Daqui a pouco tempo os portugueses vão ter a oportunidade de mudar o rumo do País votando numas eleições legislativas antecipadas. A pergunta que agora se impõe é: será uma mudança que nos vai fazer regressar ao progresso ou, pelo contrário, que nos vai afundar ainda mais neste estertor político em que agora nos encontramos?

É verdade que ao longo dos últimos tempos as sondagens vão ficando cada vez mais afastadas dos resultados efectivos das urnas; no entanto, até por todos os sinais que a sociedade vai deixando, uma coisa parece que se pode dar por certa: não será possível potenciar até Janeiro próximo uma maioria nem à esquerda nem à direita sem que se façam acordos entre os vários partidos. E, apesar de parecer muito estranho, está mesmo dentro das fronteiras do plausível podermos termos uma ministra Mortágua depois das próximas eleições.

Não sendo certo que a maioria dos Portugueses entenda plenamente o alcance e a abrangência deste cenário, a entrada dos extremismos partidários naquilo que normalmente se designa como o “arco do poder”, representa um rude golpe no futuro da nossa democracia e abre portas para situações que ainda há uma década todos considerariam impensáveis.

Um dos cenários de que mais se fala, no caso de o PS precisar do BE para viabilizar um novo governo,  é o de entregar à bloquista Mortágua uma pasta tão importante quanto a das finanças. E infelizmente são públicas as posições do BE em relação às políticas fiscais, sabendo todos de antemão que as consequências da sua aplicação em Portugal serão terríveis e que se arrastarão ao longo de muitas gerações.

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Lendo com atenção o programa eleitoral que o BE apresentou em 2019, não será de esperar que as propostas que agora vão defender sejam muito diferentes. Na onda de um apelo permanente às nacionalizações, e de um incontido ódio a tudo o que seja fruto da iniciativa privada, fácil será antever um cenário de descalabro da nossa economia, em linha, aliás, com o que está a acontecer com a TAP e com outras empresas intervencionadas pelo Estado.

Outra das propostas do Bloco de Esquerda é aplicar impostos ao dinheiro recebido por via sucessória e por via de doacções, com a justificação de que o dinheiro assim obtido não é justo e cria desigualdades. Então, mas se eu passar a minha vida toda a acumular riqueza para saber que, depois de eu morrer, os meus filhos e netos poderão usufruir de alguma coisa de significativo que eu lhes vou deixar, estou a ser injusta?

O grande problema, no que à riqueza diz respeito, é que o BE prefere governar um País onde todos são pobres, só pelo prazer de dizer que acabou com os ricos, do que desenvolver mecanismos que apoiem todos, para que todos possam ter uma oportunidade de serem ricos igualmente… O preconceito do BE em relação à riqueza de alguns (independentemente do mérito que tantas vezes está associado àqueles que conseguiram enriquecer) condiciona toda a sociedade a ser pobre, como se vê nos infelizes exemplos dos países que caíram no logro de seguir essas políticas.

Nas eleições legislativas do próximo mês de Março,corremos o sério risco de partidos extremistas como o BE poderem aspirar ao poder. E isso, ao sabor dos populismos que alicerçam as suas propostas e ideias, é o perigo maior que Portugal pode enfrentar nos próximos tempos. Porque com uma Mortágua num eventual governo, as decisões que ela vai tomar vão ter consequências geracionais que serão sentidas (e sofridas) pelos nossos filhos e pelos filhos deles…

Portugal tem quase 900 anos de uma História marcada essencialmente pelo respeito pelo outro, pela tolerância perante a diferença e pelo apelo permanente ao diálogo e à capacidade de entendimento entre todos. Tenhamos cuidado para que depois de Março não sejamos obrigados a uma cambalhota de tal forma absurda que ponha em causa a essência mais profunda de Portugal.