No dia 6 de junho, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou o primeiro corte das taxas de juro em oito anos, em 25 pontos base. Esta decisão surge após um período de descida da taxa Euribor, depois de a inflação dar sinais de estar controlada, mas a incerteza continua: que impacto real terá esta medida no acesso dos portugueses à habitação?
A tão esperada decisão chegou, finalmente: as taxas de juro vão mesmo baixar. Se as famílias já têm vindo a sentir algum alívio nas prestações do crédito à habitação com as descidas da Euribor, que em junho desceu em todos os prazos, esta medida do BCE pode refletir-se também no crédito à habitação, sobretudo nas novas operações, mas não de forma tão acentuada como inicialmente pensado.
Através da combinação da lenta descida das taxas Euribor registada desde o final de 2023 com uma alteração da política comercial dos bancos, que passaram a disponibilizar empréstimos à taxa fixa ou mista com taxas de juro abaixo da Euribor, ainda antes do esperado anúncio do Banco Central Europeu já se assistia a uma redução da taxa média de juros das novas operações de crédito à habitação.
Se é expectável que as taxas continuem a baixar lentamente, com mais dois cortes esperados até ao final do ano, não só o alívio da política monetária se prevê lento como, considerando o atual contexto de instabilidade mundial, o que é expectável pode não ser garantido, pelo que é necessário exercer, ainda, alguma prudência.
Por um lado, é necessário que a inflação continue controlada, e por controlado entenda se à volta dos 2%, e, por outro, é preciso contar com a ausência de fatores de incerteza no panorama geopolítico internacional sendo que, obviamente, há ainda algumas zonas de instabilidade, como a guerra na Ucrânia e a ofensiva de Israel, e o fator adicional de incerteza que serão as eleições para a presidência dos E.U.A. ou mais recentemente as eleições legislativas em França, que apontam para uma vitória da extrema direita.
De qualquer forma, a expectativa neste momento é de que a inflação se mantenha controlada e que as taxas de juro possam continuar a descer de forma muito lenta e prolongada no tempo, trazendo algum alívio às prestações existentes nas suas atualizações a três, seis ou doze meses, e refletindo-se, sobretudo, na oferta de condições mais favoráveis nas novas operações de crédito à habitação.
A este cenário macroeconómico juntam-se as novas medidas propostas pelo Governo, como a garantia pública ao crédito habitação para jovens, que, embora tragam alguma esperança aos portugueses no acesso à habitação, exigem, tal como alerta o Governador do Banco de Portugal, prudência, de forma a assegurar tanto que os jovens conseguem suportar as prestações do crédito à habitação, como a estabilidade e a sustentabilidade financeira do setor bancário.
O ano de 2024 afigura-se como um período de ligeiro alívio ou, pelo menos, de estabilização, mas ainda muito dependente de fatores externos mutáveis que podem influenciar esse cenário a qualquer momento. No mercado imobiliário, e apesar das
recentes descidas das taxas Euribor, mantêm-se fatores de instabilidade como a clivagem entre a oferta e a procura, que continuam a pressionar os preços das casas e que exigirão, da parte do novo Governo, um esforço concertado e sustentado para que o acesso à habitação em Portugal se possa, finalmente, concretizar.