Cerca de um mês após a vitória no Campeonato da Europa de Ginástica de Trampolim, sinto que chegou a altura de falar da derrota. Quem gosta de perder? Acuse-se o primeiro que gosta de sentir o sabor da derrota, da angústia de um jogo perdido e das consequências que muitas vezes surgem de um resultado negativo, a sensação de mal-estar é inevitável, a desilusão assombra-nos os pensamentos e muitas vezes o sono.
Mas será que perder pode ser assim tão mau?
Kareem Abdul-Jabbar, seis vezes campeão da NBA por Los Angels Lakers, tem uma célebre frase acerca do assunto: “You can’t win unless you learn how to loose”. Para vencer teremos de aprender a perder. Assim, quais serão as grandes vantagens da derrota e o que ela nos pode ensinar?
Não saber perder significa não aceitar a derrota com humildade. Existe algo na vitória que jamais se poderá perceber na derrota. Perder e aceitar isso, permite uma aprendizagem que está oculta nas vitórias. Como membro dos Global Shapers do Hub de Lisboa, uma das maiores preocupações que tenho é o futuro do meu país e sobretudo das gerações futuras que dele vão fazer parte. O futuro não é nosso mas sim dos nossos filhos e netos e, por isso, é fundamental que eles aprendam a vencer e a perder, porque ambos vão fazer parte das suas vidas para sempre.
Uma criança confiante estará a partida mais apta para desenvolver uma atitude de superação, isto porque confiança permite ganhar e ganhar permite abertura para novos desafios, como por exemplo saltar “ainda mais alto”. A competição pode motivar os nossos jovens a fazerem mais do que aquilo que lhes é pedido e isso permitirá que, no futuro, estejam mais aptos para tomarem decisões difíceis sob pressão em qualquer circunstância.
A sensação da competição permite às crianças desenvolverem um pensamento com fundamento estratégico, isto porque na grande maioria das vezes, serão ensinadas a vencer, não só, jogando de acordo com as regras do jogo, mas sobretudo, porque os seus adversários terão exatamente as mesmas regras.
Então e a derrota?
É precisamente quando somos crianças que nos deve ser ensinado que devemos seguir em frente quando perdemos, pois assim cresceremos dessa forma. Pode até parecer injusto para uma criança ser derrotada, ou ver alguém que é mais rápido, mais alto, mais forte a superar-nos, e penso que aí caberá a quem educa demonstrar que existe espaço para todos, de acordo com as suas aptidões físicas e psicológicas e que o caminho é exatamente o de encontrar o seu espaço dentro desse meio.
Uma criança que cresce sem experimentar a derrota, pode tornar-se ansiosa quando sentir que as coisas podem não correr de acordo com as suas expectativas não sabendo lidar com esse sentimento. Por isso, pais deste país, ensinem os vossos filhos a ganhar e a perder, e vivam as vitórias com o mesmo empenho que têm de aplicar nas derrotas!
Quando voltei a Portugal depois do campeonato da Europa a pergunta mais frequente foi a seguinte? “Qual foi o segredo da vitória?” Entre, “não existem segredos”; “ muito trabalho”; “foi o meu dia”; “nunca desistir”; “acreditar sempre”… Na verdade nunca existiu uma verdadeira resposta. Hoje, após um mês de reflexão sobre tudo o que se passou, descobri qual foi o segredo… Fui campeão da Europa depois de aprender a perder como um campeão!
Diogo Ganchinho tem 30 anos, é atleta do Sporting Clube de Portugal, na modalidade de ginástica de trampolim. Estudou Ciências da Comunicação na FCSH da Universidade Nova de Lisboa, esteve presente nas edições dos Jogos Olímpicos de Pequim e Londres e encontra-se atualmente inserido no projeto olímpico de Tóquio 2020.
O Observador associa-se aos Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial para, semanalmente discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa. Ao longo dos próximos meses, partilharão com os leitores a visão para o futuro do país, com base nas respetivas áreas da especialidade. O artigo representa, portanto, a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.