A excessiva politização em redor do termo ESG tem levado alguns autores e empresários a pôr em causa o conceito e sua utilidade para as empresas.

O epicentro desta politização é nos EUA onde o termo entrou nas guerras culturais.

Os políticos e empresários mais conservadores, geralmente ligados ao Partido Republicano, consideram que o foco da ESG foi ampliado e está a ser usado para promover uma agenda política progressista.

Em março de 2023, o Senado votou (com dois votos de senadores Democratas) para anular uma regra do Departamento do Trabalho que permite aos administradores fiduciários de fundos de pensões considerar alterações climáticas, boa governança corporativa e outros fatores ao fazer investimentos em nome de participantes de planos de pensão. A proposta foi imediatamente vetada pelo Presidente Biden.

A nível estatal, o cenário dos EUA está cada vez mais fragmentado. 18 Estados dos EUA propuseram ou adotaram regulamentações anti-ESG A maioria dos estados com regulamentação anti-ESG inclina-se politicamente para o Partido Republicano, mas há exceções, como Arizona e Minnesota, que também propuseram este tipo de legislação. Em contraste, 10 estados dos EUA próximos do Partido Democrata promulgaram regulamentos pró-ESG ou estão em processo de fazê-lo. Os Estados anti-ESG promulgaram leis ou adotaram ações regulatórias na forma de declarações ou diretivas políticas que visam proibir ou desencorajar entidades públicas de considerar fatores ESG ao investir recursos estatais. Essas medidas incluem a proibição da consideração de fatores “não pecuniários” por fundos de pensão públicos como sendo inconsistentes com o exercício de deveres fiduciários, proibindo a consideração de fatores ESG ao investir fundos de pensões estatais ou visando empresas que “boicotam” setores como combustíveis fósseis ou empresas de armas de fogo— e asrespetivas cadeias de valor.

Será que a ESG é apenas mais uma moda da chamada cultura woke (em inglês aware of and actively attentive to important facts and issues)?

O termo ESG data de 2004. Implica que os investidores avaliem as empresas com base não apenas em seu desempenho financeiro e comercial, mas também no seu histórico ambiental, social e respetiva  governança, normalmente usando pontuações numéricas.

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A ESG começou por ser um nicho de mercado, mas, numa década, tornou-se mainstream. De acordo com a Global Sustainable Investment Alliance (GSIA), em 2016, US$ 23 trilhões, ou 26% de todos os ativos sob gestão, estavam em “investimentos socialmente responsáveis” que levam em conta questões ambientais, sociais e de governança (ESG). Segundo Stuart Kirk, colunista do Financial Times, no Forum Negócios  Sustentabilidade, em Janeiro de 2023, este mercado está em amplo crescimento dado que empresas com ativos de cerca de 60 biliões de dólares já cumprem alguns critérios de ESG, isto é, cerca de 50% de todo o mercado global de ações.

Vários fatores, como a crescente consciencialização sobre os riscos das mudanças climáticas nos anos desde o Acordo de Paris de 2015, eventos climáticos extremos que desafiam a sobrevivência humana e ameaçam o crescimento econômico e a maioridade de uma nova geração de investidores que priorizam considerações ESG. Estamos perante um conceito complexo e difícil de medir tendo em conta que envolve matérias (ambiente, social e governança) e métricas muito diferentes e que se torna ainda mais difícil devido a escassez  de dados e diferentes abordagens nacionais e regionais para a respectiva regulamentação.

As considerações ambientais mais glosadas são a mitigação e adaptação às mudanças climáticas,  mas é fundamental ter em conta o ambiente de forma mais ampla, por exemplo, a preservação da biodiversidade, prevenção da poluição e economia circular. Considerações sociais podem-se referir a questões de desigualdade, inclusão, relações laborais, investimento em capital humano e comunidades, bem como questões de direitos humanos. A governança de instituições públicas e privadas – incluindo estruturas de gestão, relações com funcionários e remuneração executiva – desempenha um papel fundamental para garantir a inclusão de considerações sociais e ambientais no processo de tomada de decisão.

Para evitar o greenwashing Governos e instituições procuram criar regras e métricas que possam dar algumas garantias aos investidores e ao publico em geral. No entanto, as abordagens adotadas diferem amplamente desde os regimes voluntários, a regulação. O foco também é diferente enquanto na  Europa e no Reino Unido este tem sido principalmente em fatores ambientais (especialmente considerações relacionadas com as alterações climáticas) Os EUA concentraram-se mais, numa fase inicial, nos aspectos sociais do ESG.

