Todos os países que saíram com rapidez da situação de pobreza, logo após a sua independência da potencia colonial, sabem como a aposta na escolarização generalizada foi do maior benefício, tendo dele colhido os melhores dividendos. Tornaram o desenvolvimento do país inclusivo, dando possibilidade a todos de terem parte nos benefícios do crescimento económico, melhorando quase todos os parâmetros que definem o Índice de desenvolvimento humano.

E compreende-se facilmente porquê: A instrução dá a qualquer pessoa uma base para melhor entender as suas realidades diárias, quantificá-las, e interpretar as contas para sobreviver. Dá possibilidade de fazer um orçamento familiar para depois procurar os recursos em falta.

A instrução dá também a base para continuar a aprender, quer sejam competências e técnicas profissionais, de modo a poder seguir as instruções do manuseio das máquinas, quer também para continuar os estudos.

Falar de escolaridade é como falar da educação que os Professores e as famílias proporcionam as crianças.

Escolaridade e produtividade

Quem segue os estudos tecnico-profissionais, aprende a “fazer corretamente as coisas”, a montar e desmontar, na ordem citada nas instruções, acaba por se ser muito mais produtivo. E um empregador quer pagar melhor a quem produz mais. A formação prática significa igualmente uma base para pensar em soluções alternativas, para melhorar o que faz, propor alterações.

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Os países que garantiram a escolaridade por período mais longo, com ou sem formação técnica, são hoje bem mais ricos do que os outros que andaram à deriva a experimentar ideias sem nenhum sentido critico sobre elas e a sua utilidade. Pior ainda são aqueles que sonharam com criação de riqueza fácil, e igualitarismos do tipo soviético, e ficaram totalmente encalhados e empobrecidos.

Na Índia, a forte escolarização a partir de começos do século XXI, mas que se vinha a afirmar antes, está a ser o fator transformador por excelência da sociedade. Tem a grande vantagem de incluir todos no processo educativo, pondo-os no plano de igualdade. A diferença está em como cada qual se empenha e dos apoios que encontra na família, incentivando a aprender, a por esforço para saber e aplicar.

Com todas as limitações/defeitos e falhas que se possam imaginar e atribuir ao sistema educativo, ele é a mola decisiva para elevar toda a sociedade, permitindo a cada elemento desenvolver as suas capacidades e acrescentar novas habilidades. Só cabe melhorar e torná-lo mais aproveitável para os jovens estudantes.

Quando se generaliza o ensino é natural que a qualidade decaia, pois não se encontram, de um momento para outro, professores competentes necessários para todos, para atuar de imediato.

Com calma e tempo, investindo muito na formação dos Professores, sobretudo em épocas de férias escolares para os que trabalham na docência — e ao longo do ano, para os que querem entrar no Ensino –, pode-se avançar gradualmente, sem afrouxar, na melhoria de aspetos pedagógicos e também do saber dos docentes.

Há na India algumas Fundações centradas nesses aspetos, em particular a Fundação Azim Premji. È tarefa urgente de todas elas criarem programas de preparação para a docência, de reciclagem periódica dos Professores já em ação, juntamente com trabalhos de Investigação, com divulgação das boas ideias e práticas.

Na Investigação deverá ter-se metas alcançáveis, que estimulem os investigadores a irem progredindo. Por vezes, podem lançar-se grandes ideias e quem nelas trabalha pode ficar perdido ou paralisado.

Escolaridade v/s barreiras sociais

A educação é o forte antídoto contra todas as barreiras de castas e delimitações sociais, para se criar uma sociedade solidária e coesa, facilitando a livre ascensão dos que mais trabalham e valem. Verifiquei, como em Goa, a educação é o factor nivelador dos comportamentos das pessoas de qualquer casta ou etnia, acabando por ser um forte integrador. O mérito pessoal evidenciado na instrução sobrepõe-se a todos os preconceitos “sociais”.

Após o ensino pré-primário e primário e depois até ao termo do ensino obrigatório, é importante não se ficar no saber dos livros, mas ensinar a pensar e ensinar pela prática de fazer. O trabalho manual, a prática da agricultura e a observação do crescimento bem como o puxar pelo espírito crítico, são relevantes.

Nos tempos próximos poderá vir a ter um grande impulso o ensino técnico-profissional na Índia, como alternativa à Universidade ou na fase anterior, e nas situações em que o estudante deixa o ensino, feita a parte obrigatória e se se quer preparar para trabalhar.

Escolaridade e emprededorismo

Os empreendedores tem um importante papel na sociedade. Alguns, com visão e ambição, são capazes de vislumbrar e dar realidade a projetos grandiosos. Eles criam riqueza e trabalho; além disso, as estruturas de grande porte, possibilitam que haja uma miríade de atividades intersticiais para as PME. As PME são geradoras de elevado número de ocupações, contribuindo para uma fatia importante do PNB e das exportações.

No ensino elementar e posterior, a componente prática deve merecer particular atenção. Prepara para se interrogar e propor avanços e inovações no saber aplicado, desenvolvido nos trabalhos manuais ou práticas de agricultura e outras.

Fazem também falta investigadores preparados para criar soluções ou ideias disruptivas que originem grandes saltos, quer na ciência ou tecnologia, e nas aplicações aos produtos necessários à vida habitual.

Com a generalização do ensino obrigatório, há muitos mais estudantes que vão avançando nos estudos secundários e uma boa parte deles vai para o ensino Superior. Neste, em 2019-20 estavam inscritos 38.5 milhões, com 19.6 milhões de rapazes e 18.9 milhões de raparigas. A Índia dispunha, em 2020, de cerca de 1115 Universidades e 52.600 Colleges. O crescimento dos estudantes no Ensino Superior terá reflexos inevitáveis no número de start-ups que eles irão criar com base na preparação que foram adquirindo.

A Índia está a voltar à sua grandeza do passado. Tem grande destaque nas Tecnologias de Informação (TI), e nas Telecomunicações; e é Centro de R&D, onde muitas multinacionais (mais de 1750) têm o seu Global Capability Centre. Produz anualmente um escol de Engenheiros e Técnicos da mais alta qualidade, que estão a afirmar-se no mundo avançado.

Explorada e arrasada pelos colonizadores, a Índia ficou irrelevante. Mas passou a ser agora o terceiro maior ecossistema, com mais de 60,770 start-ups (22-Dez-2021). Delas, cerca de 90 são unicórnios (empresas com uma valorização superior a $1 bn), e, desses, 46 só no ano 2021! Curiosamente, um estudo conduzido pelo Prof. Ilya A Strebulaev, da Stanford University, conclui que dos 500 “unicórnios” Norte Americanos, 90 são de empreendedores nascidos na Índia!

No ano 2021, mais de $42 bn foram investidos nas start-ups indianas por empresas privadas. É um sinal claro de que a juventude indiana está motivada, além de ser excecionalmente criativa.

Os empreendedores são os catalisadores do progresso, fazendo convergir investimentos (em tecnologia), investigação, formação para produzir, processos de comercialização e venda. Mesmo em países sem matérias primas, bons empreendedores “inventam” atividades e com elas criam trabalho e riqueza.

Mumbai, 20 de Janeiro de 2022