Nesta Semana da Paixão de 2021, ano em que se celebram os 700 anos da morte de Dante Alighieri (1265-1321), voltei à fabulosa e acidentada viagem das trevas à luz em que o poeta florentino se lançou no ano de 1300, da noite de Quinta-feira Santa a Quarta-Feira de Páscoa. E a esta viagem, odisseia ou expedição, Dante chamou A Divina Comédia. Ou só comédia, porque divina foi já um qualificativo acrescentado por Boccaccio em meados do século XIV. E Comédia porque, por oposição à Tragédia, é uma história que acaba bem.

Nada de menos neutro do que este mundo além-mundo erguido por Dante – mas nada também de mais próximo e verdadeiramente inclusivo. Dante percorre o Inferno casa a casa, círculo a círculo, fossa a fossa, pecado a pecado, tormento a tormento, do mais alto ao mais profundo, de mal a pior. Não vai só, o poeta Virgílio, o poeta da Roma do Século do Ouro e de Augusto, acompanha-o, elucida-o, protege-o, guia-o. Depois do Inferno, das profundas e quintos do Inferno, sobe a Montanha do Purgatório. E no último dos terraços do Purgatório dispensa Virgílio e é Beatriz quem passa a guiá-lo (aprendi com Martim de Albuquerque que Beatriz é mais um mito ou um símbolo de beleza e de esperança, mais um sinal de que ninguém se salva sozinho, do que a real “Beatriz Portinari” que Dante terá conhecido aos 9 anos e por quem se terá apaixonado). Virgílio volta então ao Limbo, de onde viera expressamente para a missão, e Beatriz desce dos céus, para acompanhar quem muito a tinha amado até ao ar mais rarefeito dos ciclos celestiais.

Um mundo em imagens

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