 2019 escrevi aqui: “O Estado português deve neste momento comprar cem mil bitcoins ao preço de até 5000 euros cada, gastando 500 milhões de euros, e vendendo nos próximos anos quando bitcoin chegar a cem mil euros cada, fazendo 10 mil milhões de euros, usados para pagar a dívida. Podem favoritar.”
Nesta data bitcoin já não era uma novidade, tinha uma década de idade, tinha evoluído significativamente em robustez técnica e capacidade da rede, e já tinha passado por alguns ciclos no preço para se perceber o que ia acontecer a seguir. Após o pico de 2017, bitcoin atravessou o bear market de 2018, atingindo mínimos desse ciclo em dezembro, e em abril de 2019 estava a recuperar, o momento para comprar.
Esta era uma fase em que um Estado já tinha garantias suficientes para poder fazer este investimento e a minha modéstia no valor sugerido a investir já acautelava o risco: demasiado pequeno para destruir a carreira do político que o decidisse caso corresse mal, significativo o suficiente para provar o conceito.
O Estado portugês decidiu desbaratar 4,2 mil milhões na TAP (o que não parece ter destruído a carreira política de ninguém) e só em juros da dívida vai pagar 7 mil milhões de euros em 2025.
A título de exemplo, se esses 7 mil milhões que temos de pagar ao mundo do dinheiro fiduciário (fiat money) tivessem sido colocados em bitcoin no momento da minha sugestão, há 5 anos, hoje valeriam 140 mil milhões de euros, cerca de metade da dívida pública portuguesa, que podia assim desaparecer, pagando de forma espectacular metade do que devemos às gerações futuras, aos nossos filhos e aos nossos netos.
Esta pequena história é um exemplo de como o país é gerido com vistas curtas, o que impede Portugal de dar saltos não lineares que ficariam nos livros de História e gerariam prosperidade, como fez no passado com os Descobrimentos.
Portugal foi mau em proteger e reforçar as suas reservas de valor. Portugal tem hoje 382,6 toneladas de ouro mas tinha 590 toneladas em 2003, quando Vitor Constâncio, em declarações ao Jornal De Negócios, justificou a venda de ouro por parte do Banco de Portugal por considerar que a troca por uma aplicação financeira baseada nas taxas de juro «garante uma maior rentabilidade dos nossos activos».
Enquanto o mundo imprimiu dinheiro sem fim, desvalorizando as moedas onde os indivíduos têm as suas poupanças, Portugal vendeu ouro e não comprou bitcoin, o que afecta de forma decisiva a sua Liberdade de enfrentar o futuro num mundo em forte aceleração.
Já aqui tinha escrito, a 13 de Outubro de 2017: “Nos próximos 5 anos um estado soberano adoptará bitcoin como moeda oficial.”
Esse estado foi El Salvador, que adoptou bitcoin como legal tender a 5 de Junho de 2021, tendo duplicado o valor da sua reserva em 3 anos.
Há dois dias a Forbes noticiou que Trump confirmou um plano para que os EUA construam uma reserva de bitcoin, o que, a acontecer, tornará seguramente todo este fenómeno de diversificação mais exponencial. Bitcoin é dinheiro são, com quantidade determinada e finita, suportada numa rede impossível de desligar ou censurar.
E na Europa? A Alemanha não desilude e comprovou mais uma vez a sua capacidade infalível dos últimos anos de tomar sempre a decisão errada. Fechou todos os seus reatores nucleares quando a procura por energia nuclear aumenta, até por empresas privadas que investigam pequenos reatores para suprir as enormes necessidades de energia da inteligência artificial, e quando 50 mil bitcoins lhe caíram no colo, confiscadas a um site de pirataria, decidiu vendê-las todas, o que fez no Verão passado (a cerca de metade do preço de hoje, o que duplicaria os 2,5 mil milhões de euros da venda).
Existiram deputados alemães a apontar que o país as devia manter na sua posse como “reserva estratégia de valor”. Debalde.
Quem governa segundo os mesmos cânones de décadas não consegue tomar uma decisão não linear de grande potencial, nem quando lhe cai do céu, e a História passa ao lado.