Estamos a atravessar tempos sombrios e difíceis. A guerra hedionda que o Leste Europeu está a viver representa uma grave e intolerável ameaça às vidas dos Ucranianos, de longe o povo mais afectado por toda esta situação, mas também ao resto da Europa e do Mundo.

Aos receios da escalada da violência, somam-se as consequências económicas que a guerra está a provocar. O impacto sentido no sector da energia, seja no combustível para o nosso automóvel, ou no Gás para as empresas, está a ser esmagador para as famílias e para as empresas.

Mas as bombas lançadas sobre o território ucraniano não justificam que se possa ir a um órgão de Comunicação Social lançar uma bomba sobre a casa das famílias portuguesas, mas foi exactamente isso que o Presidente da Endesa fez, ao lançar a ameaça aos clientes de que as faturas subiriam 40% no final do mês de Agosto, somando.lhe o alerta de que de que já nas faturas do consumo elétrico de Julho, as pessoas iriam ter uma “desagradável surpresa.”.

De forma a compreendermos o que está em causa, é fundamental considerarmos que Portugal e Espanha criaram um mecanismo para limitar o preço do gás natural na produção de energia elétrica e a Endesa foi o único fornecedor de energia a lançar o pânico, quando não podem ser os consumidores com ofertas comerciais de preço firme, a suportar o custo do Mecanismo antes do fim do ano.

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O Governo, como não poderia deixar de ser, reagiu e reagiu bem, com sentido de estado, a esta infeliz ameaça da Endesa, remetendo para o Gabinete do Secretário de Estado da Energia a validação das faturas da Endesa de em todos os contratos celebrados com o Estado. Esta medida representa um volte face na relação das empresas com os consumidores e as ameaças às famílias portuguesas, sob pena de um crescendo de novos e recorrentes abusos e dislates, devem encontrar no Governo respostas enérgicas e sem tibiezas, como foi, aliás, o caso.

A Iniciativa Liberal reagiu e, como sempre, alinhou na defesa da Endesa (das empresas), trazendo para a arena política o ataque a António Costa, acusando o despacho do Primeiro Ministro de ser “grave”, de ser um exercício de “propaganda” e “prepotência socialista”.

Cotrim Figueiredo, tendo uma oportunidade para, finalmente, se colocar ao lado dos portugueses, preferiu acusar a defesa dos portugueses, levada a cabo pelo Governo, por António Costa, dizendo tratar-se de uma espécie de “versão moderna de quem se mete com o PS leva”. Mas, a verdade, é que se dúvidas houvesse sobre quem tem a defesa dos portugueses como cerne da sua acção política, este episódio ajudou, uma vez mais, a dissipá-las..

A posição do Governo, firme e resoluta, levou o Presidente da Endesa a assumir um compromisso para com os seus consumidores, tendo a empresa, nos dias seguintes, enviado uma mensagem a todos os seus clientes garantindo que não irá mexer nos preços da energia até ao final do ano.

É, pois, inegável e indesmentível que foi a tomada de posição do Governo e do Primeiro-Ministro que tornou possível arrancar este compromisso por parte da empresa.

Compromisso, diga-se, que provavelmente nunca seria assumido, não fosse o Governo ter definido como objectivo combater as práticas especulativas.

As famílias e as empresas portuguesas estão, e vão continuar, a atravessar tempos sombrios, duros e difíceis, tempos de alta inflação, tempos de subida generalizada dos preços dos principais bens e serviços, que comprimem os orçamentos e concitam receios de vária índole.

Estão, hoje, em execução, um conjunto de medidas e de acções, com enorme esforço orçamental, com vista a tentar mitigar a subida galopante da inflação e permitir que os portugueses possam prosseguir com as suas vidas com a dignidade que merecem.

Nenhum governo está confortável a tomar medidas excepcionais com este impacto, mas este processo reforçou de forma indelével o empenho do Governo na defesa dos interesses colectivos do país.

Se no passado houve quem tivesse querido ir além da troika para passar no teste, neste momento temos um governo a ir além dos interesses do “politicamente correcto” para defender os Portugueses.

Pedro Pereira de Sousa