Num horizonte já não muito distante, é possível que as espinhas venham a ter mais valor do que o peixe que comemos. Elas são usadas já hoje para fazer suplementos alimentares ou próteses médicas, e as indústrias farmacêutica e nutracêutica pagam muito dinheiro por estes subprodutos. Subprodutos que são resíduos para umas indústrias, mas matérias-primas com muito valor para outras.

A indústria do salmão na Noruega deparou-se com um problema grande para resolver há uns anos, na sequência da explosão do consumo de salmão, em particular fumado e em filete: o que fazer com uma enorme quantidade de resíduos, como espinhas, pele e olhos? A academia e os centros de investigação dedicaram-se então a procurar alternativas, num verdadeiro esforço nacional com apoio público e privado e, hoje, estes resíduos são integralmente aproveitados como matérias primas para algumas das indústrias mais rentáveis a nível mundial.

Portugal tem todas as condições para percorrer o mesmo caminho e até assumir uma posição de liderança, já que além dos resíduos do pescado, em particular da crescente indústria da transformação de pescado, beneficia ainda de uma enorme biodiversidade, no seu vasto oceano, e essa biodiversidade é a matéria-prima única e valiosa que estes setores procuram. E dispõe também das competências tecnológicas e do conhecimento nos vários centros de investigação de classe mundial, distribuídos por todo o país.

Torna-se crucial, face aos desafios que o planeta enfrenta, conseguir dissociar o crescimento da economia da deterioração do ambiente marinho e das zonas costeiras e promover uma nova economia azul, que acelere essa dissociação e que permita retirar riqueza do oceano sem o prejudicar. O mundo moderno e global deve encontrar um novo modelo que separe o crescimento económico da degradação do ativo que explora, através de soluções de sustentabilidade, como a promoção de uma economia circular, que permita reduzir drasticamente a exploração dos recursos naturais do Planeta. E é precisamente isso que estas empresas estão já a fazer. São indústrias inovadoras e com elevada incorporação de conhecimento científico e geram um valor acrescentado elevado, que resulta em produtos, processos e serviços com aplicação em muitos setores, como a farmacêutica e nutracêutica, a indústria alimentar, a indústria da cosmética, têxteis, na criação de materiais de bio remediação e outros biomateriais, biocombustíveis, entre muitas outras.

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Neste contexto, o Programa recentemente lançado pela Fundação Oceano Azul e pela Fundação Calouste GulbenkianBlue Bio Value – é uma oportunidade para promover esta mudança e criar valor de forma sustentável. Trata-se de um programa de aceleração de empresas sedeado em Portugal, que visa multiplicar as oportunidades de negócio ao longo da cadeia de valor dos biorrecursos marinhos, incluindo da biotecnologia marinha. O Programa irá juntar inovação, valor acrescentado e investigação, ao empreendedorismo, cada vez mais reconhecido como uma via importante no desenvolvimento económico de qualquer país, sendo um forte gerador de emprego e crescimento.

Iniciativas como esta são contributos efetivos para acelerar a transição para uma bioeconomia azul, sustentável e produtiva, que promova um oceano mais saudável. Não tardará para pedirmos num restaurante uma travessa de espinhas para levar!

Fundação Oceano Azul