“Só existem dois dias no ano em que nada pode ser feito. Um chama-se ontem e o outro chama-se amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver”.
Dalai Lama

Recentemente a Força Aérea homenageou dois brilhantes Chefes Militares, bons combatentes e bons aviadores. Estou a falar dos Generais Lemos Ferreira e Brochado Miranda. A homenagem foi mais que justa e o PR quis associar-se à segunda homenagem condecorando o oficial em causa com a Grã Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada.

Sendo a ideia boa (e apoiada com “laudes”), justa e adequada, a sua execução poderia ter outros contornos que a tornariam, melhor, mais justa e mais adequada. É sobre este ponto que me proponho elaborar e tal é válido tanto para a Força Aérea como para o Exército, a Armada e as Forças de Segurança.

Sendo a homenagem de um Ramo a um dos seus ilustres que se destacam no cumprimento do Dever Militar faz todo o sentido que a homenagem seja o mais abrangente possível e o critério dos convites não fique, por exemplo, dependente da capacidade de uma sala. Ora fazer uma homenagem – que é a homenagem de uma vida – e circunscrevê-la a um convite aos oficiais generais, alguns amigos, representações dos sargentos e civis, parece ser curto. Curto e desaconselhável. E com os meios de comunicação existentes hoje em dia é possível chegar a toda a gente e num tempo recorde.

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Os oficiais generais não são os “donos” da Instituição Militar (IM). Esta é representada pelos chefes militares mas a IM é feita por todos os que nela Servem (não trabalham), sem soluções de continuidade, numa roda de evolução e num cadinho de integração que no caso português tem séculos de existência. A IM pertence à Nação, é um elemento fundamental do Estado e nela ninguém está ao serviço de ninguém: estão todos ao serviço. Esse serviço é nacional e é consubstanciado nas missões atribuídas e no Dever Militar. Aos oficiais generais ninguém lhes tira a importância, pois esta é-lhes conferida pela autoridade correspondente ao posto e pela precedência em todos os actos de serviço.

A outra face da “moeda” encontra-se na responsabilidade acrescida que lhe advém por inerência – e que tem que ser aceite com as consequências que tal acarreta – e na importância do exemplo que dão. Ora não faz sentido algum (nem há uma simples razão que o possa contrariar), que na citada homenagem não possam participar todos os elementos da grande família militar que queiram estar presentes, sobretudo aqueles que possam ter privado e, ou servido, com o homenageado e desse modo prestar-lhe os seus respeitos. E, por outro lado, faz todo o sentido que a homenagem sirva para quem não conheceu, ou conheceu mal, a figura em destaque, possa vir a obter tal informação de um modo impressivo.

Uma homenagem alargada ainda se justifica por duas outras razões que têm a ver com a desmoralização existente no seio da Instituição Militar (não estou a falar só do pessoal que está no activo) e no estado de coma final (induzido) em que as Forças Armadas foram postas (e se deixaram pôr), relativamente a todos os aspectos da sua existência. E serviria ainda para “amenizar” um pouco o completo ostracismo a que a Instituição Militar foi votada pela classe política e pela maioria dos órgãos de comunicação social, apesar de algum esforço em contrário efectuado pelo actual Presidente da República, mas que não tem surtido efeito.

Não deixa de ser ironicamente triste que, numa recente entrevista ao Semanário “Expresso”, o próprio General Ramalho Eanes ter afirmado que as “Forças Armadas foram colocadas num gueto”! (a exclamação é nossa). [1]

Uma cerimónia deste âmbito deve ser feita em parada (hangar para o caso de meteorologia desfavorável), com formatura de tropas – que diabo a Instituição ainda se chama “militar” – com a presença de aviões (os homenageados são pilotos aviadores) – não venham cá com desculpas das restrições orçamentais – e cheiro a JP4 [2]. Depois, e a tudo isto, podem acoplar-se mil e uma ideias em função da pessoa em causa.

Não estamos em época de desperdiçar qualquer oportunidade de elevar o múnus militar e minorar as atribulações castrenses. [3] Quem faz mal, faz bem. E não custa nada.

Oficial Piloto Aviador

[1] Revista do Jornal “Expresso”, de 3 de Fevereiro de 2018.
[2] Combustível utilizado nos aviões a jacto.
[3] E já vai sendo tempo de pôr de lado a “desculpa” cretina, de que não se pode fazer determinada coisa, só porque a ideia saíu a público!