Uma semana após a estreia da telescola das criancinhas (e aqui uso o diminutivo propositadamente, já que me refiro a idades entre os três e os cinco anos), quis o destino que o trabalho requeresse a minha presença à mesma hora que a educadora me/nos espera, de segunda a sexta-feira, das 9 horas às 12:30 horas.
Notificado o outro progenitor, com cinco dias de antecedência para que se reorganizasse no emprego a fim de poder prestar à filha a assistência necessária, a sua primeira reação foi quase semelhante à de um choque elétrico: – Quem, eu?!
Calma, penso para comigo. Respira fundo e repete, só que mais devagar. Meu trabalho. Nossa filha. Exceção. E a mensagem lá passou. Em X dia, a manhã seria para acompanhar a primogénita na tarefa hercúlea de ouvir histórias, pintar desenhos, ligar pontos numerados, decalcar as vogais e contar até 10.
A principal dificuldade na divisão dos cuidados prestados aos filhos não reside, propriamente, no “tu fazes isto, eu trato daquilo”. Como me dizia um amigo, a este propósito: “Nós, homens, pintamos a realidade 10 vezes pior do que é, para vocês, do alto do vosso ego, pensarem que só as mulheres é que são capazes.”
Sério? “Claro. Assim, vocês assumem tarefas que, sendo demasiado simples, na verdade só nos aborrecem, motivo por que não estamos dispostos a fazê-las. LOL [Risos]». Tão simples quanto isto. E, como qualquer mãe que se preze quer – e bem – o melhor para os seus filhos, toca de ser sempre a protagonista.
Os resultados estão à vista, sendo por demais conhecidos: apesar de terem melhores qualificações, as mulheres encontram-se empregadas em maior número nas áreas viradas para os cuidados, em que o ordenado é inferior. Se isso não acontece, a sua progressão na carreira é mais lenta. E por aí fora.
Assim sendo, qual é a solução? Não infantilizar o pai da(s) criança(s), nem se assumir como a sabichona da casa. Da mesma forma que foram precisos dois para fazer a cria, também os seus cuidados podem e devem contar com a contribuição de ambos. Não correu bem à primeira? Da próxima corre melhor.
O meu pai nunca me trocou uma fralda, arenga a minha mãe. Pois hoje fá-lo ao neto. Já a pôs ao contrário? Sim. Alguém morreu por isso? Não. O pai dos meus filhos é perfeito? Não. Tal como eu. No entanto, se os dois trabalhamos fora de casa, é justo que os dois assumamos o nosso papel enquanto educadores.