Os partidos políticos escolheram os seus candidatos e de uma forma geral escolheram bem. À esquerda, tanto o Partido Comunista como o Bloco de Esquerda escolheram cabeças de lista experientes e com uma visão clara e conhecida por todos daquilo que defendem e pretendem para a Europa e para o país na Europa. Também à esquerda, o Livre escolheu um bom cabeça de lista, apesar das turbulências internas provocadas por um mecanismo eleitoral que necessita de ajustes futuros.

À direita a Iniciativa Liberal maximizou as suas oportunidades com a escolha de João Cotrim de Figueiredo, e o Chega necessitou de encontrar outro cabeça de lista que não André Ventura porque, embora não lhe falte vontade, não tem condições para candidatar o seu presidente a todos os atos eleitorais — autárquicas, legislativas, europeias e presidenciais.

O Partido Socialista assumiu um risco significativo, predominantemente interno, ao excluir todos os seus eurodeputados eleitos nas últimas eleições. Esta decisão corajosa carrega um forte simbolismo para os militantes que valorizam a renovação e a alternância na composição das listas partidárias. Contudo, para o eleitorado comum, esta mudança radical tem pouco ou nenhum impacto, especialmente considerando que, infelizmente, a maioria dos eleitores não reconhece os eurodeputados portugueses.

Como cabeça de lista, Marta Temido foi escolhida com o objetivo de projetar confiança, segurança e competência, qualidades que de facto transmite, consolidadas pela sua atuação durante a pandemia. Com candidatos como Francisco Assis e Ana Catarina Mendes ao seu lado, a lista torna-se uma proposta sólida e promissora. No entanto, o Partido Socialista possuía todas as condições para apresentar um cabeça de lista mais impactante e de maior destaque.

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A Aliança Democrática, e particularmente o PSD, enfrentou riscos tanto internos como externos ao escolher um comentador político como cabeça de lista para as eleições europeias. Era necessário um partido com o valor histórico do PSD, tradicionalmente visto como uma força de governo, recorrer a esta estratégia? Não. O PSD tem nos seus quadros pessoas capazes e com visibilidade, aptas a inspirar confiança e a atrair votos. No entanto, esta estratégia mostra-nos a postura de um partido a perder identidade e ideologia ao longo do tempo, procurando votos através da notoriedade televisiva de um comentador político, privilegiando o mediatismo em detrimento dos valores ideológicos e princípios políticos fundamentais.

Ser político ou estar na política não é aquilo que Sebastião Bugalho fez até aqui. O que fez até aqui foi comentário político enquanto jornalista. E fez bem. Só não fez bem aproveitar-se da sua qualidade de jornalista para promover uma exagerada ânsia de chegar à primeira linha da política. E é disso que se trata. Sebastião Bugalho assumiu-se como jornalista quando interessou e integrou as listas do CDS quando lhe interessou. Claramente que a importância do jornalismo na democracia não é aquela que Sebastião Bugalho nos mostra com o seu trajeto.

Sebastião Bugalho é indubitavelmente inteligente, um excelente comunicador e comentador, e pode até vir a ser um bom eurodeputado. Contudo, o PSD não necessitava de recorrer a si para aspirar à vitória nas eleições. O partido quis capitalizar o mediatismo de Bugalho para se aproximar dos segmentos mais conservadores e radicais da direita, revelando as verdadeiras intenções e representações políticas do seu cabeça de lista.

Tanto o PS como o PSD poderiam ter evitado tais riscos para alcançar sucesso nas eleições europeias.

Mas apesar de tudo, parece que desta vez e até ao dia das eleições debateremos aquilo que realmente importa: a Europa. Ao contrário daquilo que aconteceu em eleições europeias passadas e muito pelo contexto europeu que se vive hoje, os partidos políticos sentem-se obrigados a falar mais da Europa, do que a utilizá-la para fazer política interna.

Hoje todos estamos mais conscientes do que a Europa representa para nós e do seu papel na nossa segurança, saúde e bem-estar e por isso exigimos mais aos partidos no que toca ao desempenho português no parlamento europeu.

É por isso tempo de refletir, ouvir e mobilizar. Votar é nosso dever. Votar é uma expressão poderosa da nossa responsabilidade e consciência cívica.