O período eleitoral está próximo. Os partidos entre as estratégias, as jogadas, os corredores, os financiamentos e até, quem sabe, algumas propostas, cerram as suas fileiras.
Sim, os partidos. Esses cancros da sociedade como tão vulgarmente lhes é apelidado. Sim os partidos, aqueles garantes da democracia que, dia após dia, nos fazem a nós, cidadão comum, afastar dela. A vexatia quaestio é o por quê desta automutilação.
Na verdade, todos os partidos, fora os radicalismos inerentes a uns deles, consentem o sistema da democracia como “o pior dos regimes políticos, mas não há nenhum melhor que ela”. A ideia subjacente a este paradoxo encontra-se alicerçado na representatividade. Ainda assim, como podemos verificar hodiernamente, não existe representação política fiel. Assim, as democracias, com especial enfoque na portuguesa, entraram em crise de indiferença.
O pressuposto da representatividade é fundamental num sistema multipartidário (negocial) parlamentar, como é o nosso. No entanto, nós, o cidadão comum, encontra uma tremenda dificuldade em conseguir traduzir os seus votos nos seus desejos.
Logo à vista saltam dois factores: a territorialidade e o discurso. A questão territorial é essencial na medida em que pequenos grupos de pessoas elegem um dos seus para os representar. A expressão máxima parlamentar assenta no facto de ser a vox populi desses pequenos grupos de eleitores. Assim, tanto o interesse como a responsabilização directa política iria aumentar. A representatividade iria-se tornar mais fiel, cumprindo o fim que justifica a necessidade de uma democracia.
Também a questão discursiva assume enorme importância. O modus operandi da política do séc. XX está morto. Imprimir uma ideia de sociedade — que resolva todas as questões e tensões sociais — é a razão de ser da política. Porém, ninguém compra um pacote sem antes ter provado as bolachas. As bolachas são as “causas” e estas, apesar de não aparentarem o peso ideológico, carregam em si pontos de partida para agendas claramente definidas.
Noutros tempos os partidos tinham bandeiras. Posições políticas estáticas sobre um período temporal. No entanto, com a velocidade da informação, com o crescimento do interesse sobre o pormenor, o que releva são as causas. Estas não são passíveis de serem cristalizadas no tempo. Elas assumem enorme volatilidade, tendo uma capacidade mobilizadora e transformadora de muito maior amplitude. As causas são tão voláteis como as opiniões da sociedade civil, são o espelho de um crescimento de uma nova sociedade política. A ordem natural está invertida. Ou existe adaptação ou o convencionalismo tem a morte como destino.
Assim, as legislativas estão à vista e os partidos políticos tem de assumir estes seus flagelos. Ainda é possível acreditar que estas organizações, quando orientadas para o bem comum, são o mais fiel garante de uma democracia representativa. No entanto, é absolutamente essencial que interiorizem que as debilidades do sistema não podem ser as desculpas dos partidos. Infelizmente de tudo farão de tudo para evitar as culpas.
Estudante universitário