(disclaimer: nunca votei no Chega)
Em texto anterior emiti opinião sobre o erro crasso que me pareceu a insistência de Luis Montenegro no “Não, é não”. Tal como Pedro Nuno Santos nunca se distanciou – antes pelo contrário – do PCP e do BE, Luis Montenegro não tinha sequer de se pronunciar sobre o Chega.
O Chega apareceu e foi imediatamente conotado com extrema-direita. Parece-me demasiado ingénuo achar-se que 1 milhão de portugueses são de “extrema-direita”. Em minha opinião, o Chega é “apenas” um partido de protesto. E é precisamente por isso que cresceu como cresceu, sendo hoje a 3ª força política portuguesa, com 50 deputados eleitos na Assembleia da República.
Os mais de 1 milhão de portugueses que votaram em André Ventura quiseram apenas dizer à classe política “Mudem! Mudem de pessoas, de políticas, de práticas abusivas”, “Reformem o estado, diminuam a despesa, acabem com a corrupção e jogos de cadeiras”, “Reduzam a carga fiscal, promovam o investimento estrangeiro, permitam a Portugal crescer”.
O que este milhão de eleitores queria ver, era um André Ventura mais inteligente, que se movimentasse na AR de forma a fazer diferente. Que mostrasse aos outros grupos parlamentares que é possível fazer diferente.
O que aconteceu? Em vez de ser, de facto, mais inteligente que o Luis Montenegro com o seu “Não, é não!” e aproveitasse os seus 50 deputados para promover propostas diferenciadores (leia-se de reforma séria do estado que permita reduzir despesa), propostas que permitissem aos portugueses viver melhor (leia-se redução da carga fiscal), propostas que promovam o aumento do investimento estrangeiro (leia-se reduzir burocracias, reduzir carga fiscal, garantir a sua consistência e coerência no longo prazo e garantir o sistema judicial), e apresentar-se de forma construtiva perante a AD, permitir à AD governar, permitir ao país e aos seus eleitores perceberem que, graças ao Chega, é a direita que governa em Portugal.
O que faz o Chega na AR? Faz aprovar as propostas do PS! Propostas que o PS não fez, nem deixou aprovar, nos últimos 8 anos de governação. Faz o jogo de Pedro Nuno Santos que anseia por eleições. Permite ao Pedro nuno Santos dizer que afinal de contas, quem governa é o PS. Que quem está a ajudar os portugueses é o PS. Reforço – com medidas que se recusou a aprovar nos seus últimos 8 anos de governação.
Consequência? O sentimento de traição e inutilidade a quem o elegeu, com os resultados das europeias a enviarem uma mensagem directa e assertiva. Não foi para apoiar o PS que este mais de 1 milhão de pessoas votou em André Ventura. E ou André Ventura ajuda a AD a governar, mesmo sem o Luis Montenegro “vergar” , mostrando-se construtivo, ou o Chega será varrido da AR nas próximas eleições legislativas. Porque para votar com o PS já lá há gente mais do que suficiente. E o Pedro Nuno Santos, ao contrário do Luis Montenegro, não descarta ninguém.
A direita tem um problema em momentos eleitorais – enquanto os eleitores de esquerda vão às urnas, muitos de direita não vão. E também por isso, o Chega é importante no quadro político actual. Tem é de cumprir com as expectativas de quem nele votou.