Já vamos bem avançados na “nova” temporada de fórmula 1 e este é o primeiro texto que escrevo. Parece quase impossível, não para vocês, que não me conhecem de lado nenhum, mas para mim, que estou habituado a fazer isto, dia sim, dia não. Menos quando não há fórmula 1, porque aí seria só palerma escrever sobre nada. Parecendo que não, isto não é um daqueles canais de YouTube que faz vídeos a encher chouriços até chegar aos 10 minutos para monetizar a cena, a começar pelo facto de eu, ao contrário de todos os Youtubers de 15 anos, não ser pago, mas isso vale o que vale e não foi para isso que aqui vim hoje.

Hoje vim aqui para falar da temporada F1 até ao momento. E que temporada, diga-se de passagem! A Ferrari, como Binotto já tinha previsto, está competitiva, a Mercedes anda aos papéis e a Red Bull, embora pareça que sabe o que está a fazer, parece mais andar ao sabor do vento. Temos carros novos, regulamentos novos, pilotos novos e até novos diretores de corrida. Mas comecemos pelo principio, ou melhor, pelo fim da última temporada. Lembram-se da última corrida do ano passado, certo? Aquela em que o Max foi campeão em Abu Dhabi e deixou o mundo em reboliço porque ou foi justo ou injusto. Aquela em que toda a gente criticou o Michael Masi quando no fundo ele acabou por fazer aquilo que todos os fãs de F1 (leia-se fãs e não fanáticos) queriam que fizesse. Sim, essa mesma. Estão contextualizados? Boa, comecemos por aí então.

No final da temporada passada ficamos todos com a sensação de que a Red Bull foi dominante durante grande parte da época, mas a Mercedes, mais para o final, conseguiu aproximar-se e até ultrapassar a construtora austríaca. Argumentemos o que quisermos, mas é esta a verdade e, independentemente de quem bateu em quem, foi isto que se passou. A Mercedes, com toda a sua experiência da era híbrida, soube ser superior quando realmente importou e o facto é que, Masi teve demasiado impacto num campeonato que não o merecia, nem precisava. Não estou também aqui a dizer que Max Verstappen não foi o campeão merecedor. Longe disso! E quando olhamos para a totalidade da temporada, foi. Mas não cabia a Michael Masi decidir isso e uma das melhores temporadas dos últimos anos ficou manchada por isso mesmo.

Inverno passado, testes feitos e bota temporada de 2022. Numa breve viagem ao passado (quem souber do que falo que leia isto em inglês e com sotaque indiano), recordemos o momento em 2020 em que Mattia Binotto disse com todas as letras e convicção que a Ferrari apenas voltaria a ser competitiva em 2022. Não quero ser eu a alimentar especulações, mas tanta certeza, aliada ao acordo secreto com a FIA, isto deixa muita água no bico, mas Binotto acertou. Acertou tanto que o alvo a abater parece ser a Ferrari. Leclerc e Sainz estão um para o outro como minis e tremoços, e o carro parece não ter ponta errada por onde se lhe pegue. Talvez a sorte não tenha estado do lado do cavalo empinado durante o GP de Espanha. Já no Mónaco, não foi falta de sorte, mas um colossal erro dos responsáveis pela estratégia que roubou pontos vitais à Ferrari. Mas tenham lá calma, que a procissão ainda vai no adro e não parece que Leclerc e Sainz queiram carregar a Ferrari aos ombros durante toda a temporada. Resta esperar que os que estão lá sentadinhos no Pit Lane comecem a perceber que isto agora é mesmo para ganhar.

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Passemos agora para a Red Bull, já que estamos com o lanço. Com a vitória no campeonato mundial de pilotos, seria de esperar que chegassem e brilhassem. Seria de esperar que o Max estonteasse e que Perez estivesse lá nos dias em que o neerlandês não está. Acontece que Verstappen está lá quando está, e quando está ganha. Quando não está, ou o Perez também não está (ou parece não estar), pelo menos não ao nível que se espera. Perceberam? Até agora é mais ou menos isso que se passa, e é a melhor forma de resumir o que se passou na Red Bull até agora. Até ao momento, Verstappen venceu quatro de sete corridas e Perez terminou seis de sete corridas, e conseguiu chegar ao pódio em mais de metade das mesmas, tendo até vencido no Mónaco. Nada de grave, para já, mas não era nada disto que se esperava. Esperava-se que a Red Bull obliterasse a competição com facilidade e não andasse a rezar pelos cantos para que ambos os carros acabem a corrida. Talvez os problemas não estejam nos pilotos, mas no egocentrismo do “powered by Red Bull” com Honda escrito em todos os parêntesis que se vê.

