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A estreia, o regresso emocionado e a IA que vai falar português. Web Summit arranca tímida, mesmo com Pharrell Williams a “iluminar”

No arranque da Web Summit, Montenegro anunciou um modelo de IA que irá falar português e funcionar como “tutor pessoal” na escola. Numa cerimónia morna, debateu-se IA e criatividade.

O primeiro-ministro, Luís Montenegro, estreou-se na Web Summit este ano
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O primeiro-ministro, Luís Montenegro, estreou-se na Web Summit este ano

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

O primeiro-ministro, Luís Montenegro, estreou-se na Web Summit este ano

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Luís Montenegro estreou-se no palco principal da Web Summit. O primeiro-ministro começou a discursar em inglês para dar as boas-vindas aos participantes do evento a Lisboa, a “capital de inovação europeia” e a “capital mundial de startups” de onde partiram os navegadores há 500 anos, lembrou. Hoje, acrescentou Montenegro, a navegação é outra e faz-se no digital e com recurso à Inteligência Artificial (IA). E foi precisamente sobre IA, já em português e perante uma plateia pouco entusiasta, que o primeiro-ministro anunciou a novidade da noite.

No primeiro trimestre de 2025, o Governo vai lançar um LLM (Large Language Model ou, em tradução livre, um grande modelo de linguagem) português. Estes modelos de IA são prática comum na indústria tecnológica e são o que faz funcionar ferramentas como o ChatGPT, um chatbot usado por milhões de pessoas. O objetivo do executivo é inovar “em português”, preservando “o nosso idioma e utilizando a nossa cultura ao serviço da inovação”.

“Sabemos que é um passo crítico, mas sabemos também que desta maneira vamos conseguir hoje dar respostas que não conseguimos dar ontem”, explicou Montenegro, antes de dar alguns exemplos de como esta ferramenta conseguirá dar “respostas inclusivas” em diversas áreas. Exemplificou que será dado “a cada aluno um tutor educativo de IA adaptado aos nossos currículos para o ajudar a compreender o mundo” ou “a cada cidadão o acesso aos serviços da administração pública de forma mais simples, mais direta e personalizada para responder às suas necessidades”. Mas também há foco nos negócios, com Montenegro a declarar que será dada, através deste modelo, “a cada empresa a oportunidade de projetar os seus serviços numa era de inteligência artificial”.

O Observador questionou o Governo para obter mais detalhes acerca do LLM, nomeadamente quando é que começou a ser desenvolvido e por que entidade, mas não obteve resposta até à publicação deste artigo.

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Paddy Cosgrave, Carlos Moedas, Luís Montenegro e Pedro Reis na abertura da Web Summit

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Durante o seu discurso, o primeiro-ministro destacou ainda Portugal como um país com “muita qualidade de vida”, onde os empreendedores “podem e devem inspirar-se para criar inovação”, além de poderem beneficiar de uma “excelente localização geográfica”, de fontes de energia renovável, de um “ambiente multicultural”, de “séculos de História” ou do “respeito pela diversidade e sempre com foco no ecossistema na inovação”. As empresas têm, em território português, um “espaço para poder desenvolver” o talento: “Podem aproveitar um crescente e vibrante conjunto de pessoas, de uma comunidade internacional, que aqui traz o seu venture capitalism e muito daquilo que são as tecnologias associadas ao capital humano e à sua utilização”.

Luís Montenegro salientou, por fim, que o Governo está “empenhado em aproveitar o triângulo virtuoso entre a ciência, o capital (humano e financeiro) e o empreendedorismo”, destacando algumas políticas públicas como um “ambicioso programa para acelerar a economia”, “baixar impostos para empresas e pessoas”, declaração de “guerra à burocracia” ou atração “de emprego mais jovem”.

Paddy Cosgrave demite-se da liderança da Web Summit

Se a noite foi de estreia para Montenegro, para Paddy Cosgrave teve sabor de regresso ‘a casa’. O CEO, que no ano passado não esteve presente no evento porque se demitiu após declarações que geraram polémica (e um boicote por parte de grandes empresas) sobre o conflito entre Israel e o Hamas, disse que é “ótimo estar de volta” a uma Lisboa “soalheira” em novembro. Horas mais tarde, nas redes sociais, revelou que teve de “conter as lágrimas” numa cerimónia que descreveu como “emocionante” e que contou com a presença da família.

“Quero dar as boas-vindas a todas as startups que viajaram de todos os cantos do mundo. Temos o maior número de startups desde sempre em exibição no nosso evento nos próximos três dias”, destacou Paddy Cosgrave, salientando que existe um “aumento significativo” de empresas dos Estados Unidos e do Brasil e um “número recorde de startups fundadas por mulheres”.

Durante a sua intervenção, perante uma Meo Arena composta mas tímida, o empresário irlandês falou ainda sobre uma das novidades deste ano: os “meetups”, que têm como objetivo ajudar os participantes a conectarem-se com “comunidades e grupos que são importantes para si”. Para o fundador, “a maior mudança numa década” na logística do evento. Alguns desses encontros serão recomendados através da aplicação do evento. O próprio Paddy disse que participará num meetup entre líderes provenientes de Dublin, Irlanda, país de onde é natural.

