A Imunologia é a ciência que estuda o sistema imunitário dos seres vivos, incluindo a sua capacidade de responder a patogénios – que são organismos que podem produzir doença. Recordamo-nos de imediato dos agentes infeciosos, dos vírus às bactérias, dos fungos aos parasitas. Ou seja, todos sabemos que é o sistema imunológico, com os seus braços inatos e adquiridos, que nos defende das doenças infeciosas, aprendendo com as múltiplas experiências que vai tendo.

Mas é também com este nosso compartimento especializado que combatemos imensas doenças cancerosas, eliminando-as ainda antes de sabermos que delas sofremos. Todos os dias. Ao longo da nossa vida.

Este é, igualmente, um sistema em que a cooperação, a troca de informação, a proximidade entre células e mediadores, são a regra. E que tem capacidade de aprendizagem, de ser estimulado e de se tornar ainda mais competente, nomeadamente quando recebemos vacinas.

E tem memória, de curta ou de longa duração. Ainda bem que assim é.

Estamos a viver uma pandemia relacionada com um coronavírus. Aprendemos muito sobre a relação do SARS-CoV-2 com a nossa imunidade. Inovou-se imenso quando se conseguiram desenvolver vacinas que estimulam as nossas defesas de uma nova maneira.

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Compreendeu-se a nível global a importância do sistema imunitário, tornando-se vulgar discutir a importância da “imunidade de grupo” e aprofundou-se o conhecimento do significado de ter uma imunidade “saudável”.

E se falamos de imunidade, temos de ter consciência das suas virtudes, mas também dos seus defeitos. Dos seus desvios. Um excesso de resposta traduz-se em doenças alérgicas; uma falta de capacidade pode traduzir-se numa imunodeficiência congénita ou adquirida; o virar-se contra nós pode levar ao aparecimento de doenças autoimunes. São estas situações clínicas que têm de ser corretamente diagnosticadas e tratadas com acompanhamento médico, permitindo fazer a sua correta gestão.

Asma, artrite reumatoide, ataxia-telangiectasia, anemia autoimune, rinite alérgica, lúpus eritematoso sistémico, deficit de IgA, anafilaxia… tantas doenças de que sofremos ou que conhecemos e que se relacionam com alterações da nossa imunidade. Todas, no seu conjunto, afetam uma percentagem muito alta da população.

Importa realçar que o impacto que estas doenças têm na vida de cada um também é reflexo da gestão que se faz da doença: se tratada e vigiada, a qualidade de vida é recuperada.

Mas, se ignoradas ou mal cuidadas, como temos assistido frequentemente nestes últimos meses, devido ao receio que algumas pessoas ainda têm de ir ao hospital – o que não se justifica, uma vez que as unidades de saúde têm em curso adequada medidas de segurança – então, aí, o adiar do diagnóstico e do tratamento tem consequências na deterioração da saúde e do bem-estar.

A ciência tem avançado imenso. Mas as doenças também. E se aprendemos a tratar com novas metodologias e respostas, importa saber que o sistema imunitário tem de ser cuidado. Respeitado, protegido, acarinhado.

Os programas de vacinação anti-infeciosa a nível global, nacional, comunitário, na nossa família, tiveram um impacto tremendo. Aumentou-se a esperança de vida da população. Muitas assimetrias entre países, mais e menos desenvolvidos, relacionam-se com taxas de vacinação de maior ou menor cobertura. É, assim, fácil compreender que atacar planos de vacinação é não só irracional, mas também imoral.

Precisamos de ter consciência da importância da ação individual na proteção da “nossa imunidade”. Hábitos alimentares, concretizados, por exemplo, numa dieta mediterrânica, exercício regular, repouso adequado e manutenção das rotinas de saúde (como exames, consultas e tratamentos), são apenas alguns dos múltiplos fatores que nos podem ajudar muito a sermos imunocompetentes. E, assim, mais saudáveis.