Sem me arrogar de direitos ou propor uma solução disruptiva para o crescimento económico do nosso país, gostaria de começar por explicar o significado do adjetivo endémico no contexto da economia.

O adjetivo pode ter várias associações, desde geográficas à Medicina, e neste caso está associado a uma doença afeta às pessoas e que é frequente numa região. Por exemplo, a malária é endémica em algumas regiões africanas ou no Brasil.

A verdade é que o desempenho económico de Portugal tem sido uma desilusão desde os primeiros anos do século XXI. Após o último período de crescimento, entre 1995 e 2000, muito assente na dinâmica do crescimento do consumo privado e da expansão do crédito aos setores de bens não transacionáveis, a economia deixou de crescer e passou a divergir face à grande maioria das economias em estado de desenvolvimento semelhante, como todos temos vindo a assistir. Na maioria das estatísticas aparecemos atrás da Estónia e seus países vizinhos.

Com os ciclos eleitorais e a curta memória que caracteriza os nossos decisores, as análises têm-se centrado nos custos económicos do ajustamento que se seguiu à assinatura do memorando de entendimento com os credores institucionais em maio de 2011. Porém, já na altura, era evidente o principal obstáculo a um crescimento mais robusto: a endémica falta de capital nas empresas, no sistema financeiro e nas famílias, assim como o seu reverso, o excessivo endividamento. Somos pequenos, frágeis e aparentemente aceitamos e aprendemos a viver assim.

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Não tenho dúvidas que, no futuro, quando olharmos para trás e para os primeiros 20 anos do século XXI, estes serão conhecidos em Portugal como anos perdidos em termos de desenvolvimento. Portanto, as perguntas que se colocam são: vamos perder mais uma década? Temos sequer margem para tal? O crescimento é o maior desafio do século e não há tempo a perder.

Corremos o risco da geração mais qualificada, mais capacitada e, naturalmente, mais exigente, não se rever num país eternamente adiado. A este título lembro-me do que me disse o meu filho regressado de Edimburgo com um mestrado em ciências biomédicas: “Pai, tenho de dar uma oportunidade a Portugal, quero fazer investigação cá.” Achei que foi uma frase incrível! Para mim, era uma coisa tão natural que nem me passava pela cabeça outra coisa. A verdade é que os indivíduos desta geração sentem-se cidadãos do mundo e trabalham onde gostam e se sentem melhor. Passado um ano, não resultou e está a responder a oportunidades por essa Europa fora. Quem não conhece ou tem exemplos destes? É uma pena, mas acontece mais vezes do que deveria.

Por isso mesmo, e não só, é que este é o momento em que Portugal, com as fragilidades que sentimos, com o enquadramento europeu que temos e com os desafios globais que identificamos, deve apostar assertivamente em fatores que podemos, de facto, controlar, desde logo, nas qualificações das nossas pessoas, mas também em criar oportunidades de crescimento para elas. Temos de apostar no empreendedorismo e na iniciativa privada, na capitalização das empresas, na investigação e na inovação, na atração de investimento, no aproveitamento dos recursos endógenos e na eficiência energética. Depois temos ainda um pilar fundamental que é a “digitalização” da economia. Tudo isto é possível, mas com vontades a bem de uma causa maior: Portugal e a responsabilidade para com as gerações futuras.

É por isso que o crescimento e desenvolvimento económico para o horizonte 2020/2030 exige que se adicionem aos atuais vetores de crescimento da economia uma nova camada de atividades mais intensivas em conhecimento e inovação, incluindo nas áreas da energia, dos materiais e da sustentabilidade.

Uma estratégia de crescimento sustentável exige uma nova geração de políticas públicas, que prima pela utilização eficiente e eficaz dos recursos públicos e uma nova, franca e transparente cultura de relacionamento com os agentes económicos, com valorização do papel da economia de mercado e da iniciativa privada. O Estado observa, monitoriza e incentiva, deve deixar de atrapalhar e criar ruído. É assim tão difícil?