Nos 50 anos da democracia, o povo esteve à altura.
“A democracia não é um sistema feito para garantir que os melhores sejam eleitos, mas sim para impedir que os maus fiquem para sempre.” (Margaret Thatcher)
E o povo respondeu aos 8 anos de governação socialista, sobretudo aos 2 anos completamente pantanosos da maioria absoluta: foi mau, rua! Como um jogador de futebol que após uns jogos mal conseguidos precisa de banco, o PS vai e precisa – para a necessária autocrítica – de ir para a Oposição.
“Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão.” (Eça de Queiroz)
Mais uma vez o povo foi sábio: mudou e a AD ganhou. Esta mudança é salutar. A alternância é saudável mais que não seja para cortar amarras e vícios instalados no poder sempre que um partido lá fica por demasiado tempo (a ocasião é que faz o ladrão)… É a democracia a tomar banho, a funcionar.
“Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até à morte o direito de você dizê-las.” (Voltaire)
Antes era meia dúzia de malucos (e fascistas, racistas, machistas, etc.). Depois era um grupo, perigoso porque já razoável, de malucos.
Ora o Chega quadruplicou a representação. Mais de um milhão de votantes. São todos malucos? Burros? Asquerosos?
Leituras pode-as haver muitas, mas uma lição do povo é incontornável: em democracia as coisas discutem-se, não se censuram, não se escondem… Da imigração à corrupção, das penas criminais aos impostos ou aos subsídios, as posições do Chega são legítimas – a partir do momento em que é o Tribunal Constitucional que o avalizou e… aprovou – e, discutíveis.
Quem se atreve a excluir tão grande fatia do eleitorado? Linhas vermelhas ou respeito pela democracia?
Por enquanto não sabemos. Sabemos que a ingovernabilidade pode-se instalar, porque a geometria nem sequer permite exigir uma abstenção responsável ao partido de André Ventura, uma vez que a somas das esquerdas ultrapassa AD+IL. A única hipótese que Montenegro tem, rejeitando o PS um bloco central (vão ser líderes da oposição, dizem) para governar é mesmo com o aval do Chega. Que naturalmente defenderá as suas (de mais de um milhão de portugueses) ambições.
E agora?
Podia o Presidente da República que mais falou de estabilidade mas que foi o campeão das confusões ser o adulto na sala?
Poder podia, mas sendo quem é – e vimo-lo mal abriu a boca – não contem com isso…
Teremos ao fim de 50 anos maturidade democrática (e fazer como noutros países nossos parceiros)?
Ou ficamos entregues às birrinhas de crianças, que sem saberem estar à altura do povo que neles confiou, darão razão a Júlio César dois mil anos depois?
“Há nos confins da Ibéria um povo que nem se governa nem se deixa governar.”