Caro Pedro Nuno Santos,
Permita-me que não o trate por doutor ou outro título honorífico: afinal no socialismo somos todos iguais e camaradas da mesma pátria. Bom, não sou propriamente seu camarada porque nunca votei PS na vida. O mais à esquerda em que coloquei a cruz foi na ala maçónica do PSD, mas na verdade isso não quer dizer nada. Quando eu era criança, houve umas presidenciais célebres de Freitas do Amaral contra Mário Soares. Não fazia ideia das prioridades de cada candidato, mas simpatizei com o primeiro por uma razão supérflua qualquer. Ou seja, tinha o mesmo pensamento que a grande maioria dos votantes hoje em dia. E são esses votantes que deram grandes resultados ao PS nas últimas décadas. Por isso, o Pedro Nuno Santos só tem razões para estar otimista em relação ao futuro. Os portugueses estão avisados em relação ao passado e não vão cometer os mesmos erros: sabem bem que para se ser um bom estadista é preciso uma barba bem feita, um bom penteado e conduzir um carro desportivo. É por isso que a coisa correu mal para o Passos Coelho e o José Sócrates: sem barba e com veículos normais são sinónimo de gente incompetente, na opinião de qualquer cidadão nacional. E também é por isso que por pouco Luís Montenegro não perdeu as eleições que tinha a obrigação de ganhar com maioria absoluta. Por sua vez, muita gente não confia no André Ventura porque aparece muitas vezes com a barba mal aparada, o cabelo despenteado e um carro aborrecido com motorista. Portanto, é só deixar o tempo deslizar que as eleições antecipadas do próximo ano estão no papo. Não interessa se houver má gestão pública ou corrupção ou outros pequenos pormenores sem importância.
Há quem diga que o estimado Pedro Nuno Santos é arrogante politicamente, mas eu não concordo. Arrogante é quem tem altivez e sobranceria ao se considerar melhor do que os outros. E o meu caro sabe perfeitamente que é pior do que a grande maioria dos políticos portugueses. O único cargo relevante que teve fora da política foi o de presidente da associação de estudantes da escola secundária. E o mais importante dentro da política foi o de presidente da juventude socialista, sendo que depois conseguiu ser secretário de estado e deputado. Não se ofenda, mas a minha convicção pessoal é que o prezado Pedro Nuno Santos devia ter sido jogador de futebol. É que toda a gente dizia que representava a ala mais à esquerda do PS, mas fintou toda a gente e aliou-se à direita para aprovar o orçamento de estado do PSD. Fintou os seus colegas de partido que pensavam que seria um sucessor do inventor da geringonça, António Costa. Fintou os camaradas comunistas, que o recebiam de braços abertos na festa do Avante. E quando viu que na baliza estava só a Alexandra Leitão, rematou em direção ao bloco central, o que apanhou desprevenida a guardiã. O melhor golo desde que Mário Soares liderou o IX Governo Constitucional com a coligação PS/PSD e que só terminou com a entrada em campo de Aníbal Cavaco Silva.
Mas o Pedro Nuno Santos vai continuar na política. Sabe bem que está seguro porque “quem se mete com o PS leva.” Aqui neste pequeno retângulo ou na ONU. Na defesa do parasitismo laboral da função pública portuguesa ou do parasitismo das teocracias ditatoriais do Médio Oriente. Estas duas hipóteses não são assim tão más, não acha? Nesta semana li um texto de uma cientista portuguesa que terminou a bolsa de investigação e foi à segurança social, onde também lhe deram duas hipóteses: emigrar para um país desenvolvido ou receber o RSI. É provável que ela não tenha o cartão de militante do PS, desbloqueador de todos os problemas em Portugal. Por exemplo, estão para prescrever todos os crimes do seu camarada José Sócrates e toda a gente acha normal. As pessoas não ficaram zangadas com o dinheiro que se queimou na TAP. As pessoas até acham bem que a EFACEC tenha sido um sorvedouro de fundos públicos. O que jamais será normal e causará um escândalo nacional é se o Benfica não puder competir no futebol, por isso veja lá se mete uma cunha para que o ministério público acabe com essas ideias malucas. Isso até pode acabar numa revolução e neste momento o exército português não tem efetivos suficientes para fazer face a um estádio da Luz pouco cheio.
Despeço-me com a convicção que o Pedro Nuno Santos será primeiro-ministro a partir do próximo ano. É como lhe digo: basta deixar o tempo deslizar e esperar que a multidão de comentadores beligerantes do PS faça o seu trabalho. E não se esqueça da frase inesquecível de Marx que orienta a política portuguesa: “estes são os meus princípios e se não gostarem tenho outros.” É certo que não foi o Karl que escreveu isto, mas o Groucho. Mas o que interessa é que é verdade e o mantra dos políticos nacionais. De resto, é apenas sorrir e acenar. Sorrir e acenar.
Os meus respeitosos cumprimentos.
Um cidadão qualquer,
Diogo Dantas