Se há coisa que existe na área da gestão de recursos humanos é tendências com nomes em inglês. Umas representam a realidade, outras não tanto. No que toca a duas mais recentes, existem fortes indícios de que são um fenómeno suficientemente disseminado. Uma é a “great resignation”, outra o “quiet quitting”. A primeira representa uma tendência expressa em grandes quantidades de pessoas que desistiram voluntariamente e em massa dos seus trabalhos, no período pandémico. A segunda, a tendência que surgiu na rede social Tik Tok, na qual as pessoas cada vez mais desempenham as suas funções profissionais, sem conceder mais horas ou mais esforço adicional que não aquele que é suposto e contratado com o empregador. “Quiet quitting” é chegar basicamente à hora de saída e ir embora, sem ficar a fazer mais tarefas, não fazer nem mais um milímetro daquilo que foi acordado com a empresa.

Esta tendência parece vir contra a antiga cultura de dar o “extra mile”, como se dizia. Alguém que quisesse progredir na sua carreira dentro de uma empresa teria de dar o “extra mile”. Dar mais do que que aquilo que era suposto segundo a função requerida. Até agora, este foi um princípio não escrito de receita de sucesso para qualquer trabalhador que quisesse progredir na carreira dentro da empresa e também no seu plano estratégico pessoal e profissional. Aquele trabalhador que chegava ao trabalho e alguém lhe pedia algo que não era da sua função e respondia “isso não é da minha função”, estava condenado a uma lenta depreciação profissional. “Dá o extra mile e terás sucesso”, “veste a camisola e serás recompensado pela empresa” e “até os clientes perceberão e terás mais vendas em consequência”.

Será que este foi o estado das coisas até aqui, mas tudo mudou? Não creio que tenha mudando completamente, mas algo se está a transformar rapidamente e as empresas têm de o perceber. Hoje (já há algum tempo) passámos do primado da empresa para o primado do empregado. Tanto como na área das vendas se passou do primado da produção para o primado do cliente e ele é o centro em que tudo gravita, também as empresas perceberam que os colaboradores são o seu ativo mais precioso e comprovou-se que os departamentos, atividades e políticas de recursos humanos não servem só para pagar salários e marcar férias, mas são fulcrais e estratégicos para aumentar a performance e a satisfação no trabalho.

Num tempo em que não há pessoas para trabalhar, as empresas têm de começar elas a dar o extra mile pelos trabalhadores e não só o contrário. Num tempo em que o custo de vida aumenta vertiginosamente, as carreiras não progridem, os divórcios estão em pico, os problemas de saúde mental abundam e a vida para além do trabalho é cada vez mais valorizada, juntamente com a saúde e o bem-estar, as empresas têm de deixar de se focar em si e focar-se naquilo que lhes permite fazer números e criar valor, as pessoas. Sem as pessoas, as empresas não são nada, são edifícios. Até a inteligência artificial e os algoritmos são criados por pessoas.

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