O último artigo sobre as eleições americanas, cujo resultado acertei na “mouche” (tentei ler para além das mentiras que nos impingiam há meses e confiar no bom senso dos americanos) foi dirigido em particular a quem tinha medo de Trump. O grupo que mais me preocupa para o futuro e a quem dirijo este artigo são algumas importantes figuras do centro-direita que se manifestaram publicamente a favor de Kamala Harris, cada um com as respetivas desculpas e razões. Lembro-me nomeadamente de Cecília Meireles, Marques Mendes, Sebastião Bugalho e Paulo Portas que muito prezo mas que lamentavelmente participaram no enviesamento pró-Harris na comunicação social do nosso país. Ao declarar o apoio à vitória da candidata mais à esquerda do Partido Democrata deste século (depois de Elizabeth Warren é neste período a senadora com o recorde de votar mais à esquerda) e que ao longo da campanha revelou enormes limitações, mostraram-se favoráveis a uma agenda que nomeadamente incluía:

  1. A cruzada pelo aborto livre (o candidato a VP Waltz até facilitou o infanticídio no estado do Minnesota), tendo Harris no seu currículo como procuradora o ataque sem tréguas a todos os que ousaram expor escândalos ligados à Planned Parenthood, ligada a grande parte dos abortos nos EUA. Este até foi o principal tema da sua campanha. Quando perguntada diretamente se permitia exceções a hospitais com ligações a instituições religiosas foi taxativa que não o faria.
  2. O controlo da liberdade de expressão, como por exemplo confessou Mark Zuckerberg lhe foi imposto ao Facebook pela administração Biden/Harris no tempo do Covid e o reforço do clima intimidatório, de cancelamento e censura de quem vai contra o que o wokismo dita. A nova Administração iria decidir o que é desinformação. Tudo fez para e conseguiu, por exemplo, que o Twitter fechasse a conta de Donald Trump quando ele ainda era Presidente. Valeu-nos Elon Musk.
  3. A promoção absurda da ideologia de género, nomeadamente o apoio a terapia hormonais e mutilações em jovens, mesmo sem o consentimento dos pais, que já arruinou tantas vidas.
  4. A limitação da autoridade e do Estado de Direito, seja na permissividade da entrada de imigrantes ilegais ou no “olhar para o outro lado” em desacatos violentos como os promovidos pelo BLM. Como procuradora Kamala apoiou a criação de um fundo para libertar da prisão os envolvidos nestes desacatos.
  5. Uma economia cada vez mais regulamentada e dirigida pelo Estado, com a proposta de preços controlados, introdução de novos impostos, como sobre casas ainda antes de ser vendidas e o reforço do tamanho e poder da burocracia de Washington.
  6. O ataque à tradição do funcionamento das instituições nos EUA nomeadamente com a proposta de fazer o “court-packing”, tentativa desesperada defendida por Harris para colocar no Supremo Tribunal mais juízes da preferência dos Democratas ou ainda a tentativa de acabar com o filibuster no Senado que basicamente dá mais possibilidade aos grupos minoritários para limitar a actuação da maioria para passar certas leis.
  7. A tendência para a eternização da guerra, sendo que obviamente os “falcões” como Liz e Dick Cheney se tenham passado para o lado dos democratas que nunca mostraram particular pressa ou interesse em acabar com os conflitos em Israel e na Ucrânia.

Não me revejo em tudo o que virá com Trump e haverá alguma imprevisibilidade no que fará com todo o poder que terá, nomeadamente para a Europa, mas estou-lhe muito grato por ter evitado que Harris pudesse avançar com a sua agenda e ter garantido um forte revés ao wokismo, grande ameaça à liberdade. Claro que por outro lado, como disse com muita graça o podcaster Matt Walsh que vale muito a pena ouvir, Donald Trump vai agora começar uma ditadura e, quando morrer, os filhos irão suceder-lhe. A dinastia Trump durará pelo menos 1000 anos. Não limitará os direitos de expressão das pessoas desde que concordem sempre com ele. O direito a votar das mulheres e das minorias será mantido desde que votem sempre nele. Trump irá ainda agravar as alterações climáticas de forma a que Estados costeiros como Nova Iorque e a Califórnia que votaram por Harris desapareçam debaixo dos oceanos. Está tudo no projeto 2025. Ah e as pessoas não se irão queixar porque serão proibidas de o fazer.

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