Os populistas sentados do lado mais à direita dos Parlamentos Nacionais começam a dominar essas casas da Democracia Liberal, alguns já fazem mesmo parte do Governo, e as duas principais famílias políticas europeias, conservadora e social-democrata, não estão a conseguir junto dos eleitores demonstrar que o projeto europeu continua válido enquanto promotor do mais longo período de Paz que o Velho Continente alguma vez conheceu.
A par deste feito, o projeto constituiu-se como responsável pela incrível melhoria das condições materiais e das liberdades individuais de cada europeu, importante conquista, sobretudo tendo em conta que um liberal acredita que cada ser humano é único e irrepetível.
Este processo de aumento da felicidade individual associado à construção europeia parece agora estagnado e mesmo ameaçado.
Assim sendo, acredito que nós, liberais portugueses, juntamente com os nossos congéneres no Parlamento Europeu, temos espaço para crescer falando com os portugueses, no caso da Iniciativa Liberal, de temas não abordados normalmente pelos partidos tradicionais e pelos agora emergentes.
Esses temas deverão continuar a ser os que interferem com o quotidiano das pessoas, como o acesso a uma vida materialmente mais confortável, mas também se impõe abordar, de forma compreensível pela maioria, temas como a Paz e as Liberdades individuais.
Também tenho a convicção de que nós, liberais, não podemos fugir de um confronto, impossível e desconfortável para muitos, entre a nossa ideologia e a obrigatória observação da realidade.
Perante os protestos dos agricultores, por exemplo, muitos de nós pensam que estes desejam apenas que caia nos seus campos uma “chuva de milhões” vinda dessa “europa somente divisora de fundos”, tal como referiu (e bem) Cecília Meireles há uns tempos.
Todavia, será mesmo por milhões que os agricultores lutam?
Ou será porque enfrentam todos os dias a concorrência desleal de agricultores fora do espaço da União para os quais agendas verdes, listas de fitossanitários proibidos e regras sobre o uso dos não proibidos não passam de algo sobre o qual nunca sequer sonharam?
Estará o pensamento económico liberal a transformar a Europa num espaço meramente museológico e a nós, europeus, em meras figuras vivas desse museu no qual só há trabalho na logística ou nos serviços necessários somente a quem vive e visita museus?
Não interessa ao bem-estar e à segurança estratégica dos europeus os setores primário e secundário da economia?
Tal como espelhado no sítio www.cencenelec.eu/european-standardization/european-standards/:
“Standards bring us benefits at home, at work, during leisure time, both at home and abroad. They ensure the products we use are safe and reliable, and that different appliances and pieces of equipment can connect and work together for a better experience. The home you live in is made safe through construction standards, and your personal data is protected by IT security standards.”
No seguimento do que tem sido a minha vivência profissional nos últimos vinte anos, sinto na pele o que tem sido o sistema de normalização europeu. A cada ano, os parâmetros exigidos nos pormenores técnicos das normas europeias tornam-se barreiras intransponíveis para quem produz na Europa.
O que sentimos é uma vontade de acabar com a nossa produção de bens e o que vemos é um mercado europeu recheado de bens vindos de fora sem o devido e necessário cumprimento das regras de segurança e de confiança referidos no parágrafo transcrito acima em inglês.
Acredito, pois, que os Liberais devem dar atenção ao sistema de produção e aprovação das normas europeias, trabalhando por torná-lo mais transparente e compreensível pelos diversos intervenientes, nomeadamente pelos setores já referidos acima agrícola e industrial.
A título de exemplo e enquanto membro de uma Comissão Técnica Nacional (CT), não percebo como a Comissão Europeia escolhe os consultores que a representam nos diversos Comités de Normalização (CEN). O poder destes é tão forte que acaba por fazer aprovar versões finais das normas com aparentemente subtis mas impactantes alterações de certos detalhes técnicos em total desalinhamento com o trabalho desenvolvido pelos outros membros destes Comités mais conhecedores da vertente técnica, do mercado, da realidade da vida quotidiana dos europeus comuns e com muito trabalho despendido durante o longo e complexo processo de produção normativa.
No capítulo das Migrações, mais uma vez não consigo fugir ao já referido confronto ideológico entre ideologia e realidade. A Europa foi e tem de continuar a ser o farol mundial do Humanismo.
No entanto, aos liberais e a todos os políticos europeus cabe o dever de procurar eventuais ligações diretas entre o maior movimento migratório a que a Europa assiste desde a Segunda Grande Guerra e o enorme apoio popular aos movimentos populistas, eles próprios inimigos do fortalecimento da União, apoiantes oficiosos de quem faz a guerra e muito pouco humanistas.
A invasão da Ucrânia pela Rússia tem de ser o mote para que os europeus percebam a necessidade de cada país membro repensar o investimento na Defesa, essencialmente em cumprir o acordo “NATO” de investir 2% do PIB neste setor.
Não penso ser o tempo para pensarmos sobre “Exércitos europeus”, porque, tal como a Segunda Grande Guerra demonstrou, o lugar de uma Europa vencedora, livre e com uma economia liberal de mercado capaz de melhorar a vida dos seus povos, é junto dos seus naturais e históricos aliados do Mundo Livre, Estados Unidos da América e Canadá.
Não será necessário elencar mais razões, basta-me pensar em como estaria hoje a Ucrânia não fora a intervenção dos EUA.
Não obstante, os países europeus devem procurar arduamente um caminho que os torne um pilar europeu da NATO em vez de um conjunto de pilares sem força atuando somente de acordo com as suas agendas nacionais cujo objetivo não vai além de sobreviver à agenda mediática da espuma dos dias atribuindo às instituições europeias a responsabilidade pelo que não são capazes de resolver internamente.
Se cada um pensar um pouco mais além, estou certo de que concluirão que uma Rússia sem freio no seu ímpeto conquistador não trará nada de bom a nenhum país europeu.
Não poderia terminar esta partilha do que penso sobre a Europa sem declarar o meu apoio ao João Cotrim de Figueiredo enquanto cabeça de lista pela Iniciativa Liberal ao Parlamento Europeu, porque entendo ser o membro do partido mais capacitado para confrontar ideologia e observação da realidade e, ao mesmo tempo, para ser bem-sucedido na partilha da mensagem liberal junto dos portugueses.