A escola inclusiva defende a diversidade como um conceito fundamental para que o ensino seja um percurso de sucesso, para todos e para cada um. No caso dos alunos com deficiência intelectual, em que as limitações dependem das oportunidades e dos estímulos, a intervenção é a chave do sucesso. Estes alunos frequentam a escola e são capazes de aprender. Importa ajudá-los a encontrar um lugar de formação adequado, derrubar barreiras que os impedem de “Ser”, “Estar” e “Participar”. Uma minoria muitas vezes ignorada e esquecida.
A deficiência intelectual provoca no indivíduo comprometimento para viver com autonomia e independência na comunidade. Tristemente não existem medicamentos que melhorem a capacidade de raciocínio, não existem operações ao cérebro que melhorem a capacidade intelectual e também não existem intervenções diferentes ou melhores no estrangeiro das que existem em Portugal. A idade mental também não é imutável e o atraso não se mantém ao longo dos anos termina na adolescência, ou seja, um jovem aos 18 anos com uma idade mental de 12, assim permanece.
Nas escolas, consideramos por vezes que para chegar ao aluno com deficiência intelectual basta baixar o patamar de exigência e garantir assim o seu sucesso. Não considero que seja essa a estratégia mais adequada e a mais respeitadora para os alunos e para as famílias. Devemos, sim, construir o processo de aprendizagem tendo em conta o aluno, identificar todas as variáveis que se constituem como uma barreira para o prosseguimento da intervenção. A intervenção centrada nas variáveis relacionadas com o jovem terá como objetivo a eliminação ou a diminuição das limitações e a promoção de uma boa inclusão em sociedade.
Todos os alunos aprendem de forma diferente e com jovens com uma condição diferenciada como um diagnóstico de deficiência intelectual, também não podemos padronizar. O diagnóstico é importante, mas tem de haver um especial cuidado no planeamento, na correção dos impulsos e na orientação à família. Na escola, o enquadramento legal vem orientar-nos ao nível do planeamento e da organização, tendo em conta o conjunto de conhecimentos, de capacidades e de atitudes considerados importantes, para serem trabalhados por cada aluno.
O futuro dos jovens com deficiência intelectual é condicionado pela oportunidade, nem sempre representa a sua liberdade de escolha, mas sim a escolha face à oferta disponível. A escola tem assim, um papel importante, ajudar estes jovens a tornarem-se ativos economicamente. Proporcionar oportunidades de desenvolvimento das competências essenciais à vida diária e oferecer formação que corresponda às expectativas reais e às exigências sociais. Independentemente das capacidades intelectuais, espera-se se tornem indivíduos ativos e se tornem cidadãos responsáveis.
A certificação académica não garante o futuro, de nada serve se o jovem não tem capacidade para fazer trocos, andar de autocarro e ter uma vida autónoma. A escola é fonte de desenvolvimento, conquista de autonomia e de responsabilidade por parte dos atores que, quando verdadeiramente implicados numa ação coletiva, a entendem como sua e se mobilizam para a sua concretização. Preconiza-se uma escola que, para além dos professores, conta com outros profissionais, que se envolve em múltiplas parcerias para responder às necessidades da diversidade e garantir melhores resultados.
Sob um paradigma inclusivo, preconiza-se o trabalho colaborativo onde todos se complementam para delinear e implementar abordagens e metas comuns, para a transição para a vida pós-escolar do aluno. Mas, para os jovens com esta particularidade, o acesso ao emprego é difícil e o risco de exclusão social e pobreza elevado. Embora a legislação obrigue as empresas públicas e privadas a cumprir quotas mínimas de trabalhadores com deficiência, essas quotas não são cumpridas.
A transição para a vida pós-escolar do jovem com deficiência intelectual é ainda muito difícil. Após o término do 12º ano, aluno e família vêem-se confrontados com uma realidade bem diferente da que a escola lhes ofereceu, ao longo da escolaridade obrigatória. As portas das empresas fecham-se, as vagas das instituições são escassas e alunos e famílias ficam entregues a si próprios, ao desalento, desaparece o sonho, termina a caminhada.
Fica entregue à escola mais esta tarefa: explicar que estes alunos são dotados e capazes de realizar e cumprir. Mostrar que o conhecimento do aluno e a sensibilização progressiva de toda a comunidade educativa pela inclusão, pelo envolvimento e pela realização é a chave para a aceitação da diferença.
Até lá, vamos deixar que os alunos com deficiência intelectual e as suas famílias saboreiem o que de bom tem a escola, “Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos. /Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer.” (Alberto Caeiro, Para além da curva da estrada).
Doutorada em Educação pela Universidade da Beira Interior. Professora de Educação Especial. Finalista do Global Teacher Prize Portugal 2021.
‘Caderno de Apontamentos’ é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.