A poucos meses das eleições autárquicas, pode-se dizer com convicção que a campanha já começou, pelo menos em Cascais, a terra de quem escreve este texto. Quem vai hoje a Cascais vê obras, e andaimes, e mais obras, e mais andaimes…

Este exercício político, de quem é actualmente o executivo de uma Câmara Municipal começar pouco antes das eleições a mostrar trabalho é um exercício habitual, expectável. Bem vistas as coisas, ser-se o executivo tem de ter algumas vantagens e poder começar a campanha mais cedo para mais tarde se gritar “Fiz isto! Fiz aquilo!” deve ser aproveitada.

Mas é preciso ter consciência e fazer todas essas obras e modificações com cabeça, tronco e membros. Antes de conseguirmos sentir a identidade nacional do nosso país, devemos primeiramente sentir a identidade municipal da nossa terra. Da terra onde nascemos, crescemos e que nos forma até à idade adulta.

Para a conservação e a preservação da identidade nacional, os símbolos dos municípios são uma componente muito importante que não pode ser esquecida nem posta de lado.

Muito mais do que a soma das ruas, das casas dos monumentos e das suas gentes, uma terra alicerça a sua comunidade nas memórias vividas e partilhadas entre todos.

E em Cascais, com uma História que remonta há mais de 8.000 anos, quando as primeiras comunidades vieram ocupar as Grutas do Poço Velho, mesmo no centro da Vila, as memórias que vivemos constroem-se misturando o verde pujante da nossa serra com o azul diáfano do nosso mar…

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O património, tanto o material como o imaterial, faz parte deste leque de símbolos que para além de nos conferirem uma identidade antiga, contam a história das nossas gentes.  Contam a história das férias da Família Real Portuguesa, do imaginário do Rei D. Carlos. Contam a história da primeira vila em Portugal onde surgiu electricidade. Contam a história onde, na Segunda Guerra Mundial, o destino de nações se decidia através de mensagens encriptadas, nas salas de hotéis, bebendo o melhor champanhe entre espiões e exilados, Cascais era um oásis. Dá para entender que se o nosso património conta toda esta história só faz sentido ser preservado.

O património histórico de Cascais tem assim um carácter irrepetível no contexto nacional. E conhecê-lo e preservá-lo, transformando-o em motor gerador de riqueza ao nível da vocação turística municipal, é contribuir de forma decisiva para a consolidação da nossa identidade local.

E este é o segredo da nossa democracia: a capacidade de sabermos quem somos, de onde viemos e também para onde vamos. Porque partilhamos memórias e temos orgulho do legado que recebemos da parte daqueles que nos precederam nesta terra tão especial.

Um partido que esteja no executivo de uma Câmara tem responsabilidade acrescida ao nível da integração política deste legado, tem a obrigação de integrar nas suas políticas locais incentivos acrescidos para que o Executivo Municipal promova esta área essencial para a governação.

A Câmara Municipal de Cascais tem dado passos significativos no que toca à preservação e à reabilitação do património material do concelho. Mas não se resume apenas ao património material e aos imóveis de interesse público. As autarquias conhecem melhor do que ninguém as tradições comunitárias dos concelhos que governam. É do interesse geral preservar estas tradições e garantir que as gerações futuras se sintam familiarizadas com as mesmas.

Porque não vale de nada termos museus bolorentos e arquivos cobertos de pó!