É um mero reflexo do que se transformou – ainda em manifesta fase de metamorfose – o futebol nacional: programas e mais programas televisivos (jamais chamar àquilo debates), nomeadamente nas noites de Domingo e Segunda-feira, onde não se fala, não se discute de forma cívica o que se assiste no fim-de-semana futebolístico. Programas em que os convidados se atropelam uns aos outros, sem respeito algum pelo telespectador. Parecem, e agora que se aproxima a chegada do famigerado e controverso Valentim, casais de namorados que mantêm relações desavindas há largos anos, sem um possível entendimento à vista. Dou por mim a desejar, pasme-se, cambiar o canal televisivo para um reality show daqueles em que os concorrentes afirmam que a Islândia fica na América do Sul, que a Hungria faz fronteira com o Panamá ou que Salgueiro Maia terá sido um saxofonista da Filarmónica de São Brás de Alportel.

Entre advogados, políticos, ex-presidentes de autarquias, ex-atletas do Benfica, FC Porto, Sporting e… Damaiense, assumem o papel de adolescentes embirrantes, reflectindo – e alimentado — o estado a que o futebol português chegou, com “teias” que atingem todos dentro, e até fora, dele, onde qualquer um procura amealhar o que conseguir com transferências e negócios dúbios, e de toda uma ganância atroz e perversa à qual a nossa débil classe política, também ela muito alicerçada ao negócio “da bola” do advento do século XXI, finge estar cega, quando, esperamos, que, um dia, tenha a essencial audácia para tomar medidas que possam voltar a levar famílias, a namorada, a amante, a amiga da amante, às bancadas dos estádios que, numa Sexta ou numa Segunda-feira à noite, num jogo “pequeno” (Desportivo das Aves vs. Portimonense, Moreirense vs. Belenenses, por exemplo) não contarão com mais de um milhar de almas perdidas num vazio de betão.

O meu Beira-Mar, um histórico inequívoco, é um dos muitos casos que se viu vitimizado por esta vaga do futebol avarento e parco em valores. Farense, Salgueiros e União de Leiria são outros exemplos. O Famalicão por lá passou, tal como o Tirsense, que ainda por lá anda. A própria Académica de Coimbra, fulcral na democratização do país, através da “Crise de 1969”, também se encontra, apesar de algumas diferenças, na “corda bamba”. Adiante.

Voltando à TV: e aqueles directos televisivos de jogos em que quatro ou cinco indivíduos assistem e comentam uma partida que está a decorrer, sem que o telespectador a consiga observar? No mínimo patético. Torna-se hilariante (e confrangedor) ficar a apreciar o semblante de emoções de cada um dos rapazes durante duas horas. É por estas e por outras que continuo um adepto incondicional do relato radiofónico. Uma verdadeira arte!

Fora tudo isso, falem, conversem e debatam para que toda a gente possa compreender minimamente o parecer de cada um. Sem pieguices e sem atropelos desrespeitadores para com os telespectadores. Vá, já têm idade para ter juízo.

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