E agora passamos ao elefante na sala. A Mercedes. E vamos começar pela expressão que toda a gente tem exaltado: “o que raio (raio é subjetivo, podem substituir por temos mais nortenhos) se passou com a Mercedes?” No momento da escrita, confesso ter pensado em termos mais informais, mas o que se pode mesmo ter passado com a hegemonia da construtora de maior sucesso dos últimos 10 anos? O Hamilton ficou mau piloto no Inverno? Não. O Russell foi promovido desnecessariamente? Nada disso. Então? O que se passou afinal? É que até ao momento, é a equipa que menos consigo entender, especialmente depois da corrida em Barcelona, onde Hamilton fez uma genial recuperação – mesmo querendo desistir no início da corrida – e Russell deu um espetáculo de defesas contra Max Verstappen digno de ficar escrito nos livros da F1. O problema é que isto não chega e se a Mercedes quer deixar a sua marca neste campeonato tem de acertar o passo, porque embora as últimas prestações tenham sido aceitáveis, isso tudo deveu-se ao facto de terem agora um carro revisto quase na totalidade, usando também novas unidades motrizes.

Já agora, quem fala da Mercedes, pode também falar das construtoras que compram a unidade motriz à fabricante alemã. Falemos da McLaren, da Aston Martin e também da Williams. Comecemos pela última. A Williams é possivelmente uma das equipas que mais pode beneficiar dos novos regulamentos, especialmente do “Cost Cap”, introduzido para 2022. Basicamente, todas as equipas têm um teto máximo para aquilo que podem gastar durante a temporada, excluindo salários de staff e pilotos. Isto, logicamente, obriga as equipas de topo a gastarem menos, o que as aproxima, neste sentido, das equipas do fundo da tabela. Mas não foi nada disto que aconteceu com a Williams. Com apenas três pontos, a construtora britânica ocupa, neste momento, a última posição, sem que se veja algum sinal de melhoria desde o início da temporada. Alex Albon, no seu primeiro ano com a Williams e depois de passar uma temporada fora da F1, é o único piloto que conquistou algum ponto para a equipa e Latifi não mostra nada de novo, nem mesmo uma pequena razão para manter o seu lugar na equipa, para além do dinheiro que traz. No fundo, é apenas mais do mesmo, e embora todos esperássemos algo de diferente, fomos talvez um pouco ingénuos ao acreditar que alguma coisa na Williams poderia realmente mudar. Valha-nos Albon! E que seja bem-vindo de volta!

Já a McLaren está a sofrer do mesmo problema que assolou a Mercedes nas primeiras corridas desta temporada. Um design falhado, aliando a uma unidade motriz que não se aproxima sequer das melhores da grelha, e temos receita para o desastre. Só que com a McLaren, a coisa não tem aspeto de estar a melhorar, antes pelo contrário. Mais uma vez, talvez a culpa seja mesmo nossa, que tínhamos expectativas muito elevadas, mas não seria já altura de vermos a McLaren onde esta deveria estar? A lutar por vitórias e a discutir corridas, lado a lado com as equipas de topo? É que a Ferrari, mesmo depois de duas épocas miseráveis, conseguiu erguer-se e voltar ao topo da F1. E a McLaren? Quando é que isso está para acontecer? É que Norris é um daqueles talentos que se encontra uma vez em cada década e tem crescido imenso desde que começou a sua carreira na F1. Já Ricciardo, parece estar a caminhar no sentido oposto, em decadência, e isso é prejudicial, não só para a equipa, mas para ele também. Gostava realmente de ver Daniel Ricciardo a sair pela porta grande da F1, mas temo que isso não irá acontecer se as coisas assim se mantiverem. É triste, mas é o que é.

Em relação à Aston Martin, tenho de admitir uma coisa logo de início. Não gosto da equipa. Gosto da fabricante, gosto do Vettel, não tenho nada contra o Stroll, mas não gosto da equipa. Parece-me tudo falso, tudo hipócrita e tudo irónico. Tão irónico que, dois anos depois de serem apelidados de “Pink Mercedes” (isto nos tempos em que ainda era Racing Point), voltam a ter uma alcunha de copiões, com “Green Red Bull”, e mesmo para quem não está a par, não é difícil de perceber a quem roubaram os apontamentos. Chamem-lhe inspiração, eu chamo-lhe cópia e roubo e isso é coisa feia. Tão feia que não fico minimamente triste pelo lugar que ocupam no campeonato. Tão feia que nem me importo se acabam ou não corridas. Importo-me sim, que um dos melhores campeões que a F1 já viu seja ligado a uma equipa que, valesse a minha opinião para alguma coisa, não estaria na competição, mas o dinheiro mexe com muita coisa e a Fórmula 1 não é exceção. Só que essa não é a Fórmula 1 que eu quero, nem esta é a Aston Martin de que eu gosto.

