Estamos no mês do Natal, época festiva onde impera a família e a união. Uma fase do calendário onde a mais fleumática frieza dos nossos dias é substituída por uma chama repleta de amor. Vozes interiores gracejam palavras doces, mensagens bonitas e ações de glória. Esquecemos inclusive qualquer pensamento mais desviante, gesto pouco cortez ou ação mais acutilante. Queremos estar com a família e com os amigos em almoços, lanches e convívios sem fim.

Recorda aqueles dias em que saímos com amigos para tomar um café e comer algo doce numa boa pastelaria do bairro. Só apetece rir e dizer tudo que se pensa como se não houvesse mais ninguém a ouvir. Deitamos fora uma série de palavras feias para os políticos que gostamos menos e fazemos vénias ao que gostamos mais, e muitas vezes apenas dando atenção ao aspeto mais superficial dos seus discursos e citações.

Tudo isto é verdade, mas apenas na cabeça e na alma de alguns.

Já viram como se faz e conduz política nos últimos tempos em Portugal? Já equacionaram que estamos perante uma tenaz mudança na sociedade portuguesa com graves consequências nas ações políticas? Já denotaram o ódio e a contrainformação mesmo em época de Natal?

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Na vida como num simples lanche, é tácito que quando escolhemos um bolo olhamos para o aspeto dele e nem sempre valorizamos as calorias, a textura, nível de açúcar ou crocância.

Mas, pasmem-se portugueses, tal como escolher um bolo, escolher um líder político é um exercício de enorme reflexão, não querendo acabar a comer um seco e calórico bolo de arroz.

O menu é farto e até diversificado, ora vejamos, temos o pastel de nata, considerado por muitos o melhor, com creme de nata, e exterior folhado e crocante, mas na verdade pode comer-se em colheres e desfaz-se bastante. Já há muito tempo é bolo repetido e é altura de provar outros sabores.

Temos o croissant, brilhante por fora, com queijo, fiambre, ou manteiga, mais conservador, por vezes maior ou mais pequeno, mas sem grande rasgo de inovação.

Poderíamos escolher a bola de Berlim, vinda da antiga cortina, habituada a ter duas faces, a da esquerda e da direita, com creme no meio, ainda que alguns prefiram sem creme. Fica seca e sem graça, para mim não dá.

Menos conhecido em algumas terras, mas ainda assim com fãs espalhados temos o Milfolhas, doce e crocante, mas com uma massa muito espessa, e difícil de engolir não fosse ele cara de baunilha num dia e de avelã no outro.

O replicado Napoleão, recheado e com capa doce no exterior é livre de escolhas no aspeto, mas pouco eficaz para todos os públicos. Tem recheio e a massa pode ser mais crocante ou não, mas na verdade é bolo de difícil digestão.

Depois temos o folhado, com doce de chocolate, ovos ou frutos secos. Mas, há até quem junte salgados ao folhado! Este é demasiado complexo e desfaz-se muito para se tornar na escolha de um lanche de fim de tarde. Falta coesão, e perceber se está de um lado ou de outro.

O brownie, é internacional, doce, com vários recheios, com ou sem pepitas, traz algum rasgo, não fosse ser possível dar-lhe um ar mais liberal e juntar desde pistácio a uvas passas.

Na vida como na política escolha o bolo que o satisfaça, mas não se esqueça, que bolos há muitos, e tolos também.