Perante a situação atual gerada pelo COVID-19 parece que uma das premissas base do Liberalismo: “The importance of Liberty is due to the fact that we know not how individuals will use it. ” (Hayek, 2018) é posta a teste, mas na visão dum liberal, ou neste caso, duma liberal, só é reforçada.
Para muitos o caos do Liberalismo e a livre circulação de bens e pessoas é a culpada duma pandemia que nos assola a todos. Mas esquecem-se que o alastrar da mesma e a sua evolução de vírus localizado, para epidemia e posteriormente pandemia se deveu a tentativas de encobrimento por parte de um regime que rejeita profundamente a Liberdade individual.
Cujas provas do desrespeito para com o Ser Humano se tornam evidentes quando conhecemos a realidade dos bravos indivíduos que arriscaram contar a verdade ao mundo, tendo pago o preço mais alto, com a sua própria vida.
E desde então é o Liberalismo, que tem tomado a sua forma tanto em heróis individuais – que despertam em cada um de nós – como em empresas e multinacionais, que têm lutado com mais glória contra este inimigo invisível.
Levanta-se então a questão de se a necessidade para intervenção estatal perante um problema que coloca em causa a saúde pública não é uma refutação da causa liberal. Para bons entendedores é apenas uma confirmação de que a exceção confirma a regra, de que não há regra sem exceção. Encontramo-nos perante um cenário absolutamente extraordinário que exige intervenção estatal, mas isto não nega a regra a manter durante o resto dos 365 dias ordinários.
Aplicar intervenção estatal na medida certa quando a situação assim o exige, na medida em que a ação de cada um se revela insuficiente, e de que se trata de uma guerra contra um valor superior, o da Vida, é compatível com o Liberalismo. Somos Liberais, não anarquistas.
Espelho dos malefícios desse belzebu que é o capitalismo – que agora se encontra se encontra sob ataque – são a tomada de iniciativa de muitas empresas que encerraram portas antes mesmo que os governos decretassem estado de emergência; ou de empresas de vestuário que adaptaram as suas linhas de produção para dar resposta à necessidade de máscaras e produtos de proteção individual; ou de empresas como a Bosch que criaram máquinas de teste fiável e mais rápido.
Tal como Adam Smith professava “It is not from the benevolence of the butcher, the brewer, or the baker that we expect our dinner, but from their regard to their own self-interest. We address ourselves not to their humanity but to their self-love, and never talk to them of our own necessities, but of their advantages” e nessa luta pela sobrevivência, a máquina adapta-se, encontra novas soluções e essas soluções garantem a subsistência e o conforto de todos nós.
No caos e na guerra há aqueles que veem apenas desastre e morte, e outros haverá que olham para o futuro com esperança e visão, e que procuram soluções. É aí que o Liberalismo se deve encontrar, junto daqueles que procuram reconstruir.
A nossa perseverança também depende da nossa capacidade de adaptação, e é aí que a Liberdade de pensar, escrever, debater e criar entra. E cria as respostas que já hoje começam a repercutir efeitos: nas empresas que se adaptaram para o comércio online; para as escolas que foram obrigadas a pôr em prática a tão protelada “escola virtual”; e para os restaurantes que apostaram no take-away e nas entregas ao domicílio.
Ultrapassamos hoje tempos excecionais, e estes exigem medidas igualmente excecionais, contudo, estas não devem ultrapassar o limite do absolutamente necessário, pois é com Liberdade que nos iremos reerguer. Esta pandemia vem dar lugar não a mais intervenção estatal, mas pelo contrário, de futuro, devemos separar o trigo do joio e reconhecer as provas dadas pelos Indivíduos e pelas suas criações, e retirarmos muitos tentáculos do Estado, que em tempos de paz, só atrapalham.
E como reflexão final, devemos notar que este vírus também nos vem recordar de que não somos invencíveis. É como se a natureza nos lembrasse da nossa própria Humanidade e consequentemente, da nossa mortalidade. Uma lição que não devemos esquecer.
PS: A Bosch não me pagou nem 1 cêntimo pela referência.