Inversamente, há duas equipas que me enchem de orgulho, neste momento. Alfa Romeo e Haas. Quem os viu e quem os vê, não? Só de pensar que na última temporada, estas duas equipas em conjunto fizeram apenas 13 pontos (todos conquistados pela Alfa Romeo), e neste momento vão já com 41 e 15 pontos, respetivamente. Se calhar, a Williams devia aprender com a Aston Martin, e olhar para aquilo que os outros fazem, também, mas voltemos ao que importa e comecemos pela Alfa Romeo.

No final da temporada passada, o que mais me entristeceu foi perdermos Kimi Räikkönen. A mim e a muitos outros fãs de F1, isto para não dizer todos, mas algo me deu esperança e me entusiasmou. A confirmação de Valtteri Bottas como piloto da construtora italiana foi possivelmente das notícias que mais me agradaram na temporada de 2021. É como pensar em alguém que tem uma daquelas experiências perto da morte, mas depois recebe uma nova oportunidade de viver, e Bottas agarrou-a com unhas e dentes. Tanto que tem sido um dos pilotos mais impressionantes até ao momento. Com 40 pontos conquistados, Bottas tem-nos mostrado o porquê de nunca ter merecido ser um segundo piloto tão evidente na Mercedes, e no primeiro ano com a Alfa Romeo. Ao volante de um carro inteiramente novo, o finlandês tem tirado o máximo partido de toda a sua experiência e perícia, para colocar a Alfa Romeo numa trajetória ascendente. Já Zhou Guanyu, apanhou um choque de realidade na sua estreia na F1, mas qual foi o “rookie” que nos anos recentes da F1 chegou e conquistou? Esses aparecem uma vez a cada 20 anos, mais coisa, menos coisa. A verdade é que as qualidade do piloto chinês são evidentes e acho realmente que este é um daqueles casos de dar tempo ao tempo. Quem sabe, não está aqui um diamante em bruto que precisa só de ser polido com uma mãozinha finlandesa experiente?

Passando agora à Haas, que muita gente tinha dado como morta e enterrada. E sim, seria normal pensar isso. É que os últimos anos não foram nada simpáticos com única equipa americana da grelha. Primeiro, o insucesso desportivo é algo insustentável a longo prazo. Segundo, Mazepin não foi um piloto fácil de lidar, mas trouxe dinheiro à equipa. Terceiro, esse dinheiro foi embora quando Mazepin foi despedido. Guenther Steiner deve ter passado muitas noites em claro a pensar o que poderia fazer, mas o universo achou que já tinha batido o suficiente na Haas e que estava na altura de dar uma folga. E que melhor maneira de a aproveitar do que colocar dois pilotos na Q3 no GP de Espanha? (Aqui, ignoremos os dois DNF no Mónaco) Que melhor maneira de aproveitar do que constantemente arrecadar um ou outro pontinho? É que esses, se fazem muita diferença no topo da tabela, fazem ainda mais no fundo, onde um ponto pode significar muitos milhões e a sobrevivência de uma equipa. E sejamos honestos. Todos nós rimos da Haas, mas agora não. Agora apoiamos. Agora gostamos de ver Mick Schumacher e Kevin Magnussen nos pontos. Agora estamos do lado deles. Simplesmente nunca estivemos ao lado do Mazepin.

Para terminar, falta apenas falarmos da AlphaTauri e do “El Plan”. Alpine! Desculpem. Força do hábito. Começando pela AlphaTauri, que é para mim uma das principais decepções desta temporada. Seria de esperar que, mantendo os mesmos pilotos, a equipa B da Red Bull pudesse levar a luta à metade cimeira da tabela. Se considerarmos também a forma em que a própria Red Bull está, talvez possamos achar ainda mais estranho que a AlphaTauri esteja bem assente na segunda metade da classificação. Gasly não parece em forma e Tsunoda apenas nos tem dado mais do mesmo, sem qualquer evolução daquilo que vimos na temporada anterior. É mais ou menos uma equipa que está em passo de caranguejo, enquanto que os rivais decidiram andar em frente. Talvez esteja na altura de esquecer a “fashion” e focar naquilo que realmente importas nos traçados.

Já a Alpine, tem-se mostrado particularmente forte nas sessões de treinos livres. O problema é que depois disso, pouco mais há para mostrar. Alonso continua um senhor em quase tudo aquilo que faz na pista, mas o carro parece não chegar, ou não responder à genialidade do bicampeão mundial. Já Ocon, ora está bem, ora está mal, ora faz coisas boas, ora faz coisas péssimas, e tem andado nisto, até agora. Da mesma forma que se esperava melhor da AlphaTauri, esperava- se mais da Alpine e pelo andar da carruagem, a coisa está para demorar. Seria bonito vermos Alonso no lugar cimeiro do pódio, da mesma forma que Gasly e Ocon conseguiram nos últimos anos, mas isso requer agora muito mais do que ter apenas a Red Bull e a Mercedes de fora. E defesas como a de Alonso com Hamilton na Hungria não são para todos.