Carlos Moedas usou o discurso de 2022

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Carlos Moedas usou um discurso do passado para lembrar que Lisboa é capital da inovação

O presidente da autarquia lisboeta, uma presença habitual na Web Summit, foi chamado ao palco com um “Carlos Moeda-sh”, a pronúncia característica de Paddy Cosgrave. Após anos de convivência — antes da Câmara de Lisboa, Moedas já vinha ao evento no papel de Comissário Europeu da Inovação — Cosgrave descreveu-o como “um grande amigo e grande ser humano”.

O autarca evocou parte do discurso do “tolo”, que proferiu na edição de 2022, para contar a “história de inovação em Lisboa”. “No ano passado vim aqui pedir-vos apoio, porque éramos candidatos a Capital Europeia da Inovação. Duas semanas depois fomos selecionados.”

“Chamaram-me tolo”. Moedas traz à Web Summit a fábrica de unicórnios, o homem na lua e um apelo “aos que não sabem o que é o impossível”

“Já sabem a história de Lisboa”, resumiu. “É um pouco como a história de tantos de vocês”, dirigiu-se à plateia. “É uma história de disciplina. Ninguém acreditou em nós. Alguns chamaram-me tolo, mas enquanto isso a minha equipa trabalhava na candidatura.” Moedas lembrou que ouviu críticas como “Lisboa ser demasiado pequena” ou estar “longe dos grandes centros tecnológicos da Europa”.

“Não tínhamos medo de sonhar”, recordou. “Podemos ter unicórnios de todo o mundo. Eles querem vir para Lisboa e podemos convencê-los a vir para Lisboa.” O sonho de Moedas, que hoje em dia já tem a ‘sua’ Fábrica de Unicórnios, materializa-se através dos “14 unicórnios que têm escritórios na nossa cidade”. “Estão cá porque tivemos a audácia de os convidar a ter um escritório cá.” O autarca revelou que essas empresas “anunciaram mais de 14 mil postos de trabalho em Lisboa”.

Mas, na ótica de Moedas, só há espaço para a inovação quando também se investe em proteção social. “Não podemos ter uma cidade que não investe em proteção social”, argumentando que “a inovação tem de ser sustentável”.

No palco da Web Summit, mencionou os “12% da população que vivem em habitação camarária a preços acessíveis” e o investimento em “mais habitação” em Lisboa, um dos problemas mais sentidos na capital. “Se mantiverem o equilíbrio entre pessoas como vós e as pessoas que são vulneráveis todos os dias, então têm inovação e são sustentáveis.”

Pharrell Williams e Carlos Moedas

Pharrell Williams com Carlos Moedas

Ramsey Cardy/Web Summit via Sportsfile

Pharrell Williams quer “vibrar e iluminar”. “Se não fizermos isso, somos um desperdício de espaço”

Cantor, produtor e diretor criativo da coleção masculina de uma das marcas de luxo mais conhecidas do mundo, a Louis Vuitton. Pharrell Williams foi a estrela escolhida para fechar a cerimónia de abertura da cimeira. A promessa era de uma conversa sobre comércio e cultura com o diretor de marketing da Visa, Frank Cooper, que em alguns pontos ganhou contornos de sessão coletiva de autoajuda.

Pharrell Williams nomeado diretor criativo na marca de moda Louis Vuitton

Williams começou por lamentar não ter “uma história de origem poética e simbólica”. “Mas era realmente uma criança cheia de imaginação”, que veio de um “lar fortemente subsidiado” pelo governo dos EUA. Desenhava muito e confessou que “nunca” pensou ter uma carreira profissional na música — até pelo sítio onde vivia. “Não havia indústria musical em Virginia Beach, uma cidade costeira no Estado da Virgínia, nos EUA. “Olha, alguém que é de lá”, afirmou, quando surgiu um grito entusiasmado da plateia.

“Quando andava no liceu, um produtor musical de Michael Jackson passou a ter um estúdio mesmo junto à escola. Não cinco anos depois de eu lá estar ou cinco anos antes, mesmo quando eu lá estava.” Aí, tudo mudou. “Era como se estivesse cego pela minha ambição e amor pela música.” No currículo, Williams tem projetos como os The Neptunes, N.E.R.D e uma carreira recheada a solo, coroada por vários Grammys, o prémio mais cobiçado da indústria musical. Da história de origem criativa pouco poética, como disse, Pharrell Williams chegou a um ponto em que o seu tempo “está a ser subsidiado para ser criativo”.

Mas, afinal, onde ficou a cultura e comércio, o ponto de partida da conversa? Em poucos segundos, Williams resumiu que é a cultura “que define o comércio”. “Sempre o fez. Quando olhas ao espelho, és a cultura, a inspiração. O fogo está em ti, está nos seres humanos. É o que faz com que grandes pedaços de uma demografia se movimentem, criando o que são as tendências. Isso somos nós.”

