De entre variadíssimos efeitos nefastos, a atual pandemia, provocada pelo vírus SARS-CoV-2, afetou de igual forma o emprego e, consequentemente, o espoletar desmedido do desemprego. Algo plausível, visto que este é o setor mais sensível a qualquer crise.
Contudo, e apesar de atacar indefinidamente, o desemprego atingiu de uma forma desproporcionada os mais jovens. Como avançado pelo Serviço de Estatísticas da União Europeia (EUROSTAT), em outubro de 2020, Portugal apresentou, no espaço europeu, a segunda maior taxa de risco de perda de emprego para os mais jovens (entre os 16 e 24 anos), sendo apenas ultrapassado pela Espanha.
Mas, infelizmente, este drama, apesar de agravado pela atual crise pandémica, não justifica de todo a precariedade profissional vivida entre os jovens portugueses. Confira-se, para tal, outros estudos estatísticos desenvolvidos pelo EUROSTAT, nos quais, entre os países europeus, em 2019, Portugal apresentou uma das maiores taxas de desemprego na população jovem, e em 2017 apresentava a quarta maior taxa de jovens a trabalhar com contratos temporários, sendo neste último índice apenas ultrapassado pela Espanha, Eslovénia e Polónia.
Para contornar esta tendência, implementaram-se ao longo dos últimos anos várias medidas, tais como o projeto Garantia Jovem, o Qualifica e o Emprego Jovem Ativo. Colocadas em prática estas medidas, poderá então ser de difícil compreensão o porquê de a evolução no que diz respeito ao emprego jovem ser diminuta.
Assim o é, infelizmente, e mais do que desejaríamos, porque há uma inoperância geral por parte dos sucessivos governos em colmatar as outras géneses da problemática. Das quais, salientam-se as barreiras criadas pela regulação excessiva da concorrência, mas, essencialmente, a enorme diferenciação da proteção legislativa entre os contratos temporários e os contratos permanentes, tal como foi indicado pela OCDE, em 2017, como as grandes causas da alta percentagem de desemprego jovem vivida em Portugal. Daí, resultante da lacuna presente na proteção jurídica dos contratos a termo, aliado a salários baixos, a grande expressão do desemprego está na classe social mais jovem, que se torna um alvo fácil de despedimento.
E é assim que se frustra toda uma geração, diga-se que das mais formadas, que entra no mercado de trabalho e depara-se a viver em intermináveis cascatas de contratos de trabalho temporários, sem qualquer estabilidade laboral nem financeira.
A ingerência excessiva do Estado na economia, cumulada com a pouca liberdade económica, só leva ao baixo investimento no setor empresarial e ao seu estrangulamento que, consequentemente, não consegue oferecer melhores condições laborais.
É então visível que, tal como acontece noutros parâmetros nacionais, a atual pandemia só veio enfatizar os problemas estruturais que já se viviam na era pré-Covid. Assim, não se queira, com argumentos falaciosos, reivindicar de que a crise pandémica é fator fulminante e único de toda a problemática, quando a situação laboral jovem já sofria de uma crise.