Os promotores da eutanásia na anterior legislatura, para justificarem a aprovação da lei, usaram, ad nauseam, o argumento de que dispunham de maioria parlamentar, a qual seria representativa da vontade maioritária do povo português nessa matéria, isto apesar do parecer negativo das Ordens dos Médicos, dos Advogados, dos Enfermeiros, do CNECV, da Associação Nacional de Cuidados Paliativos, ou do pedido de referendo subscrito por quase 100.000 cidadãos, como aqui se assinalou muito recentemente.
Ora, como menos de um ano depois, essa maioria de esquerda deu lugar a uma maioria de centro-direita, nada mais elementar, em homenagem à coerência de raciocínio e de atitude, do que essa maioria parlamentar promover o impulso necessário tendente à revogação de uma lei com a qual não se revê.
Estranhamente, porém, nem PSD, nem CHEGA, e muito menos o CDS, tomaram à data qualquer ação consequente com as críticas que sempre tiveram para com a introdução da lei da eutanásia em Portugal.
Com efeito, ao cabo de cinco meses desde que esta legislatura teve início, nenhum grupo parlamentar do centro-direita ousou desencadear o processo legislativo que visasse reverter a lei da eutanásia.
Pelo contrário, se alguma iniciativa se tem visto é a que vem por parte dos partidos promotores da eutanásia, nervosos que andam com a falta da regulamentação da lei da eutanásia, apoiados na carta aberta subscrita por mais de 250 personalidades a exigir o mesmo.
E eis que, em jeito de réplica, um conjunto de personalidades do centro-direita surge agora com um manifesto pela revogação da lei da eutanásia. Entre os subscritores do texto, segundo é noticiado, contam-se os deputados do CHEGA Rita Maria Matias e Bernardo Pessanha.
Seria cómico se não fosse trágico: os mesmos deputados que não atuaram até hoje no Parlamento para revogar a lei, surgem agora ágeis a subscrever um manifesto que visa tal fim.
De que serve, afinal, um parlamentar de Direita votar contra a lei da eutanásia, proclamar-se contra a introdução da eutanásia no SNS, ofender-se com o atentado à vida que representa a eutanásia, para depois, no local próprio, a Assembleia da República, despir-se dos princípios e valores que advoga, e não tomar nenhuma ação que coloque termo a essa lei?
Por que razão é que o impulso e tenacidade que é colocado por um parlamentar de Direita, por exemplo, para que o Parlamento passe a comemorar o 25 de novembro, não se vê quando se trata de reverter uma lei que atenta à dignidade da vida humana e com a qual manifestamente não concorda?
Afinal, que espécie de síndrome da frouxidão terá atingido os nossos parlamentares de Direita?