A Comissão Europeia publicou, em 2018, o Plano de Ação para as Finanças Sustentáveis com o objectivo de criar um roadmap para fianças sustentáveis de modo a  canalizar mais investimento publico e privado para a transição para uma economia neutra em termos climáticos, resiliente, eficiente em termos de recursos e justa. Este roadmap pretendia igualmente integrar Integrar sustentabilidade na gestão de riscos promover a transparência e o foco no longo termo.

Na sequencia do Pacto Ecológico Europeu, foi apresentado, em 2021, o pacote normativo ESG.

Estas propostas irão afetar um cada vez maior numero de empresas da UE ou empresas ativas na UE (âmbito total ou âmbito direcionado, dependendo do volume de negócios e do número de funcionários).

Este pacote legislativo constitui um desafio para todos os que operam nos mercados financeiros – em especial, as empresas emitentes e cotadas, as gestoras de ativos, os intermediários financeiros e os reguladores. É importante destacar que, devido à complexidade e relativa novidade deste tema, esta legislação está em constante evolução. Mudanças cruciais estão a ser continuamente revistas e discutidas a nível regulamentar para introduzir melhorias à luz da experiência acumulada e da evolução técnica e científica.

As regras da UE relativas a ESG estão na vanguarda dos esforços globais e estão a ser seguidas em outras geografias

Se não existir uma supervisão apropriada aumentam as hipóteses de greenwashing. No entanto as autoridades começaram a prestar atenção. Em 2022 a polícia alemã iniciou uma investigação à DWS uma instituição financeira subsidiária do Deutsche Bank, devido a uma denúncia de greenwashing em termos de reporte ESG dado que muitas das informações apresentadas quer nos relatórios quer na publicidade institucional seriam infundadas, exageradas ou mesmo enganosas.

Depois deste enquadramento importa responder a questão inicial:

Investimento na sustentabilidade não se destina apenas a melhorar a imagem das empresas é um investimento que é, por natureza, mais resiliente possibilitando não apenas retorno em termos ambientais e sociais, mas também econômicos criando valor para a companhia no longo prazo.

A resiliência deriva em primeiro lugar do próprio modelo de negócio sustentável que procura reduzir o desperdício e consequente produção de resíduos e tornar a empresa mais eficiente reduzido o consumo de matérias-primas, água e energia.

Uma empresa sustentável está igualmente mais preparada para enfrentar riscos regulatórios que advirão de uma crescente preocupação das autoridades com o combate ao desperdício, poluição e alterações climáticas e aos riscos naturais que tenderão a aumentar. Por exemplo uma empresa que minimize a produção de resíduos estará melhor preparada para enfrentar as oscilações dos preços das matérias-primas primas o aumento das taxas de gestão de resíduos ou dos sistemas de responsabilidade alargada do produtor. O mesmo se verifica relativamente aos preços da energia para empresas que apostem na eficiência energética e no autoconsumo de energias renováveis.

Finalmente as empresas sustentáveis não correm o risco de ficarem com instalações ou equipamentos obsoletos devido a transição para uma sociedade de baixo carbono.

Nos últimos dez anos 77% dos investimentos na área da Environment and Social Governance (ESG) resistiram enquanto apenas 46% dos investimentos nas áreas tradicionais sobreviveram.

O investimento na área ESG tem vindo a crescer a nível mundial e em Portugal. Em 2021 foram emitidos mais de 3000 milhões de Euros em obrigações ligadas a ESG por empresas como a Mota Engil, Greenvolt, EDP, BCP, REN.

Em janeiro de 2023, João Pratas, presidente da Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios (APFIPP) afirmou, numa entrevista ao Jornal Expresso, que existem em Portugal cerca de 45 fundos de investimento mobiliários enquadráveis nos artigos 8.º e 9.º do SFDR (40 no artigo 8.º e cinco no artigo 9.º), e que os fundos, com características ESG, eram responsáveis, em setembro de 2022, por quase 60% do total gerido pelos fundos de investimento mobiliários.

Na minha opinião a ESG não é uma moda. Perante a crescente evidência cientifica relativa a necessidade de transição para uma economia mais sustentável, a pressão regulatória dos Governos e a exigência da opinião publica todas as empresas terão que se reinventar e adotar politicas e procedimentos sustentáveis. A ESG poderá ser um instrumento fundamental neste processo.