A conquista de direitos sociais nunca foi uma batalha pelos mesmos triunfos para homens e mulheres.

Desde o nascimento da democracia, na Grécia Antiga, que não incluía mulheres, estrangeiros e escravos, até Portugal no século XX, com a I República portuguesa a não permitir o sufrágio feminino, são muitos os exemplos que ilustram a secundarização histórica e sistemática do papel da mulher na sociedade.

As mulheres têm recuperado muito do atraso civilizacional nesta matéria. A consagração da participação plena da mulher na sociedade foi o resultado de uma luta paralela da mulher trabalhadora, com direitos e com emprego a tempo inteiro e não somente a visão da mulher dona de casa, dedicada à família, diminuída na sua condição de pessoa. O progresso social e de equidade entre homens e mulheres foi e é um combate político, social, de direitos, de trabalho, mas é de forma simbiótica, o resultado do papel da escola, do papel libertador da educação.

Há vários anos que a as mulheres constituem a maioria dos estudantes do ensino superior em todos os ciclos de estudo, à exceção dos Cursos Técnicos Superiores Profissionais. Contudo, talvez a mudança não esteja a ser tão rápida quanto a maioria das mulheres desejaria e por isso subsistem desigualdades que vão sendo perpetuadas de acordo com critérios de antiguidade e desequilíbrio, com impacte negativo para as mulheres e raparigas, tanto a nível individual como para a sociedade como um todo.

Na escola, as raparigas têm melhores desempenhos e chumbam menos do que os rapazes. São cada vez mais as que chegam ao Ensino Superior, mas aquando da entrada no mercado de trabalho a situação complica-se. As mulheres não só têm menos probabilidade de ter emprego, como ganham menos do que os homens (73% do ordenado dos homens), sendo o diferencial salarial maior entre homens e mulheres com níveis de habilitação mais elevados.

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É na Academia que se constroem paradigmas, que se gera e discute o conhecimento, sendo, por isso, um espaço privilegiado para a construção e transformação sociais e para a redução de desigualdades que se perpetuam na sociedade.

Contudo, é de forma paradoxal que constatamos que a participação de mulheres em lugares de gestão nas Instituições de Ensino Superior e em posições elevadas da carreira académica é baixíssima: apenas 23% de mulheres ocupam posições de liderança, apesar de representarem aproximadamente 47% do corpo de docentes e investigadores, contribuindo para a segregação vertical.

A maior parte das estudantes mulheres encontra-se nas áreas da saúde e proteção social, ao passo que a engenharia e tecnologias de informação e comunicação suscitam interesse apenas numa minoria. Urge combater a segregação horizontal, evitar futuras diferenças salariais significativas entre homens e mulheres, diminuindo a distância entre o percurso atual e o futuro ao qual queremos chegar.

A promoção da igualdade de género integra-se numa visão equitativa e inclusiva da sociedade. Como tal, as Instituições de Ensino Superior pela sua responsabilidade nas práticas de cidadania, devem adotar políticas coerentes e identificar metas e objetivos bem claros, que fomentem um modelo de sociedade que reconhece os direitos fundamentais da pessoa, que garante o direito à realização pessoal e profissional e que põe termo a todas as formas de discriminação.

Este dia relembra a necessidade de um esforço coletivo, de homens e mulheres, para incentivar a mudança de paradigmas sociais, éticos e comportamentais e para promover uma participação alargada das mulheres em atividades de investigação, inovação e liderança estratégica e institucional. E ainda que reconheça que a participação deve ser reservada aos melhores e selecionada pelo mérito, independentemente do sexo, género, etnia, religião ou outra qualquer característica, é necessário forçar e acelerar a mudança na sociedade, tendo aqui a lei da paridade desempenhado um papel importante.

E porque a mudança na sociedade não pode ser imposta, mas antes reconhecida, a educação assume um poder preponderante, com cidadãos mais informados e esclarecidos.

Também na luta pelos direitos das mulheres, o desígnio da Federação Académica do Porto permanece inspirador: por uma Prioridade na Educação (de Homens e de Mulheres).