A pandemia trouxe-nos uma medicina diferente, com o respectivo impacto na prestação de cuidados de saúde e na relação médico-doente.

Foi imposta uma medicina “à distância” e uma redução no acesso dos doentes ao seu médico de família. Trouxe também relevantes entropias na formação pós-graduada da Medicina Geral Familiar.

Apesar das diferenças que podem existir nas diferentes regiões do país, este embate abalou claramente a qualidade formativa dos nossos futuros médicos de família. Durante todo o ano de 2020. E continuará a fazê-lo durante 2021.

Mas entre aspetos positivos e negativos qual é o balanço que podemos fazer?

Os constrangimentos impostos pela Covid-19 criaram desafios, cuja superação permitiu oportunidades de aprendizagem e aquisição de novas competências.

É reconhecido que os médicos internos de Medicina Geral e Familiar foram uma peça central em todo este processo de adaptação à nova realidade, colaborando, junto dos seus orientadores e equipas, para melhores cuidados à população.

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Todavia, existiram formações específicas e estágios adiados, colocando em causa a aquisição e a melhoria de competências técnicas necessárias ao desempenho das suas funções clínicas. Por outro lado, a atividade assistencial dos médicos de família sofreu uma adaptação diária, procurando dar resposta às tarefas impostas pelas estratégia definida pelo Governo e DGS quanto à pandemia, seguindo mais de 90% dos utentes com suspeita ou diagnóstico de Covid-19 . Claramente, foi privilegiada a atividade assistencial e minorada a atividade formativa. E aqui importa recordar, que os internos de formação especifica, vulgarmente conhecidos por internos da especialidade, não são especialistas, mas médicos em formação.

Mas se olharmos para a ação assistencial, também aqui encontramos enormes limitações no tratamento dos doentes. Só no primeiro semestre de 2020 existiram quase menos 5 milhões de consultas médicas presenciais. É pois, fundamental refletir sobre o impacto da Covid-19 na formação dos futuros médicos de família, cuja função é prestar cuidados de saúde do nascimento à morte aos seus utentes e famílias junto das suas comunidades. Refletindo profundamente sobre o que podem e devem ser os internatos em 2021 e que medidas devem ser assumidas.

Mais uma vez, importa perceber o papel de cada um no sistema e retirar dos médicos de família e dos internos de Medicina Geral Familiar uma carga de tarefas que pode e deve ser desempenhada por outros profissionais de saúde.

Os internos de Medicina Geral Familiar foram essenciais na assistência médica aos portugueses. Muitos dos seus orientadores foram desviados para outras tarefas, que não as de formação.

Mas neste início de ano temos de encontrar, entre todos, as necessárias soluções criativas e inovadoras de forma a garantir a melhor formação e os melhores médicos de família.

Se a pandemia mostrou fragilidades das equipas e das instituições, veio também mostrar, mais uma vez, a necessidade de se apostar num SNS forte, que apenas será possível com a força de todos os profissionais que o constituem, da qual a capacidade de trabalho e proatividade dos médicos internos é um fator fulcral.

Só com uma estratégia forte e adaptada à realidade conseguiremos ultrapassar as consequências geradas pela pandemia na formação médica especializada. Estamos no momento de o fazer.