O que aconteceu na passada noite de domingo na cerimónia de entrega dos Óscares é comparável a alguém que entra em sentido contrário numa estrada porque não entendeu ou descodificou mal o sinal e embateu de frente com um camião!
Ao que tudo indica a PricewaterhouseCoopers (PwC) já encontrou o culpado pela balbúrdia na entrega dos Óscares. No entanto e cá para mim o culpado… é a inexistência de hierarquia da informação, é a relevância que se dá à beleza e à futilidade dos objectos gráficos. É, em última análise, a ausência de pensamento crítico de quem desenvolveu aquelas peças gráficas.
Nós dependemos fortemente de símbolos e combinações de letras e palavras para nos guiar no nosso dia-a-dia. No nosso quotidiano, as sugestões visuais como sinais de trânsito, publicidade, cinema e televisão são as marcas evidentes da comunicação visual. Nós confiamos nos sinais, gráficos e escritos, e seguimo-los sem hesitar. Mas se todos os sinais, símbolos e estímulos que se atravessam na nossa frente todos os dias servem para nos guiar e para nos informar eles têm de ser claros e inequívocos para todos nós. A comunicação gráfica eficaz não deve deixar espaço para interpretações díspares. A sua função é passar uma mensagem da forma mais segura e directa. Exactamente o oposto que assistimos na entrega do Óscar de melhor filme.
Pode ler-se na página fastcodesign.com algo como “the Academy has over 6.000 members, but not only a single graphic designer, apparently”.
Eu arrisco dizer que os designers estão lá, são é muito fracos!
É caso para dizer “devolvam o design aos designers”.
Não estamos claramente a falar de casos de vida ou morte, em que o design pode realmente salvar-nos, como o exemplo claro do código da estrada, ou como um sistema complexo de orientação num país asiático.
A verdade é que os designers gráficos mais competentes e familiarizados com a psicologia de Gestalt e com as teorias da percepção visual, os que melhor pensam em servir um propósito, seja num ambiente de lazer, como na entrega dos Óscares ou num ambiente de stress, como um hospital, conseguem desenvolver melhores imagens visuais, melhores sinais e melhores mensagens que sirvam o propósito: ajudar a que a mensagem passe de forma eficaz.
Sei que é redutor limitar a acção do design gráfico, no caso específico dos Óscares, a uma simples ajuda visual, mas foi isso exactamente o que faltou: ajudar o “Dick Tracy” a ler melhor a mensagem. E a não cometer o erro de chamar um vencido a receber um prémio.
A verdade é que somos constantemente bombardeados com mensagens, todas a tentar fazer-nos olhar, a fazer-nos ouvir, a fazer-nos reagir. A forma como interpretamos uma mensagem pode ajudar-nos, pode fazer-nos rir, pode informar-nos, pode qualquer coisa… pode até em última instância salvar-nos! Mas pode também destruir-nos. Destruir uma percepção, destruir um evento, destruir uma marca.
Obviamente que não estamos perante um caso de vida ou de morte deste ou daquele actor ou deste ou daquele filme, mas se nos colocarmos em perspectiva, o design daquele cartão, não destruiu, mas fragilizou a marca “Óscares” e a marca “PwC”.
Se o design assenta em três vectores basilares: forma, matéria e informação. A informação falhou claramente.
Volto por isso a dizer: “devolvam, por favor, o design aos designers”! Porque a culpa, nem sempre é do mordomo.
Vice Director do IADE na Universidade Europeia; carlos.rosa@universidadeeuropeia.pt