Não podemos mais olhar para o envelhecimento como o fim da vida, isso era quando a esperança média de vida era de 60 anos. Hoje em dia vive-se mais tempo e é urgente que façamos tudo para viver esses anos de forma o mais equilibrada, saudável e ativa possível. À medida que os anos avançam, e a inevitabilidade do envelhecimento se torna mais evidente, a importância de um companheirismo genuíno torna-se cada vez mais premente. Embora os avanços da medicina e as escolhas de um estilo de vida saudável sejam, de facto, componentes cruciais para envelhecer bem, o poder da amizade pode aumentar o bem-estar físico, emocional e mental de uma pessoa.
À medida que vamos envelhecendo, as mudanças físicas e as transições de vida podem levar a uma redução das interações sociais. De repente estamos reformados (a maioria com um valor mensal muito baixo), começam a perder-se os entes queridos, a saúde e infelizmente, muitas vezes, o poder de ter escolhas sobre a sua própria vida. É nesta altura que é importante cultivar as amizades que restam, vencer a inércia que pode atingir-nos, combater as alterações na saúde e lidar da melhor maneira possível com o vazio difícil de preencher pelas perdas que vão ocorrendo.
O dicionário de língua portuguesa diz-nos que amizade é a relação afetiva entre os indivíduos. É o relacionamento que as pessoas têm de afeto e carinho por outra e que por elas possuem um sentimento de lealdade e proteção (in Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora, 2021). Pegando nesta definição, percebe-se que as relações interpessoais trazem relações de amizade e as relações interpessoais estão na base da essência do ser humano, enquanto ser social. Existem estudos que relacionam a solidão com resultados adversos para a saúde, incluindo um risco acrescido de depressão, ansiedade, doenças cardiovasculares e declínio cognitivo. Ter amigos com quem se pode partilhar alegrias e tristezas, risos e lágrimas, cria um sentimento de pertença pode contrariar os efeitos negativos do isolamento.
A importância da amizade reside, não apenas no apoio emocional que proporciona, mas também em benefícios fisiológicos e cognitivos. A participação em interações sociais regulares desencadeia a libertação de hormonas que promovem uma sensação de bem-estar (o nosso cérebro liberta endorfinas, dopamina e oxitocina) e reduzem o stress (diminuindo a produção de cortisol). Este equilíbrio hormonal pode levar a uma melhoria do sono, a um reforço do sistema imunitário e a um menor risco de doenças crónicas e facilmente se percebe um aumento do bem estar geral.
Os amigos podem servir, muitas vezes, de parceiros responsáveis pelas nossas escolhas. Se for por um estilo de vida saudável, tanto melhor. Podem encorajar-se mutuamente a manterem-se fisicamente ativos e a comerem bem, muitas vezes deixar de fumar pode ser mais fácil com uma motivação extra.
Os benefícios cognitivos da amizade são igualmente notáveis. A participação em conversas estimulantes, debates e a partilha de experiências de vida pode ajudar a manter a mente ativa e ágil. O envolvimento intelectual, através de interações sociais, pode atrasar o início do declínio cognitivo e reduzir o risco de doenças, como a demência por exemplo.
As amizades podem ainda, dar um sentido adicional à vida dos mais velhos. Fazer parte de um círculo social significa, muitas vezes, participar em atividades partilhadas, passatempos ou voluntariado, o que pode trazer um sentido renovado de realização e dar mais significado à vida. A amizade proporciona oportunidades de crescimento pessoal e de aprendizagem, dissipando a noção de que os melhores anos já passaram.
No entanto, fomentar e manter as amizades na velhice pode exigir um esforço. Mas na verdade, sem esforço, não se atingem grandes feitos na vida, e será um grande feito contrariar a realidade atual, na qual as famílias muitas vezes estão dispersas, ou demasiado ocupadas com as suas vidas. Adaptar-se e ter a capacidade de procurar novos círculos sociais, através de grupos comunitários, clubes ou oportunidades de voluntariado, não recear a utilização da tecnologia também é fundamental. Pode faltar motivação, porque as perdas de que falamos são pesadas, mas há que contrariar isso! Não criar fossos, em vez disso, tentar fazer novas ligações através de plataformas como redes sociais ou videochamadas, procurar respostas sociais inovadores, que começam a surgir, de acordo com os gostos de cada uma.
Como indivíduos e como sociedade, temos de mudar o paradigma: envelhecer traz perdas, sim, mas também traz benefícios. Podemos dar prioridade e celebrar os laços de amizade, nesta fase da vida temos mais tempo e ainda vamos bem a tempo de reescrever uma narrativa positiva e feliz do envelhecimento, transformando esta fase da vida num capítulo marcado por amizades improváveis e novas experiências que valem a pena ser vividas!