Minha cara cidade do Porto:

Gosto de ti com entusiasmo. Gosto de ti quando te vejo vibrante e acolhedora. Gosto de ti em cada regresso a casa ao atravessar a ponte. Mas fico triste quando te fechas, quando te escondes e quando mostras o teu lado cinzento, triste e envergonhado.

Fico preocupado quando revelas incapacidade ou desinteresse para pensar o país a partir daqui, onde parece sempre que os temas de discussão pública ou são regionais ou não nos importam. E sei bem que para isso também contribui uma grande dificuldade em conseguir ser ouvido num país mais centralizado do que nunca, mas creio que a culpa é sobretudo nossa: parece que não existem projectos capazes de produzir eco nacional.

É indisfarçável que não abunda massa crítica interessada em contribuir com pensamento para o país e para a Europa a partir do Porto. Há movimentos e pessoas que procuram lutar contra essa maré e que até conseguem expressão eleitoral, mas os cidadãos do Porto têm de fazer mais.

O turismo que atrais e albergas monopoliza a conversa sobre a reabilitação, o que não pode ser suficiente – há que planear ainda com mais denodo estratégias de conservação e desenvolvimento para a nossa Baixa, a nossa marginal e a nossa Foz.

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Meu caro Porto: temos o dever secular de dignificar a nossa história política, influência ideológica e tradição de pensamento liberal desta cidade, que determinou grande parte do rumo do país graças a uma elite rebelde e empreendedora e a uma população trabalhadora, livre, dotada de espírito de sacrifício e habituada a pensar pela sua cabeça.

Portugal deve-te o lugar certo na História do combate entre absolutistas e liberais do século XIX, os cafés e as tertúlias onde tantas grandes figuras do pensamento se encontravam para reflectir sobre o país e o mundo, a pena de Agustina e a câmara de Oliveira, bem como a saída do infante D. Henrique para a conquista de Ceuta. Deve-te, em resumo, uma tradição liberal que moldou personalidades políticas como Francisco Sá Carneiro – que, por aquilo que foi, pensou e fez, só podia ter nascido aqui, no Porto.

Precisamos de ti, Porto, presente! De um Porto aberto e cosmopolita, que troca visões, ideias e conceitos, que imagina e promove negócios, que rasga novas avenidas na educação e na investigação, que aposta na formação de elites e na abertura de oportunidades em prol do esforço, do mérito e do investimento. Um Porto de inovação, de risco, de exigência e de rigor. Um Porto de capacidade de inventar. Um Porto de Educação e de Cultura.

Queremos de volta o nosso Porto do futuro, a pensar à frente – na sustentabilidade, nos transportes, nas empresas, no emprego, na investigação de ponta, nas sinergias entre empresas, universidades e escolas, na coesão social.

Queremos um Porto capital do Norte que assuma de vez, sem medo e sem limites, que Lisboa nos tem de nos dar o que é nosso por território e por mérito. O direito, o poder e os recursos para gerir a nossa saúde, a nossa educação, os nossos transportes, a nossa costa, as nossa vias estruturantes, a nossa segurança e muito mais. Não para ficarmos de fora do país mas para lhe servirmos de exemplo, como no passado.

Queremos o Porto que cria riqueza e oportunidades para toda a população, afastando obstáculos burocráticos e criando uma atmosfera económica dinâmica, viva e inventiva, que dê às pessoas a oportunidade de se realizarem na e com a cidade.

Precisamos de um Porto que goste de si. De uma verdadeira polis, que tenha a sabedoria de conciliar de forma harmónica e equilibrada a reabilitação urbana e do património, por um lado, com o turismo massificado, por outro, mas sem perder de vista uma dimensão cultural e artística, a experiência autêntica da vivência da cidade – do Douro à urbe, da paisagem à noite, do vinho ao teatro e da gastronomia aos museus.

Reclamamos uma cidade de conquista global – em busca de visibilidade e promoção, em torno de iniciativas globais que demonstrem capacidade organizativa e criatividade, que coloquem a cidade a ir ao encontro do mundo e o mundo a vir à cidade.

É assim, meu caro Porto, que prestaremos a devida homenagem à tua identidade e à tua História. Reinventa-te, uma e outra vez, sem cessar. Só assim serás Porto à moda do Porto.