O que se passa no Algarve e que vai alastrar a outras zonas do País, é uma vergonha nacional.
Já se esperava, era uma questão de tempo até acontecer o desastre que o país enfrenta com a questão da falta de água em determinadas regiões e em determinadas épocas. Foram inúmeros os alertas, sucessivamente ignorados.
A verdade vem sempre ao de cima, como o azeite, não se dilui, fica a boiar, bem visível, impedindo que a mentira e a inacção se escondam.
Quantas vezes escrevi e alertei em representação dos agricultores para a necessidade de enfrentarmos o monstro que nos invade todos os dias um pouco mais. O monstro é o deserto, o deserto do norte de África, que cavalga ao ritmo das alterações climáticas, saltando o oceano e “aterrando” com as suas patas no Algarve e no sul de Espanha, a primeira terra firme que encontra no processo de conquista do sul da Europa, já em curso.
O que se está a passar no Algarve, e também no Sudoeste Alentejano, está escrito nos manuais da incompetência que têm servido de guião aos Ministérios da Agricultura e do Ambiente mais recentes. Soluções que permitiriam evitar o drama que está a acontecer e que se agravará ainda, antes de poder melhorar, existem, mas assumi-las e implementá-las é algo que quem nos governa não percebeu que a necessidade de se enveredar por soluções arrojadas, é uma evidência.
Com o conhecimento disponível, os sucessivos alertas de especialistas de reconhecido valor e mérito, como o Prof. Filipe Duarte Santos ou o Prof. Miguel Miranda, deveriam ter sido suficientes para impulsionar as decisões possíveis, sempre adiadas.
Uma vez mais se prova que não é nem a demagogia nem da ideologia purista de algumas facções ambientalistas, que sairão soluções para o drama que se instala e se agrava todos os dias. É na técnica, na engenharia, no saber acumulado e na inteligência que se procuram e encontram as soluções. Não basta remediar.
De que estamos à espera, de um milagre? De acordarmos de um pesadelo que apelidamos de alterações climáticas ou de aquecimento global? Não estamos a sonhar, estamos acordados, mas quem tem o poder e o dever de decidir, não quer ver e não actua, adia, na expectativa de que o pesadelo passe. Não vai passar. Ou agem, ou assumem a responsabilidade da tragédia já em germinação.
Tem sido notório, e reconheço, o esforço do actual Ministro do Ambiente, ao contrário do seu antecessor e da ainda Ministra da Agricultura. Duarte Cordeiro percebeu o filme, mas apesar de estar desperto e a tentar “minorar os estragos”, está sozinho, a sofrer do sonambulismo e da letargia instalada. Os seus esforços chegam tarde e serão insuficientes para resolver, em tempo útil, o desastre em curso.
Sim, sabemos quem tem tido a responsabilidade e quem podia ter já implementado as múltiplas acções que, em conjunto, poderiam evitar e minimizar o que se está a passar. Empurrar com a barriga e afirmar sucessivamente… “estamos a trabalhar…” não é suficiente, é falar por falar.
Quantas vezes ouvimos apregoar que se iriam desassorear barragens, altear outras, construir uma dessalinizadora (uma…), reparar sistemas de rega e condutas obsoletas e envelhecidas, implementar o acesso a águas residuais tratadas? Quantas vezes? Onde estão todas essas acções no terreno?
Não há dúvida. Precisamos de uma mudança. Os portugueses têm de acordar e de perceber que afinal, nem sempre é o sonho que comanda a vida.
Eduardo Oliveira e Sousa é candidato às eleições legislativas pela Aliança Democrática