Podem não acreditar mas, num tempo recente, e que se viveu antes da internet e das redes sociais, o mundo era grande; quando se viajava, íamos sempre à descoberta. A não ser que se tivesse o privilégio de termos na família alguém que assinasse alguma revista, como National Geographic (em inglês), aceder a informação de locais distantes e exóticos era muito difícil. De vez em quando aproximávamo-nos um pouco desse mundo distante, sempre que algum amigo nos dizia que um familiar que tinha andado por esses sítios distantes promovia uma tarde de convívio onde, após um ligeiro lanche, com sandes de fiambre ou queijo, barradas com um pouco da recém chegada Planta e, a acompanhar, uma Fanta, Tombazana, Vimto ou Coca-cola (sim, em Moçambique onde eu nasci, sempre a houve) éramos então presenteados com sessões de fotos, slides e pequenos filmes de 8mm de curta duração. Era uma festa, uma alegria, um espanto!
Espantada também ficou a família Mexicana, pai, mãe, três raparigas e dois rapazes, que me calharam como vizinhos, no avião que nos levaria a Portugal. Eles, crentes, católicos, faziam a viagem das suas vidas: iam em peregrinação a Fátima. Eu, fazia uma das inúmeras e rotineiras viagens que me tinham levado em trabalho para o Oriente. O aeroporto de Zurique foi onde nos encontrámos. Durante o bom par de horas que tivemos que esperar por escala, mais duas por atraso do avião da TAP que nos calhara em sorte, o pai mexicano tentou várias vezes meter conversa. Fiz-me de esquisito, não lhe dei bola. Não estava com pachorra, estava cansado e, porque não?, aborrecido com o atraso. Não seria um bom falador. Evitei-o. Dentro do avião foi como que tivesse caído numa armadilha. Sentado no meu lugar, à janela, tive como companhia, à esquerda, o pai mexicano, a mãe e um dos rapazes. À frente, ficou o outro rapaz e as três irmãs. Assim que me ouviram falar português com a hospedeira, perguntaram-me por Fátima, como era em Fátima? Quatro cabeças à frente a olhar para mim; três cabeças ao meu lado esquerdo a olhar para mim. Sorriam. Não tive pena deles e disse-lhes que nunca tinha ido a Fátima. O pai mexicano levantou-se, olhou para mim e ralhou-me: tu não és português! Seja, haja descanso!, pensei eu.