A população em Portugal está a envelhecer. E a passos largos. De acordo com dados da Pordata, para além do aumento da idade média dos portugueses e portuguesas de 38,5 para 47 anos em apenas duas décadas, a população idosa (65 anos ou +) em Portugal tem crescido, genericamente, mais de 2% ao ano, desde 2019, sendo que no atual contexto demográfico de um país com cerca de 10 milhões de habitantes são mais de 2,5 milhões as pessoas consideradas idosas, inclusivamente mais de 3 mil pessoas centenárias.
Com efeito, Portugal é, a par da Itália, o país da União Europeia com maior percentagem de população idosa, com quase o dobro dos idosos face aos jovens: são 186 idosos por cada 100 jovens. Junte-se a estes dados o facto de que, atualmente, em Portugal, há mais de 300 mil pessoas com 75 anos ou mais anos que vivem sozinhas. Só em Lisboa, são quase 24 mil.
A grande conquista que as sociedades contemporâneas obtiveram com o aumento da esperança média de vida não foi acompanhada pela atenuação do impacto que este aumento de número de anos teve na qualidade de vida, que traz per si um desafio à medicina e aos avanços do impacto do envelhecimento biológico do nosso organismo. As mudanças sociais e demográficas verificadas no último século trouxeram uma nova conjuntura e alteração do suporte familiar que tem também o seu maior impacto com o avançar da idade e na população mais velha, criando um afastamento do seu papel na sociedade, uma insatisfação relacional, sentimento de perda de valorização e capacidades e uma perceção de ausência de figura de apego emocional.
É urgente agirmos enquanto sociedade comprometida que sabe, por evidência, que o futuro se constrói com as raízes do passado. Em nome de valores como a Solidariedade Intergeracional, temos de capitalizar o enorme potencial que o conhecimento, as relações, as interações, a presença e as amizades fomentam, para nos facilitar o futuro.
É precisamente com esse objetivo que a Associação Alegria de Viver quer criar as Comunidades Alegria de Viver. Comunidades mais solidárias, inclusivas e participativas, onde ninguém se sinta só e onde nunca é tarde para estar com os seus amigos, vizinhos e conhecidos, promovendo boas relações sociais, que são absolutamente essenciais para um envelhecimento com qualidade e bem-sucedido.
De facto, a grande força da Alegria de Viver está na promoção do fortalecimento de relações entre membros de uma comunidade, com atividades, equipa e valores âncora, permitindo o estabelecimento seguro de rotinas que os despertam para o início de outras atividades e para a criação de novas amizades, para a capacidade de encontrarem um lugar na sua própria comunidade que, consequentemente, diminuirá sentimentos de solidão e de isolamento social.
Uma comunidade faz-se da interação e da integração de todos os seus membros. Sem exceção. Todos fazem parte e todos contam. Uma comunidade orgânica que reconhece a individualidade de cada um, a posição de uns face a outros, a possibilidade de diferentes motivações, aptidões e propósitos. O sentimento de pertença numa comunidade traduz-se numa melhoria do dia-a-dia de cada um dos seus membros, seja através do restabelecimento de laços ou através da criação de novas relações, as várias gerações podem contribuir para melhorar a vida coletiva. É isso que fazemos na Alegria de Viver.
Um dos fatores mais importantes para envelhecermos bem é a nossa rede social. É de extrema relevância que esta seja forte e ativa. As pessoas que fazem parte da nossa vida são preponderantes para sentirmos que alguém se preocupa connosco, que sente a nossa falta, que não estamos sozinhos. A promoção desse convívio e desses contactos contribui para uma melhor saúde emocional e mental. Infelizmente, nem sempre nos preparamos para ficarmos mais velhos e para enfrentarmos os desafios que o envelhecimento traz consigo. São demasiados os casos de solidão e de isolamento social. O estigma de pedir ajuda ou o sentimento de que nos tornamos progressivamente “um peso” ou “um empecilho” são obstáculos que, numa comunidade mais próxima e intergeracional, são mais fáceis de ultrapassar.
É urgente agirmos, sermos Comunidade! Ajudarmo-nos mutuamente, estarmos atentos, respeitarmo-nos e sermos voz ativa na nossa comunidade. Assim, desta forma, podemos contribuir para que todos os dias contem.
Todos temos um papel a desempenhar na criação de uma sociedade mais inclusiva e empática, onde as pessoas mais velhas são valorizadas. Envelhecer de forma saudável e positiva é possível quando se coloca o foco nas relações interpessoais e no apoio mútuo, promovendo um envelhecimento ativo e com propósito. Ninguém está sozinho.
Que a alegria seja uma rotina!