No mês em que se comemorou o Dia do Trabalhador, revela-se de elevada importância a reflexão relativa à realidade atual do mundo do trabalho, nomeadamente das perspetivas dos jovens perante esta realidade. Se, por um lado, é verdade que o 1º de maio tem origem na luta pelos direitos dos trabalhadores e da justiça social, causa que se mantém muito atual, também é verdade que, nos dias que correm, o progresso no mundo laboral reside na necessidade da melhoria das condições laborais, numa sociedade marcada pela evolução tecnológica, pela globalização e pelo aumento das qualificações.

Por um lado, o mundo laboral em Portugal caracteriza-se por salários baixos. Além disso, de acordo com a OCDE, Portugal é o 9º país da União Europeia com a carga fiscal mais elevada. Metade dos portugueses tem salários abaixo dos 1.050 euros brutos, segundo os dados recentemente divulgados pelo INE, relativos ao ano de 2021. Refira-se também que as gerações mais novas têm sido associadas às suas altas qualificações. Esta realidade não é correspondida no que diz respeito às condições de carreira, num cenário onde a média salarial das pessoas entre os 25 e os 34 anos, no ano de 2021, era de 1.260 euros mensais.

Encontramo-nos, então, num período em que vários dos problemas do mundo laboral subsistem. Os salários baixos caracterizam, na generalidade, o panorama do mundo do trabalho e as perspetivas de progressão na carreira para os jovens evidenciam-se como limitadas. Se considerarmos ainda a quantidade de jovens altamente qualificados que, apesar de terem concluído com sucesso a sua formação, têm dificuldade em encontrar empregos que estejam à altura das suas qualificações, a realidade fica ainda mais preocupante. De acordo com o Eurostat, a taxa de emprego dos recém-licenciados em Portugal é de apenas 75,6%: uma das taxas mais baixas da União Europeia.

As remunerações dos licenciados portugueses têm vindo a diminuir substancialmente ao longo da última década. Estudos do ano passado indicam que entre 2011 e 2019 se verificou um decréscimo de 11% nos salários dos trabalhadores portugueses com habilitações de ensino superior. Como se isto não fosse suficiente, acresce ainda o facto de que os portugueses trabalham, em média, mais horas do que os restantes europeus, tendo, porém, níveis de produtividade baixos.

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Face ao exposto, percebe-se que algo tem de ser feito. A necessidade da definição duma política de emprego atual e atualizada impera. A diminuição da carga fiscal, a redução da carga de horário laboral semanal e o aumento dos salários, e a estimulação de medidas como o IRS Jovem são medidas a adotar para uma política de emprego do século XXI.

Importa também pensar o Ensino Superior nesta realidade. Numa época em que muitos estudantes trabalham para conseguir sustentar os seus percursos formativos, têm de se promover as condições para que os estudantes-trabalhadores não saiam prejudicados. Assim, urge a revisão do estatuto do estudante-trabalhador, para que este não se veja impossibilitado de receber bolsa de ação social em detrimento do trabalho, que muitas vezes exerce precisamente para conseguir assegurar a sua manutenção no ensino superior.

Este é um país que conta com a sua geração mais qualificada de sempre, mas que a condiciona com as suas condições laborais precárias. Este é um país que tem de se atualizar para se enquadrar devidamente no panorama europeu em matérias de políticas de emprego e trabalho.