Sou mãe. Mas podia não ser. Era igual a vergonha que senti ao assistir ao escabroso espetáculo da chamada Comissão Parlamentar de Inquérito ao Caso das Gémeas, uma iniciativa inútil e incompreensível com o único fim de dar palco à um bando de deputados inúteis! E à custa do dinheiro dos portugueses. Uma sem vergonhice que nos deve fazer refletir!

As Comissões Parlamentares de Inquérito não são tribunais. São instâncias políticas que servem para apurar responsabilidades políticas, porque para as criminais existem os inquéritos judiciais no âmbito do Ministério Público e esse – como é sabido – já está a decorrer, inclusive com arguidos já constituídos.

Então o que querem esses inquisidores? Querem chafurdar no sangue, quais hienas esfaimadas, para poderem uivar mais alto e assim serem ouvidos pela Comunicação Social.

E conseguem! Foi um fartar vilanagem de diretos televisivos da figura de uma mãe indefesa, acabrunhada e envergonhada rodeada de inquisidores impiedosos que durante quatro longas e penosas horas repetiu à exaustão… o que já se sabia. Um êxito de audiência!

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Vamos ser claros: o “crime” da mãe em causa foi ter percorrido seca e meca para salvar a vida das suas duas filhas, tendo, no seu  desespero, eventualmente ter recorrido a conhecidos de conhecidos para acelerar o processo de ministração do tratamento. Que mãe, que pai, não faria o mesmo para salvar os filhos?

Todas as evidências levam a crer que se seguiram os trâmites normais para estes casos na obtenção de nacionalidade portuguesa para as filhas, que não se ultrapassou qualquer pessoa numa lista de espera de doentes, que a prescrição do tratamento foi efetuada por um corpo clínico livre e independente… houve ilícitos criminais? Graves não terão sido mas para isso lá está o Inquérito Judicial, para apurar toda a verdade. Assim sendo, para que serve a Comissão Parlamentar de Inquérito?

A resposta pode ser uma: não serve para nada.

Crimes de lesa-majestade, de facto! Com o oportunismo político a prosseguir, sem olhar a  meios, morais mas também monetários.

A certa altura Daniela Martins (a mãe das gémeas) pediu que o seu depoimento à Comissão Parlamentar fosse feito por videoconferência porque, sendo a principal cuidadora das suas filhas, lhe custava deixá-las a cuidado de terceiros na sua ausência na viagem a Lisboa.

Que não senhora, tinha de ser presencial. Viagem e estadia paga pela Assembleia da República, ou seja, pelos portugueses. Aí já não se coloca o problema das injustificadas despesas de saúde.

Tudo a favor do espetáculo mediático e dos interesses promocionais de deputados que ao invés de se baterem para resolver os assuntos que de facto importam, gastam o nosso dinheiro a envergonhar-nos.

Pois bem, eu enquanto contribuinte prefiro pagar para salvar aquelas vidas do que para alimentar aquele bando de irresponsáveis.

Desculpe, Mãe!