O diretor de turma, figura central da gestão intermédia das escolas, assume ao longo do tempo um papel multidimensional que envolve vários domínios de ação. Desde a vertente pedagógica, a de gestão, a coordenação e comunicação, são várias as funções através das quais este profissional coloca em prática técnicas e capacidades específicas.
Para Formosinho (1987), o diretor de turma ocupa uma posição importante nas estruturas de gestão intermédia da escola. Ele possui um papel fundamental numa engrenagem que envolve a coordenação das atividades dos professores do mesmo agrupamento de alunos, e a coordenação interdisciplinar horizontal. Ao longo de décadas com a entrada em vigor de diversos instrumentos legais, o diretor de turma, foi somando funções e competências, não havendo a certeza de que aos professores ao qual é atribuído este cargo se criem condições para desempenho de tal função com a eficácia e fluidez necessárias.
Para Boavista (2018), mais do que qualquer docente, o diretor de turma situa-se nesta relação bipolar, assumindo um papel de incomensurável relevância, pois ele é o guia de uma, muitas vezes, dolorosa caminhada que se pretende eficaz, rumo ao sucesso educativo dos alunos. Mais do que um ator sozinho no palco, o diretor de turma, é um diretor de atores, com participação nessa mesma peça de teatro.
Para Sá (1997), o diretor de turma, enquanto cargo de gestão intermédia, surgiu num contexto de complexificação organizacional, e tem um papel muito importante no cumprimento destes objetivos, daí a necessidade do seu trabalho ser articulado com o do Conselho de Turma.
Já em 1968, com o Decreto n.º 48 572, de 9 de setembro, fica definido que o diretor de turma, deveria promover a coordenação entre os grupos de professores e disciplinas, e ao longo das várias décadas foram surgindo vários decretos e despachos elencando as principais funções deste profissional, sem dotar as escolas e este profissional com as ferramentas e a carreira necessárias num país mais moderno, multicultural e numa escola intitulada do século XXI.
Em Portugal é bastante comum encaixar a figura do diretor de turma no centro da coordenação pedagógica a desenvolver com os alunos, tornando-se este líder numa espécie de líder pedagógico, que fomenta a inter-relação entre todos os seus pares, ligando desta forma o trabalho dos professores, ao desempenho dos alunos e por sua vez às famílias.
Roldão (1995), aponta que o diretor de turma, atua no exercício do cargo junto dos alunos, dos professores e dos encarregados de educação, e acrescenta que é ao nível dos alunos e dos encarregados de educação que essa situação prevalece na prática, mais do sobre a ação junto dos professores. Esta autora sustenta mesmo que a ação dos docentes é crucial e não pode ser separada das restantes.
Desta complexidade de funções, onde estabelece relações emocionais e pedagógicas com os alunos, onde cria condições para o trabalho colaborativo entre as equipas de docentes e promove, portanto, a gestão e coordenação curricular, e onde estabelece processos comunicacionais e emocionais juntos das famílias, será importante pensar na carreira do diretor de turma como um docente que está todos os dias no terreno a orientar as suas equipas e que merece ser valorizado.
Neste sentido, e com a entrada em funções de um novo executivo, deve-se enfatizar que “a gestão democrática da escola não é apenas, nem sobretudo, um problema organizacional e de gestão, mas antes uma questão central ao processo de democratização da educação, de expansão e realização do direito à educação, de possibilidade de educar para e pela democracia e a participação.” (Lima, 2018).
Que a nova equipa ministerial com uma agenda aparentemente mais liberal possa trazer à ordem do dia mudanças na gestão, organização, currículo e rigor que a escola tanto necessita. Que possa ser pensada e desenhada uma carreira específica para os diretores de turma, à semelhança do que é feito no mundo empresarial quando um trabalhador detém a responsabilidade de uma dada liderança intermédia. Que seja colocado em prática um modelo onde os professores possam fazer parte verdadeiramente da gestão escolar. Que os alunos através de assembleias e de projetos de cidadania possam ser agentes da mudança.
Que as escolas possam escolher os melhores professores e diretores de turma baseado em fatores multicriteriais e desta forma valorizar um percurso profissional que há muito foi esquecido e espezinhado por sucessivas campanhas de escurecimento de uma das profissões base de uma economia e sociedade sustentável — o professor e por sua vez o diretor de turma.