“Tenho a declarar um interesse,” declaram muitas vezes os interessados. Não obstante, a maior parte das declarações de interesse que se ouvem são pouco interessantes. Só no melhor dos casos uma profissão pública de conflito se refere a um pecadilho. E em todos os casos parece desobrigar o declarante de qualquer declaração subsequente. Ter declarado um interesse é como ter-se sido vacinado: uma vez feito, está feito; e quase sempre para sempre.
Com o facto da declaração sobrevém um bónus de dignidade praticamente internacional. Pelo preço apesar de tudo baixo de um pecadilho professado adquire-se uma forma moral de passaporte sueco. Passamos a ser aqueles que em circunstâncias de extraordinária dificuldade não fugiram à necessidade de estar à altura da responsabilidade; e de quem se imagina que nos intervalos das suas declarações de interesse pode realizar as outras exerções caracteristicamente suecas: montar estantes ao fim-de-semana, pagar impostos, ou andar de autocarro. Sendo os nossos pecadilhos deste mundo e relativos às nossas circunstâncias, ao declará-los com franqueza ascendemos a um modo moral acima deles, ou pelo menos a norte deles.
Inclinamo-nos pelo contrário a considerar aquilo por que os outros se interessam em nós como uma questão da nossa esfera privada. A esta inclinação assistem motivos e razões. O que eu fiz com aquele dinheiro, o que eu fiz ao telefone, o que eu fiz com a minha consciência, e mesmo o que eu fiz a alguém, serão questões entre, respectivamente, eu e o dinheiro, eu e o telefone, eu e a consciência, e eu e ele: somos todos adultos, incluindo o dinheiro, a consciência e os telefones. O meu apego à esfera privada pode ter um uso semelhante ao da unção com que declaro os meus interesses em público. Podem servir para mostrar que não irei responder a mais perguntas sobre certos assuntos. Quando no nosso modo mais sueco se considera inviolável a consciência de uma pessoa, entender-se-á de forma porventura menos nortenha que, depois de declarados os nossos interesses, mais ninguém poderá legitimamente voltar a considerar-nos interessantes.
Naturalmente estas situações levantam-se porque tendemos a achar de pouco interesse justamente aquilo que as outras pessoas consideram ser mais interessante a nosso respeito. Apesar de lhes explicarmos, tantas vezes com aplicação e sempre com modéstia, que aquilo que elas consideram interessante em nós não é em si interessante, os outros obstinam-se no seu erro; e praticam-no quase sem reflectir. Tendo-lhes nós lembrado o facto de havermos já proclamado dos terraços as nossas estimas veniais, continuam a suspeitar da existência de outras estimas não-declaradas, ou pelo menos em interessar-se por essa possibilidade; ignoram que é impossível a quem se vacinou apanhar tosse convulsa. As outras pessoas persistem porém em nunca se interessar pelos interesses que declaramos; e em imaginar absurdamente que nunca declaramos os interesses que lhes interessam mais.