A temática da igualdade de género deve ser abordada todos os dias, e não apenas em datas especiais, de modo a podermos refletir sobre as formas de a promover e falar sobre o caminho que ainda há a percorrer neste sentido. Um caminho que, é certo, tem sido marcado, ao longo sobretudo dos últimos anos, por avanços, mas ainda a uma velocidade que peca por lenta e que deveria ser motivo de reflexão.

Não há grandes dúvidas que as mulheres continuam a enfrentar desafios em várias dimensões, sendo uma destas o mercado de trabalho: falamos das disparidades salariais entre homens e mulheres, de oportunidades limitadas de progressão na carreira e até mesmo de discriminação através da manifestação de preconceitos que acabam por ter impacto nas contratações, nas promoções, nos salários, etc.

De acordo com os dados mais recentes do Índice de Igualdade de Género, referentes a 2023, realizado pelo Instituto Europeu para a Igualdade de Género, que atribui à União Europeia e aos Estados-Membros uma pontuação de 1 a 100, sendo valor máximo a tradução de uma plena igualdade entre mulheres e homens, Portugal surge em 15º lugar, com 67,4 pontos. Um valor aceitável, dirão muitos, mas se pensarmos que, desde 2020,  a posição nacional se mantém a mesma, somos levados a concluir que pouco (ou nada) tem sido feito nos últimos anos.

E, para mim, que trabalho no setor  da  saúde, é ainda mais preocupante perceber que as desigualdades de género em Portugal são ainda mais acentuadas no domínio da saúde, onde o nosso país ocupa o 23º lugar na UE, e o 24º lugar no subdomínio do acesso à saúde, estando o progresso neste domínio estagnado desde 2010.

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O acesso atempado a cuidados de saúde de boa qualidade e acessíveis, sejam estes preventivos ou curativos, já foi reconhecido como um direito, sendo, aliás, um princípio fundamental do Pilar Europeu dos Direitos Sociais. ​Contudo,  é o próprio Instituto Europeu para a Igualdade de Género que confirma, as mulheres destacam-se “como altamente vulneráveis ​​a necessidades de cuidados de saúde não satisfeitas”. Ou seja, o género continua a ser um fator determinante  ao acesso e à utilização dos cuidados de saúde.

No entanto, como é sabido, as mulheres vivem, em média, mais tempo do que os homens e sofrem também mais de doenças crónicas. Apesar deste facto, continuam a ser frequentemente levadas menos a sério quando apresentam sintomas e são alvo de menos estudo, confirma o Fórum Económico Mundial, que dá conta da existência de “grandes lacunas na investigação e na capacidade de tratamento em áreas que são exclusivas das mulheres”.

O que significa que ainda há muito a fazer e que é preciso ultrapassar os estigmas e trabalhar para pôr fim às disparidades de género, também, na saúde. Um trabalho que exige investimento, exige disponibilidade, mas, sobretudo, exige vontade, de todas e de todos.