Por todo o mundo temos assistido a um enorme extremar de posições na luta política.
Na Europa, essa exaltação de posições tem resultado numa diminuição importante do extremismo da esquerda, defensor das questões fraturantes e da permissividade social, e num aumento significativo de conquistas eleitorais por parte de uma nova direita, mais afirmativa, mais agressiva e em muitos casos mais intolerante.
É comum serem os países europeus a liderarem estas mudanças de tendências e, por isso, nada é mais natural do que prever que estas mudanças se venham também a afirmar nos restantes continentes.
Já verificámos o retrocesso democrático em vários países no mundo, começando pela China e pela Rússia, mas também em países menos importantes e de influência mais regional.
Mas, também nos países mais tradicionalmente democráticos, esse registo de mudança tem-se acentuado, como vimos nas recentes eleições indianas, em que a alternativa a um governo de pulso mais forte era praticamente inexistente. Felizmente os resultados vieram a moderar a tendência.
Tudo isto resulta de uma sensação de que a política anterior estava a ser demasiado permissiva nos costumes e na forma como tudo se aceitava, sem sequer se criarem os critérios mínimos de cuidados a ter sobre cada matéria.
A exigência de igualdade, absolutamente correta na perspetiva democrática, transformou-se na exigência de tratamentos especiais por parte de minorias muito combativas. Aproveitando a passividade de uma população, que na sua maioria é tolerante e razoável, tornaram-se impositivas e desgastantes na defesa dos seus interesses egoístas que, pelo excesso de exigência, na maioria das vezes se tornaram injustificados.
A maioria aceita as diferenças, seja de raça, seja de género, seja de religião.
Aquilo que se torna difícil de aceitar é a subjugação às imposições exageradas de quem transformou essas questões importantes em projetos de rendimento e benefício individual, eliminando todos os limites de atuação, mesmo quando afetam a liberdade de todos os outros, apenas porque lhe era favorável manter o seu caminho de luta e de favor.
Aos poucos, a maioria tolerante e razoável começa a dar-se conta da forma incómoda de viver a que se tem vindo a sujeitar e começa a procurar, dentro das soluções políticas, aquelas que lhes dão a convicção de que todos esses exageros não serão mais permitidos e que se volte a uma sociedade verdadeiramente democrática, em que se respeitem as liberdades de todos e não só de alguns e em que a maioria tenha, de facto, a capacidade de decidir.
A maioria dos votantes dos partidos mais extremistas não tem a vontade de viver numa sociedade intolerante.
Aquilo que pretendem é, tão só, que a tolerância não se torne em permissividade.
Contudo, a falta de compreensão por parte dos políticos dos partidos menos radicais, e mesmo o medo de serem acusados de intolerantes pelos defensores do radicalismo das minorias, não os levou a assumir a sua responsabilidade de defender essas minorias, como é o seu direito, mas dentro da democrática consideração por todos os cidadãos em geral.
Esta falta de compreensão e de coragem para fazer aquilo que todos sabemos ser o correto, a permissividade face às questões fraturantes, e a desconsideração pela verdade com que devem ser tratados todos estes temas irá levar-nos cada vez mais a sermos governados por aqueles que, sendo mais ou menos oportunistas e mais ou menos competentes, sejam capazes de convencerem esta maioria de pessoas, tolerantes e razoáveis, de que só o caminho da força permitirá recuperar a vida digna e tranquila, com segurança e paz a que aspiram com todo o direito.
Não é errado querer viver uma vida em condições, e a destruição da sociedade em que vivemos nunca será a solução para os sofrimentos das minorias.
Aquilo que é fundamental é incluir essas minorias de forma a diminuir-lhes o sofrimento, sem destruir a sociedade em que acreditamos.
Haja coragem para fazer esta mudança para que não percamos a liberdade que tanto queremos.