A representar 15% do PIB nacional, a Construção é, historicamente, um dos pilares da economia portuguesa. Durante os primeiros meses deste ano excecional, quando outros setores estratégicos – como o dos Serviços e o Industrial – foram obrigados a parar quase na totalidade, a Construção manteve-se no ativo, deu continuidade às grandes obras em curso, mas, com isso, sofreu também um maior grau de exposição dos seus profissionais aos riscos de contágio.
Se, por um lado, a interrupção das empreitadas poderia resultar na perda de postos de trabalho e no encerramento de algumas empresas com menores reservas financeiras, por outro, previa-se que a resiliência da “muleta” económica em período de emergência pandémica resultasse, inevitavelmente, nalgum grau de propagação. As especificidades naturais da atividade são conhecidas, pelo que, apesar da total recetividade às novas regras de segurança, limitar o número de elementos nas equipas, trabalhar com distanciamento ou parar para desinfetar ferramentas não travou a incidência do número de casos, nomeadamente nas empreitadas maiores.
Há, contudo, que ressalvar que o chamado “foco” na região de Lisboa e Vale do Tejo advém de uma expressiva campanha conjunta da Direção Geral de Saúde (DGS) com o INE e a ACT para testar massivamente os estaleiros da Grande Lisboa, divulgando-se prematuramente resultados de uma amostra pouco representativa da situação real do país, numa janela temporal considerada ainda curta por alguns especialistas.
Pelo que é possível constatar no terreno, o esforço continuado que tem sido desenvolvido nas obras não está a falhar. O setor enfrenta, sim, constrangimentos que lhe impõem desafios adicionais e que passam por aspetos tão únicos como a questão cultural, resultante da multiplicidade de origens e costumes, regras e hábitos (nomeadamente de higiene) dos profissionais que compõem as equipas.
Sendo conveniente analisar-se cada empreitada à luz das suas características (dimensão, localização, condições), a necessidade de um plano de contingência ajustado apresenta-se como transversal a todas as obras e, portanto, ao setor. Este plano, além de guiar as equipas nos procedimentos a seguir, deve prever uma componente informativa forte, que apoie à mudança das rotinas e agilize os comportamentos preventivos que o contexto atual exige, sendo a sua elaboração da responsabilidade da coordenação de segurança da obra, até que a DGS emita um já anunciado plano ajustado aos estaleiros.
Se a superação da maior crise dos últimos anos vai depender, uma vez mais, da robustez da Construção, podemos confiar que os seus profissionais continuarão a dar tudo por tudo para garantir a sustentabilidade do setor e a imagem de Portugal além-fronteiras perante investidores estrangeiros e financiadores políticos. Assumamos o impacto do abrandamento como uma inevitabilidade e usemos o que nos sobra de 2020 para reescrever os contributos da Construção e do Imobiliário num ano histórico, a todos os níveis.