A área da saúde tem conhecido avanços notáveis nas últimas décadas. O ritmo da produção científica é avassalador e tem permitido revolucionar as respostas que a sociedade e os sistemas de saúde são capazes de dar nos vários domínios da saúde, desde os mecanismos de vigilância e prevenção da doença, passando pela organização e gestão dos serviços, até à resposta a muitas patologias que até há poucos anos eram ainda consideradas incuráveis. Contudo, persiste um grande desafio: o tempo entre a descoberta de inovações e a sua adoção prática por decisores políticos, profissionais de saúde e cidadãos continua a ser excessivamente longo.
Precisamos de um acelerador que seja capaz de garantir a tradução de políticas e intervenções baseadas em evidências em práticas efetivas que permitam que todos possam beneficiar de forma mais célere da inovação nos cuidados de saúde e sociais. Neste contexto, promover a Ciência da Implementação é uma das respostas que precisamos. Ciente desta necessidade, e num trabalho conjunto com vários parceiros, a Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa (ENSP NOVA) entendeu dar um passo determinante e lançar esta semana um novo Centro de Conhecimento (Knowledge Center) dedicado a esta área, e que inclui a Rede Portuguesa de Ciência da Implementação.
Quando uma nova tecnologia, uma nova prática ou um novo tratamento em saúde são identificados e aprovados, estima-se uma demora de pelo menos oito anos até estarem totalmente implementados. Por outro lado, existem ações, por exemplo de prevenção na área da vacinação, da diabetes, das doenças cardiovasculares, da oncologia, que apresentam resultados promissores em ambientes controlados, mas que não conduzem à mudança comportamental desejada quando aplicadas sem ter em conta as complexidades e especificidades do mundo real.
Assim, apesar dos avanços científicos e tecnológicos, muitas inovações em saúde não alcançam o seu pleno potencial devido a barreiras no processo de adoção e operacionalização nos contextos reais, por exemplo por pouca aceitabilidade, falta de recursos, cultura organizacional desfavorável ou até desconhecimento e formação adequada. Isto mostra-nos que a inovação e a eficácia, por si só, não são garantia de uma implementação plena em nome de uma melhor saúde para todos, sem deixar ninguém para trás.
É deste hiato que surge a Ciência da Implementação, uma área inovadora e em expansão em vários países que, através de uma abordagem multidisciplinar e com recurso a metodologias próprias, analisa e otimiza a operacionalização de políticas e intervenções no mundo real. Tem desempenhado um papel cada vez mais central em diversas áreas da saúde pública e prática clínica. Na área da prevenção, por exemplo, permite garantir que as intervenções respeitam as necessidades locais e os contextos sociais e culturais. Funcionando como uma ponte entre a investigação e a prática, a Ciência da Implementação avalia fatores que facilitam ou dificultam a adoção de inovação e intervenções em saúde, assegurando a sua eficácia em larga escala e a sustentabilidade a longo prazo.
Adicionalmente, a Ciência da Implementação promove a equidade ao identificar as dificuldades enfrentadas por grupos populacionais que experienciam maiores vulnerabilidades. Tem também contribuído significativamente para a otimização de processos como auditoria e feedback, promovendo melhorias contínuas na qualidade dos cuidados prestados.
É essencial apoiar a implementação de inovação em saúde e de políticas e intervenções baseadas na evidência. É por isso que, associada à apresentação do Knowledge Center, a ENSP NOVA irá lançar a primeira Rede Portuguesa de Ciência da Implementação, ciente de que esta área exige um trabalho colaborativo permanente com múltiplos parceiros, seja na identificação de necessidades, formação de novas lideranças, sensibilização para estes temas, capacitação, partilha de recursos, e cocriação de soluções. Estamos certos de que juntos conseguiremos proporcionar uma sociedade mais saudável e resiliente e um sistema de saúde mais robusto.