Pego nas óbvias constatações de António Horta-Osório para reforçar que os portugueses estão satisfeitos com uma economia a crescer a 1% nos últimos 20 anos. É verdade que temos um problema de crescimento. É também verdade que temos uma fraca ambição. Porém, a montante deste vaticínio e como esta semana escrevi no Diário de Notícias, o problema original não está na fraca ambição ou na anemia do crescimento. Nem, tão pouco, em expressões que enfatizam o dramático que é ter salários abaixo dos mil euros em Portugal. Todos concordamos com isto. Óbvio.

Este tipo de constatações, aliás, serve zero sem que apresentemos soluções. Agradecemos as tuas palavras, António, mas sabemos bem qual o diagnóstico. Vamos mas é ao resto.

Primeiro, quem não sabe é como quem não vê. Se a população portuguesa tem uma taxa de 48% (em 2019) de indivíduos que não concluíram o ensino secundário como será possível admitir, sequer, que estas pessoas irão participar na ambição que se quer ou numa economia a crescer mais? Não vão participar coisíssima nenhuma. O primeiro esforço, como já disse noutro artigo e agora repito, é educar as pessoas. É investir em formação. Enquanto não metermos isto na cabeça e na ação, todas as frases são sublimes, todos os diagnósticos são crisóstomos e magistrais, mas as conclusões sobre o que fazer nunca aparecem. Tudo isto é inconsequente.

Segundo, quem deveria investir nos portugueses são os próprios portugueses. Há uma parte dos portugueses que já completaram o ensino secundário e/ou que têm o ensino superior. Não é muito difícil que se pense que cada português nestas circunstâncias deve, para simplificar as coisas, investir num outro português para que ele cresça, se eduque, se forme e construa um futuro diferente. Se cada um de nós tiver identificado um outro português que deve ser ajudado, e ajudarmos, o processo torna-se bem menos complexo.

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Terceiro, lance-se um programa em que se distribui a cada empresa um valor em euros por cada colaborador que complete o ensino secundário ou a cada organismo do Estado uma promoção aos funcionários que se encarregaram de ajudar outro(s) a completarem o ensino secundário ou a cada português, individualmente, pague-se um cheque em euros (acima dos 1.000 euros, caramba) por cada indivíduo que apoiaram a concluir o ensino secundário e verão como o estímulo compensa para mudar este estado de coisas.

Construam, quem quer que seja que forme governo, um programa a 5 anos. Abram alas à flexibilidade de acesso destas pessoas não escolarizadas. Mobilizem as várias autarquias, por forma a que isto aconteça de facto. Ponham, por exemplo, as autarquias a competir umas com outras no que toca às populações residentes e reforcem orçamentos e publicitem os municípios que conseguiram melhores resultados e boas práticas.  Criem um ranking. Façam qualquer coisa, qualquer coisa simples com princípio e fim, mas escolarizem a população.  Diminuam estes 48% pelo menos para a média comunitária em 5 anos e terão acesso às óbvias consequências: o país a crescer mais, a receber mais e a ter mais ambição.

Se não fizermos este trabalho a um prazo de 5 anos, se não dermos tempo, pusermos esforço, se não nos dedicarmos aos que não completaram ainda o ensino secundário pois jamais poderemos esperar que haja conhecimento suficiente, que haja mundo suficiente, que haja ambição suficiente e/ou que haja crescimento económico e melhores salários.

Não estamos a falar de programas complexos. De documentos espúrios e de burocracias imensas. Coisas simples, práticas e realizáveis. E, claro, com estímulos por resultados.

Meu caro António Horta-Osório. Não precisamos de constatações óbvias e de sentimentos de pesar e dramatismo. Precisamos mesmo que venhas propor uma coisa simples como esta que agora proponho. Porque por cá, continuam a funcionar os caramelos de Badajoz e a tua voz vale milhões de vezes a minha. Por isso, cava mas é a horta, bolas. Não precisamos que a descrevas.