Pharrell Williams

Pharrell Williams quer “vibrar e iluminar”

Sportsfile

Deixou um pedido à plateia, para que “retribua” tudo o que recebe. “É a única maneira de fazer funcionar. Cada um de vocês tem essa responsabilidade. Podem achar que é tudo responsabilidade vossa, mas não, é fruto das oportunidades de quem veio antes.” Um dos exemplos de retribuição é a associação Black Ambition, que fundou para ajudar empreendedores de origem negra e hispânica. Explicou que ouve várias vezes a lógica de estas comunidades “lutarem por um lugar à mesa”. “Se construírem a vossa própria mesa podem convidar quem quiserem. Não é uma luta pela igualdade, é pela equidade”, vincou.

“Temos de vibrar e iluminar. Se não fizermos isso, somos um desperdício de espaço”, afirmou, arrancando alguns aplausos a uma audiência que se mostrou tépida durante boa parte da intervenção. Só na derradeira despedida é que se viria a ouvir um efusivo “you’re beautiful”, quem sabe uma referência à canção que produziu em 2003 para Snoop Dogg.

Snoop Dogg garantiu pódio (do entretenimento) em Paris e 450 mil euros por dia. “Nunca subestimem Snoop Dogg”

Uma IA segura que não ultrapasse a inteligência humana e o ano da robótica

Durante a cerimónia de abertura existiu ainda espaço para aprofundar o tema que vai ser central ao longo dos próximos três dias de Web Summit: a inteligência artificial. “Quem decide o futuro?” foi a conferência que juntou Max Tegmark, presidente da organização sem fins lucrativos Future of Life Institute, e Thomas Wolf, cofundador da empresa Hugging Face, para debater pela os possíveis riscos da IA.

Ao longo de cerca de 20 minutos, Max Tegmark defendeu que o maior problema em relação à IA é a possibilidade de uma só empresa concentrar demasiado poder: “É importante não deixar nenhuma empresa ficar grande demais […] É importante democratizar o poder.”

Max Tegmark, presidente da organização sem fins lucrativos Future of Life Institute, e Thomas Wolf, da Hugging Face

Max Tegmark e Thomas Wolf debateram inteligência artificial

Sportsfile

Para o presidente do Future of Life Institute, a sociedade não se deve apressar em direção a uma inteligência artificial geral (AGI, na sigla em inglês), um ponto que a indústria tecnológica quer alcançar e que poderá ultrapassar a inteligência humana. Para Tegmark, o foco não deve ser a AGI, mas sim o uso da IA enquanto ferramenta para, por exemplo, “curar o cancro”. “As pessoas que querem construir inteligência artificial geral têm de esperar até mostrarem aos especialistas que conseguem controlá-la, algo que não conseguem fazer agora”, afirmou.

De seguida, defendeu a regulação da inteligência artificial ao afirmar que é preciso dizer aos líderes políticos que, tal como todas as indústrias têm padrões e regras de segurança, a IA também precisa que eles sejam definidos: “Assim que os tivermos, as empresas e os empreendedores vão começar a inovar para ir ao encontro desses padrões.”

Por sua vez, Thomas Wolf, cofundador da Hugging Face, plataforma comunitária que permite implementar e testar modelos de IA, apostou que 2025 “será o ano da robótica”, uma indústria que considera que tem vindo a ganhar tração. Após defender a inteligência artificial e os projetos de open-source, foi questionado sobre geopolítica e possíveis restrições que a plataforma coloca a países não-democráticos. Na resposta, o empresário disse que a Hugging Face é uma empresa neutra, mas deixou uma questão no ar: “Muitas vezes vemo-nos como a Suíça da IA, mas não sei durante quanto tempo vamos manter isso. Durante quanto tempo podemos manter esta posição se há disputas políticas?”.

Minutos antes de Max Tegmark e Thomas Wolf, Etosha Cave subiu ao palco para falar da startup Twelve, que cofundou e que tem como missão transformar ar em combustível limpo, tendo recentemente fechado um investimento de 645 milhões de dólares. “Estamos a replicar o que fazem as árvores. Usam a luz do sol e conseguem transformá-la para conseguirem crescer”, exemplificou, explicando que a empresa quer imitar este processo, no que considera ser “fotossíntese industrial”.

A Twelve começou por desenvolver pequenos elétrodos que funcionam como se fossem “folhas”, numa tentativa de imitar a fotossíntese. “Temos desafios de engenharia para conseguir escalar”, reconhece a fundadora. “Um dos desafios foi o tamanho do elétrodo. Sempre que aumentámos o tamanho do elétrodo tivemos de mudar o resto da receita”, salientou.

Quanto ao financiamento de 645 milhões de dólares que a startup recebeu recentemente, a cofundadora disse que “é um enorme sinal” de que a empresa “está a ir na direção certa”.

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